13/08/2024

Com Embrapa e Proálcool Delfim alavancou o protagonismo do agro brasileiro

 Com Embrapa e Proálcool Delfim alavancou o protagonismo do agro brasileiro

Delfim Netto - Foto Reprodução

Por Ronaldo Knack

 

No final de uma tarde de 2008, contatei o assessor de imprensa do ex-ministro Delfim Netto para acertar detalhes de uma entrevista exclusiva que ele daria para o nosso TV BrasilAgro. Ajustamos que a entrevista seria concedida por ele em seu escritório no Pacaembu em São Paulo (numa esquina em frente ao estádio) na manhã seguinte e, o assessor meio constrangido, me consultou se poderia ser cedo.

 

Respondi que sim, até porque, meus deveres de ofício me fazem iniciar minha jornada de trabalho a partir das 2h da manhã. “Pode ser às 5h?”, indagou. “Pode sim, posso chegar aí logo depois das 4h para ajustarmos nosso equipamento”. “Fechado, esperamos você e sua equipe para às 4h então”, combinamos.

 

Quando chegamos no horário combinado, um cheiro gostoso tomava conta do sobrado onde já havia uma equipe de assessores e colaboradores trabalhando. Quando entrei no gabinete do ex-ministro e fui cumprimentá-lo, ao se levantar fiquei surpreso com a sua baixa estatura e animado com suas primeiras palavras: “Obrigado por estar aqui tão cedo. Você honra o setor que escolheu na sua profissão de jornalista, porque os produtores rurais sempre acordam cedo”.

 

Durante nossa conversa inicial, regada por um excelente cafezinho, Delfim Netto explicou que começava seu trabalho também às 2h pois era consultor de empresas e bancos e as bolsas asiáticas fechavam às 3h. Dificilmente me preocupava em redigir uma pauta nas entrevistas que faço, e no caso desta, não foi diferente. Lancei uma só pergunta: “Professor, o que o levou a apoiar a criação da Embrapa em 1973 e do Proálcool em 1975?”

 

Nos próximos 45 minutos ele falou sobre a importância dos investimentos que os produtores rurais vinham fazendo e vislumbrou o protagonismo que o agro começava a alcançar no mercado global. Não o interrompi em nenhum momento, até porque estava diante daquela que foi o “czar” da economia durante o período militar, professor emérito da FEA/USP e detentor de 5 mandatos como deputado federal.

 

Em minhas palestras, principalmente para estudantes universitários, relato esta experiência após a pergunta que me fazem sobre “qual foi o seu principal entrevistado nesta sua carreira de 55 anos como jornalista”. No início, constrangido, respondia: “Delfim Netto...”, com receio de ser vaiado. Mas, ao contrário do que imaginava, Delfim Netto sempre foi muito respeitado pelo que pensava e, principalmente fazia e, surpreendentemente ganhava palmas pela minha citação.

 

Em 2008, tive a oportunidade de entrevistar também para o TV BrasilAgro em Brasília o então ministro Miguel Jorge, que ocupava no governo Lula o Ministério do Desenvolvimento da Indústria e do Comércio – MDIC. Durante a entrevista o provoquei perguntado se era verdade que a sua indicação a Lula tinha partido de Delfim Netto. Com um largo sorriso, o ministro que também era jornalista e ocupou durante muitos anos o cargo de editor do O Estado de S.Paulo, confirmou.

 

Entrevistei outras vezes Delfim Netto, que sempre me impressionava pela sua cultura, inteligência e, principalmente, rapidez de um raciocínio claro e muitas quase sempre ferino ao se referir aos seus algozes, principalmente os esquerdopatas. Ele sempre se divertia com as críticas que recebia. Em seu gabinete de trabalho as paredes estavam recheadas de charges publicadas em sua trajetória profissional e política.

 

A mídia nesta gelada manhã de agosto de 2024, destaca esta versatilidade de Delfim Netto de ter se destacado como ministro da chamada “ditadura militar” e consultor influente dos governos de Lula e Dilma do PT. Talvez, se o ouvissem mais e compreendessem suas lições, Dilma não teria sido cassada como “presidenta” e Lula mão se meteria nos escândalos de corrupção que marcaram e ainda marcam seus mandatos (Ronaldo Knack é jornalista e bacharel em Direito e Administração de Empresas. Também é fundador e editor do BrasilAgro (www.brasilagro.com.br); 13/8/24)