31/01/2019

Grupo de empresas brasileiras com grau de investimento pode encolher mais

 Grupo de empresas brasileiras com grau de investimento pode encolher mais

 

Investidores que buscam títulos corporativos com grau de investimento no Brasil — que perdeu o selo em 2015 — podem, em breve, ser privados de uma das poucas opções disponíveis.

A Vale corre o risco de ter o seu rating rebaixado para “junk” após o rompimento da barragem em Brumadinho na sexta-feira. As três maiores empresas de classificação de risco fizeram alertas em relação à qualidade de crédito da mineradora, seja rebaixando a classificação para o nível mais baixo da escala de grau de investimento ou alertando que cortes podem ocorrer. Se a Vale for rebaixada, o Brasil ficaria com apenas seis empresas classificadas com o grau de investimento, menos da metade do número de companhias que tinham o selo apenas três anos atrás.

 

A Vale foi uma das poucas empresas que conseguiram evitar a perda do grau de investimento nos últimos anos, após o rating soberano ter sido cortado diversas vezes em meio ao crescimento da dívida pública, uma economia em recessão e um ambiente político atribulado. Apesar disso, o rompimento da segunda barragem em pouco mais de três anos levou os títulos da cia. a níveis similares aos das empresas classificadas como “junk”.

A Fitch Ratings cortou a classificação da empresa brasileira em dois níveis e disse que pode haver mais por vir, enquanto a S&P Global Ratings e a Moody’s Investors Service alertaram que poderiam fazer o mesmo em breve.

“Com isso, fundos que querem ter exposição a Brasil precisam buscar nomes de menor qualidade com a esperança de elevação dos ratings em algum momento”, disse Ray Zucaro, diretor de investimentos da RVX Asset Management em Miami.

O corte do rating da Vale provavelmente se refletiria em outros ativos, segundo o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas. Não é apenas o crédito da Vale que se tornará mais caro, mas também o crédito do Brasil e o crédito para todas as empresas do Brasil, disse ele em uma entrevista em São Paulo.

Os ativos brasileiros têm sido impulsionados pela esperança de que o governo do presidente Jair Bolsonaro consiga aprovar a reforma da Previdência, além de privatizar as estatais a fim de reduzir o déficit orçamentário e reduzir o tamanho do Estado. As iniciativas são consideradas fundamentais pelas empresas de classificação para levar o país de volta ao status de grau de investimento.

Títulos em dólar emitidos pelo governo e empresas atualmente são negociados com um yield médio de 5,5%, inferior à média dos emissores de alto risco de outros mercados emergentes, que está em 7,8%, segundo os índices da Bloomberg Barclays. Emissores com grau de investimento nos países em desenvolvimento pagam um yield médio de 4,4%. A Suzano, uma das poucas com selo de alta qualidade, reabriu uma emissão de bônus de dez anos na terça-feira pagando um yield de 5,465%, menor do que o pago quando vendeu originalmente as notas em setembro.

Enquanto a maioria das empresas que perderam seu status de grau de investimento nos últimos anos foi arrastada pelo risco soberano, algumas tiveram seus problemas específicos. O caso mais emblemático é o da Odebrecht Engenharia e Construção, que se viu no centro da Lava Jato, o que secou os projetos da companhia e levou a empresa a ser rebaixada para o nível mais baixo possível depois de não cumprir o pagamento de alguns de seus títulos de dívida (Bloomberg, 30/1/19)