06/01/2020

2020 será ano decisivo para o clima

2020 será ano decisivo para o clima

Legenda: Desistência do carvão é um dos objetivos a ser implementados pela Alemanha

 

Decisões importantes para proteção climática do planeta vêm sendo sempre adiadas. A partir do próximo ano isso não será possível: entra em vigor o Acordo de Paris.

"O próximo ano é realmente crucial!" Isso já foi dito diversas vezes, em relação ao delicado tema da proteção climática. Como, por exemplo, em 2009, antes da conferência da ONU sobre o clima em Copenhague, na qual deveria ser acordado um grande tratado internacional por todos os 190 Estados-membros.

Foi um fracasso total, os países se brigaram feio e acabaram sem acordo. O mesmo aconteceu em 2015, mas desta vez o que não teve êxito seis anos antes acabou sendo bem-sucedido: um novo acordo climático foi assinado em Paris, com objetivos climáticos próprios por parte de todos os países, com promessas financeiras – e com grande otimismo.

Mas o acordo não foi elaborado em detalhes, e é exatamente por isso que 2020 será um ano crucial para a redução de gases de efeito estufa – novamente. A próxima conferência climática será realizada em Glasgow, Escócia, no fim de 2020, devendo finalmente ratificar todos os detalhes importantes do Acordo de Paris, acordados de forma vaga em 2015.

Legenda: Também devido à resistência brasileira, a COP25 só alcançou um compromisso magro

 Jochen Flasbarth, secretário adjunto no Ministério do Meio Ambiente da Alemanha, afirmou à DW que "2020 será um ano fundamental para a proteção do clima: pela primeira vez, os signatários do Acordo Climático de Paris devem revisar suas metas nacionais de proteção climática e ampliá-las o máximo possível".

Será bem difícil isso acontecer. Cerca de 80 nações já anunciaram a intenção de agir nesse, mas entre eles não constam os grandes emissores de gases de efeito estufa. Recentemente – também devido à disputa sobre metas climáticas mais ambiciosas para todos os países – a conferência climática da ONU em Madri (COP25) esteve prestes a fracassar, e por fim redundou apenas num consenso magro e sem importância.

No próximo ano, contudo, todos os países têm que cumprir sua parte para que se alcance um Acordo de Paris realmente eficaz. Suas atuais promessas climáticas não atingirão o objetivo de limitar o aumento da temperatura da Terra a 2° Celsius, em relação aos níveis pré-industriais. Os especialistas estimam que, se as metas não forem ampliadas, o aquecimento do planeta ultrapassará os 3°C.

Europa precisa dar exemplo

Nesse contexto, todos os olhos se voltam para a Europa, incluindo a Alemanha, especialmente desde que os Estados Unidos anunciaram que deixariam o Acordo Climático de Paris de uma vez por todas. A nova presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, declarou a proteção do clima uma de suas principais metas.

Num primeiro passo, ela conseguiu com que os chefes de Estado e governo concordassem com o objetivo de alcançar neutralidade climática na União Europeia até 2050: ou seja, emitir somente uma quantidade de gases-estufa que possa ser compensada em outros lugares.

Para tal é preciso elevar a meta de redução de emissões de gases poluentes até 2030, atualmente de 40%. Von der Leyen planeja aumentar essa cifra para 50% a 55%. Nesse contexto, o principal é quebrar a resistência de países carboníferos do Leste Europeu: Hungria, Polônia e República Tcheca.

Sobre isso, Jochen Flasbarth frisa: "Teremos que utilizar todas as nossas oportunidades diplomáticas para obter os melhores benefícios internacionais dessa constelação em prol da proteção do clima."

Só se a Europa conseguir cumprir suas metas, os principais países emergentes e em desenvolvimento a seguirão. Christoph Bals, especialista em clima da organização ambiental WWF, também compartilha essa opinião: "Estamos num momento de virada. Se agora conseguirmos implementar com seriedade o 'Acordo Verde' europeu, será que obteremos parcerias com importantes países emergentes como Índia, China, África do Sul, mas também com a Rússia, por exemplo, para impor este pacto?"

Pressão da Greve pelo Futuro

Uma coisa já é certa: o movimento juvenil Greve pelo Futuro, com sua figura de proa, a estudante sueca Greta Thunberg, aumentará ainda mais a pressão sobre os países, para que finalmente levem a sério a proteção do clima.

A jovem ativista acaba de ser eleita Pessoa do Ano pela revista Time. Lisa Badum, deputada federal alemã pelo Partido Verde, continua a confiar no movimento estudantil de greve em 2020: "Tivemos 27 milhões nas ruas em 2019. Agora é preciso que isso implique ação política. A UE tem que dar o exemplo, a China está esperando por nós, ela também vai elevar suas metas."

Na recente conferência de Madri, Pequim não anunciou objetivos mais elevados de proteção climática, embora seja o maior emissor mundial de gases de efeito estufa. Por isso uma boa cooperação entre a Europa e a China será importante em 2020. Na segunda metade do ano, quando a Alemanha assumir a presidência rotativa do Conselho da UE, a proteção do clima deverá ser foco de uma cúpula UE-China, a ser realizada em Leipzig.

Badum diz confiar que a Alemanha voltará a assumir um papel pioneiro na proteção do clima dentro da UE, mesmo que esteja longe de cumprir suas próprias metas climáticas para 2020: "Não precisamos salvar o mundo sozinhos, Alemanha e Europa. Existem outros países dispostos, mas esperando por um sinal nosso. Temos a expertise, os instrumentos, a tradição de uma política climática democrática."

Na própria Alemanha, espera-se que o governo tome novas medidas em seu pacote climático, principalmente o controversa abandono da geração de eletricidade a carvão até 2038. Os críticos exigem uma data muito mais próxima. Consta que em janeiro os ministérios responsáveis em Berlim pretendem apresentar um projeto de lei nesse sentido (DW, 26/12/19)