6 momentos do discurso de Bolsonaro na ONU
BOLSONARO ABERTURA DA ONU Foto EPA
O presidente Jair Bolsonaro (PL) discursou na sessão de abertura dos debates da 77ª Assembleia Geral da ONU em Nova York na manhã da terça-feira (20/09) e usou seu tempo para fazer uma defesa de seu governo — além de tecer críticas ao principal adversário que enfrentará nas urnas em outubro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A duas semanas das eleições presidenciais, Bolsonaro disse que o Brasil teve sucesso no combate à pandemia de covid-19 e destacou a vacinação (sobre a qual havia lançado dúvidas em 2020 e 2021), disse que a pobreza aumentou no mundo todo por causa da pandemia, afirmou que o país teve sucesso na proteção do meio ambiente e elogiou o agronegócio.
O presidente também pediu o fim da guerra na Ucrânia, mas criticou as sanções à Rússia e disse que a paz deve ser alcançada exclusivamente pelo diálogo.
Bolsonaro também falou sobre defesa das mulheres e citou a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, a quem tem dado grande destaque em sua campanha eleitoral para tentar atrair o voto feminino — uma das fatias do eleitorado onde o presidente tem obtido resultados desfavoráveis nas pesquisas.
Por tradição, desde 1955 o chefe da delegação do Brasil é sempre o primeiro governante a discursar na sessão de debates da Assembleia Geral. Neste ano, o Brasil chega ao evento com uma dívida junto à ONU de US$ 306 milhões, o equivalente a R$ 1,5 bilhão.
Líderes de 193 países se reúnem na Assembleia Geral nesta semana. É a primeira reunião em grande escala de líderes globais desde que a Rússia invadiu a Ucrânia — assunto que deve dominar o encontro.
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, vai participar por vídeo. O presidente da Rússia, Vladimir Putin, não compareceu ao evento — enviou em seu lugar o chanceler Serguei Lavrov, que foi embaixador russo na ONU por dez anos.
Esta foi a quarta vez que Bolsonaro discursou na Assembleia Geral.
Em 2019, seu primeiro ano de governo, o discurso do presidente foi marcado por defesa da soberania do Brasil em um momento em que enfrentava críticas internas e externas por causa do desmatamento da Amazônia.
No ano seguinte, em que o mundo enfrentava o primeiro ano da pandemia de covid-19, Bolsonaro participou à distância e disse que o país enfrentava uma "campanha de desinformação" sobre a destruição da floresta. Em 2021, defendeu o "tratamento precoce", sem comprovação científica, contra a doença.
Neste ano, Bolsonaro levou seu filho Eduardo Bolsonaro, o chanceler Carlos França, a primeira-dama Michelle Bolsonaro, o embaixador do Brasil na ONU Ronaldo Costa e os ministros Ciro Nogueira e Fábio Faria para acompanhá-lo na tribuna do Brasil. Sem cargo no governo, o pastor Silas Malafaia também foi a Nova York com a comitiva presidencial, mas não participou da abertura.
Legenda: Por tradição, o líder brasileiro é o primeiro governante a discursar na sessão de debates da Assembleia Geral desde 1955. Foto Johannes Eisele/AFP via Getty Images
Defesa da economia
Bolsonaro usou boa parte do seu tempo para dizer que a economia do Brasil está indo bem, destacando indicadores positivos no campo econômico e culpando a pandemia pela crise.
"A pobreza aumentou em todo o mundo sob o impacto da pandemia", disse ele. "E no Brasil ela já começou a cair."
Destacou indicadores positivos sobre inflação, por exemplo, citando a deflação registrada em julho e agosto — o Brasil teve forte alta nos preços no acumulado de 6 meses e no acumulado de 12 meses, mas houve retração nos índices nos meses citados principalmente pela queda no preço dos combustíveis.
Bolsonaro também destacou a queda no preço da gasolina e afirmou que a atuação do governo não foi uma "intervenção estatal".
"Foi resultado de uma política de racionalização de impostos formulada e implementada com o apoio do Congresso Nacional", disse o presidente.
A meses da eleição, o governo fez uma forte campanha para a aprovação de uma redução do ICMS que permitisse a queda no preço dos combustíveis fósseis.
Recado a Lula e críticas à esquerda
Candidato à reeleição, Bolsonaro usou o lugar de destaque na Assembleia Geral da ONU para fazer críticas ao seu principal adversário, o ex-presidente Lula, mas sem citá-lo nominalmente.
Afirmou que seu governo "extirpou a corrupção sistêmica que existia no país" e o fato de que o Brasil caiu em ranking de combate à corrupção em 2021 — apesar de acusações e investigações envolvendo ele próprio e seus filhos .
Também culpou a esquerda e o ex-presidente Lula pelo endividamento da Petrobras, e disse que o "responsável por isso foi condenado em três instâncias por unanimidade".
O ex-presidente Lula na verdade teve todas as condenações anuladas pois a Justiça entendeu que ele não teve um julgamento justo devido à parcialidade do então juiz Sergio Moro.
Em outra crítica à esquerda, Bolsonaro disse que o Brasil "abre as portas para os padres e freiras católicas que têm sofrido cruel perseguição do regime ditatorial da Nicarágua" e afirmou que o Brasil "repudia a perseguição religiosa em qualquer lugar do mundo".
O presidente também fez críticas à Venezuela, outro país em crise que costuma tomar como exemplo de governo de esquerda.
Vacinas e pandemia
Bolsonaro iniciou o discurso pintando uma imagem positiva da atuação de seu governo durante a pandemia de covid-19, na qual morreram mais de 685 mil pessoas no Brasil.
Deu destaque ao programa de vacinação, à produção nacional de vacinas e ao fato de 80% da população ter sido vacinada - durante a pandemia, no entanto, o presidente havia levantado dúvidas sobre as vacinas e não respondeu às ofertas iniciais de imunizantes feitas ao país. Também não se vacinou publicamente e impôs sigilo sobre a sua carteira de vacinação.
"Quando o Brasil se manifesta sobre a agenda da saúde pública, fazemos isso com a autoridade de um governo que, durante a pandemia da covid-19, não poupou esforços para salvar vidas e preservar empregos", afirmou Bolsonaro.
Também deu destaque ao auxílio financeiro durante a pandemia — embora o governo inicialmente desejasse um valor menor do que o que foi posteriormente aprovado pelo Congresso.
"Como tantos outros países, concentramos nossa atenção, desde a primeira hora, em garantir um auxílio financeiro emergencial aos mais necessitados."
Elogio à primeira-dama
Bolsonaro fez questão de citar em seu discurso a primeira-dama Michelle Bolsonaro, que também tem tido forte destaque em sua campanha eleitoral.
"A primeira-dama Michelle Bolsonaro trouxe novo significado ao trabalho de voluntariado desde 2019, com especial atenção aos portadores de deficiências e doenças raras", afirmou ele em parte do discurso em que falava dos direitos das mulheres.
As mulheres são a fatia do eleitorado em que Bolsonaro tem maior dificuldade de crescer nas pesquisas. Aproveitando o discurso para fazer um aceno a esse público, afirmou que tem atribuído prioridade à proteção das mulheres.
"Trabalhamos no Brasil para que tenhamos mulheres fortes e independentes, para que possam chegar aonde elas quiserem", afirmou.
Amazônia e Agronegócio
No tema do meio-ambiente, Bolsonaro repetiu as ideias que apresentou em anos anteriores, dando destaque ao fato de que a matriz energética brasileira não é dependente de recursos fósseis e comparando a cobertura vegetal do país com a de outras nações.
Também criticou a cobertura da imprensa quanto aos problemas ambientais sofridos pelos país e defendeu a exploração econômica da região.
"Em matéria de meio ambiente e desenvolvimento sustentável, o Brasil é parte da solução e referência para o mundo", disse o presidente.
"Dois terços de todo o território brasileiro permanecem com vegetação nativa. Na Amazônia brasileira, área equivalente à Europa Ocidental, mais de 80% da floresta continua intocada, ao contrário do que é divulgado pela grande mídia nacional e internacional."
Bolsonaro também deu grande destaque ao agronegócio brasileiro, dizendo que ele é nosso "orgulho nacional".
"Para o período 2022/2023, a previsão é que a produção total ultrapasse os 300 milhões de toneladas. Como afirmou a Diretora-Geral da Organização Mundial do Comércio, em recente visita que nos fez, se não fosse o agronegócio brasileiro, o planeta passaria fome, pois alimentamos mais de 1 bilhão de pessoas ao redor do mundo", disse ele.
Legenda: Bolsonaro fez discurso com olho na disputa eleitoral. Foto Reuters
Armas, aborto e 'ideologia de gênero'
Em um aceno à fatia mais ideológica e fiel de sua base de apoio, Bolsonaro falou em "defesa da família", em "direito à legítima defesa" - o armamento da população civil é uma de suas principais pautas - e criticou o direito ao aborto.
"Valores fundamentais para a sociedade brasileira, com reflexo na pauta dos direitos humanos, são a defesa da família, do direito à vida desde a concepção, à legítima defesa e o repúdio à ideologia de gênero", afirmou.
"Ideologia de gênero" é uma expressão normalmente usada por setores da direita para se referir aos direitos das pessoas LGBTQIA+.
Também deu destaque às manifestações de 7 de setembro, encerrando seu discurso com a afirmação de que "foi a maior demonstração cívica da história do nosso país, um povo que acredita em Deus, pátria, família e liberdade" (BBC Brasil, 20/9/22)
Jair Bolsonaro na ONU: Confira a íntegra do discurso
Seguindo tradição, presidente abriu os pronunciamentos de chefes de Estado na Assembleia-Geral das Nações Unidas
O presidente Jair Bolsonaro (PL) discursou na manhã desta terça-feira, 20, na abertura da Assembleia-Geral da ONU. Sem citar o nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que lidera as pesquisas de intenção de voto à Presidência, ele iniciou sua fala de pouco mais de 15 minutos destacando críticas aos governos do PT, exaltou o agronegócio e tratou o País como referência de sustentabilidade e defesa do meio ambiente. Confira a seguir a íntegra da fala do presidente divulgada pela equipe da campanha à reeleição.
“Senhor Chába Corózi, Presidente da Septuagésima Sétima Assembleia-Geral das Nações Unidas, Senhor António Guterres, Secretário-Geral das Nações Unidas, Senhoras e Senhores chefes de Estado, de governo e de delegações, Senhoras e Senhores.
Começo por cumprimentá-lo, Embaixador Chába Corózi, pela eleição para presidir esta Assembleia Geral. Esteja certo de contar com o apoio do Brasil. O tema escolhido para este Debate Geral gira em torno de um conceito que se aplica perfeitamente ao momento que vivemos: um divisor de águas.
Senhor Presidente, Nossa responsabilidade coletiva, nesta Assembleia Geral, é compreender o alcance dos desafios que compõem esse divisor de águas. E, a partir daí, construir respostas que tirem sua força dos objetivos que são comuns a todos nós.
A tarefa não é simples. Mas, a rigor, não temos alternativa. Esse esforço tem de começar no interior de cada um dos nossos países. Antes de tudo, é aquilo que realizamos no plano interno que dá a medida da autoridade com que agimos no plano internacional. Deixe-me falar da perspectiva do meu País.
Quando o Brasil se manifesta sobre a agenda da saúde pública, fazemos isso com a autoridade de um governo que, durante a pandemia da Covid-19, não poupou esforços para salvar vidas e preservar empregos.
Como tantos outros países, concentramos nossa atenção, desde a primeira hora, em garantir um auxílio financeiro emergencial aos mais necessitados. O nosso objetivo foi proteger a renda das famílias para que elas conseguissem enfrentar as dificuldades econômicas decorrentes da pandemia. Beneficiamos mais de 68 milhões de pessoas, o equivalente a 1/3 da nossa população.
Em paralelo, lançamos um amplo programa de imunização, inclusive com produção doméstica de vacinas. Somos uma nação com 210 milhões de habitantes e já temos mais de 80% da população vacinada contra a Covid-19. Todos foram vacinados de forma voluntária, respeitando a liberdade individual de cada um.
Da mesma forma, no terreno da economia, o Brasil traz a autoridade de um país que, em nome de um crescimento sustentável e inclusivo, vem implementando reformas para a atração de investimentos e melhoria das condições de vida de sua população.
No meu governo, extirpamos a corrupção sistêmica que existia no país. Somente entre o período de 2003 e 2015, onde a esquerda presidiu o Brasil, o endividamento da Petrobras por má gestão, loteamento político em e desvios chegou a casa dos US$ 170 bilhões de dólares.
O responsável por isso foi condenado em três instâncias por unanimidade. Delatores devolveram US$ 1 bilhão de dólares e pagamos para a bolsa americana outro bilhão por perdas de seus acionistas. Esse é o Brasil do passado.
Aprimoramos os serviços públicos com redução de custos e investimento em ciência e tecnologia. Hoje, por exemplo, o Brasil é o 7º país mais digitalizado do mundo: são 135 milhões de pessoas que acessam 4.900 serviços do meu governo. O Brasil foi pioneiro na implantação do 5G na América Latina.
Levamos adiante uma abrangente pauta de privatizações e concessões, com ênfase na infraestrutura. Concluímos o projeto de transposição do Rio São Francisco, levando água para o Nordeste brasileiro. Adotamos novos marcos regulatórios, como o do saneamento básico, o das ferrovias e o do gás natural. Além disso, melhoramos o ambiente de negócios, com a lei de liberdade econômica e a lei de start-ups. Como resultado, criamos oportunidades para o jovem empreender e ter empregos de qualidade.
Coroando todo esse esforço de modernização da economia brasileira, estamos avançando, a passos largos, para o ingresso do Brasil como membro pleno da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, a OCDE.
Apesar da crise mundial, o Brasil chega ao final de 2022 com uma economia em plena recuperação. Temos emprego em alta e inflação em baixa. A economia voltou a crescer. A pobreza aumentou em todo o mundo sob o impacto da pandemia. No Brasil, ela já começou a cair de forma acentuada.
Os números falam por si só. A estimativa é de que, no final de 2022, 4% das famílias brasileiras estejam vivendo abaixo da linha da pobreza extrema. Em 2019, eram 5,1%. Isso representa uma queda de mais de 20%. O Auxílio Brasil, programa de renda mínima criado pelo meu governo, durante a pandemia, que atende 20 milhões de famílias, faz pagamentos de quase US$ 4 por dia as mesmas
O desemprego caiu 5 pontos percentuais, chegando a 9,1%, taxa que não se via há 7 anos. Reduzimos a inflação, com estimativa de 6% no corrente ano. Tenho a satisfação de anunciar que tivemos deflação inédita no Brasil nos meses de julho e agosto.
Desde junho, o preço da gasolina caiu mais de 30%. Hoje, um litro no Brasil custa cerca de US$ 0,90. O preço da energia elétrica também teve uma queda de mais de 15%. Quero ressaltar que o custo da energia não caiu por causa de tabelamento de preços ou qualquer outro tipo de intervenção estatal. Foi resultado de uma política de racionalização de impostos formulada e implementada com o apoio do Congresso Nacional.
Em 2021, o Brasil foi o 4º maior destino de investimento estrangeiro direto do mundo. Nosso comércio exterior alcançou a marca histórica de 39% do PIB, mesmo diminuindo ou zerando impostos de milhares de produtos.
No plano interno, também estamos batendo recordes em três áreas: arrecadação fiscal, lucros das empresas estatais e relação entre dívida pública e PIB. Aliás, em 2021 tivemos superávit no resultado consolidado de contas públicas. O PIB brasileiro aumentou 1,2% no segundo trimestre. A projeção de crescimento para 2022 chega a 3%.
Temos a tranquilidade de quem está no bom caminho. O caminho de uma prosperidade compartilhada. Compartilhada entre os brasileiros e, mais além, compartilhada com nossos vizinhos e outros parceiros mundo afora.
É isso que vemos, por exemplo, na produção de alimentos. Há quatro décadas, o Brasil importava alimentos. Hoje, somos um dos maiores exportadores mundiais. Isso só foi possível graças a pesados investimentos em ciência e inovação, com vistas à produtividade e à sustentabilidade. Faço aqui um tributo à pessoa de Alysson Paulinelli, candidato brasileiro ao Prêmio Nobel da Paz, por seu papel na expansão da fronteira agrícola brasileira com o uso de novas tecnologias. Este ano, o País já começou a colheita da maior safra de grãos da nossa história. Estima-se pelo menos 270 milhões de toneladas. O Brasil também, em poucos anos, passará de importador a exportador de trigo.
Para o período 2022/2023, a previsão é que a produção total ultrapasse os 300 milhões de toneladas. Como afirmou a Diretora-Geral da Organização Mundial do Comércio, em recente visita que nos fez, se não fosse o agronegócio brasileiro, o planeta passaria fome, pois alimentamos mais de 1 bilhão de pessoas ao redor do mundo. O nosso agronegócio é orgulho nacional.
Senhor Presidente, quero lembrar que, também na área do desenvolvimento sustentável, o patrimônio de realizações do Brasil é fonte de credibilidade para a ação internacional do nosso País. Em matéria de meio ambiente e desenvolvimento sustentável, o Brasil é parte da solução e referência para o mundo.
Dois terços de todo o território brasileiro permanecem com vegetação nativa, que se encontra exatamente como estava quando o Brasil foi descoberto, em 1500. Na Amazônia brasileira, área equivalente à Europa Ocidental, mais de 80% da floresta continua intocada, ao contrário do que é divulgado pela grande mídia nacional e internacional.
É fundamental que, ao cuidarmos do meio ambiente, não esqueçamos das pessoas: a região amazônica abriga mais de 20 milhões de habitantes, entre eles indígenas e ribeirinhos, cuja subsistência depende de algum aproveitamento econômico da floresta. Levamos internet a mais de 11 mil escolas rurais e a mais de 500 comunidades indígenas.
O Brasil começou sua transição energética há quase meio século, em reação às crises do petróleo daquela época. Hoje, temos uma indústria de biocombustíveis moderna e sustentável. Indústria que contribui para a matriz energética mais limpa entre os países do G20.
Cerca de 84% da nossa matriz elétrica atualmente é renovável, e esse é o objetivo que muitos países desenvolvidos esperam alcançar somente depois de 2040 ou 2050.
No ano passado, o Brasil foi escolhido pelas Nações Unidas como país “campeão da transição energética”. Temos capacidade para ser um grande exportador mundial de energia limpa. Contamos com um excedente, já em construção, que pode chegar a mais de 100 Gigawatts entre biomassa, eólica terrestre e solar, além da oportunidade, ainda não explorada, de eólicas marítimas de 700 Gigawatts, com um dos menores custos de produção do mundo. Essas fontes produzirão hidrogênio verde para exportação.
Parte desta energia 100% limpa abre a possibilidade de sermos fornecedores de produtos industriais altamente competitivos, especialmente no Nordeste brasileiro, com uma das menores pegadas de carbono do mundo.
A agenda do desenvolvimento sustentável é afetada, de várias maneiras, pelas ameaças à paz e à segurança internacional. Erguemos as Nações Unidas em meio aos escombros da Segunda Guerra Mundial. O que nos motivava, naquele momento, era a determinação de evitar que se repetisse o ciclo de destruição que marcou a primeira metade do século XX. Até certo ponto, podemos dizer que fomos bem-sucedidos.
Mas, hoje, o conflito na Ucrânia serve de alerta. Uma reforma da ONU é essencial para encontrarmos a paz mundial. No caso específico do Conselho de Segurança, após 25 anos de debates, está claro que precisamos buscar soluções inovadoras. O Brasil fala desse assunto com base em uma experiência que remonta aos primórdios da ONU.
É pela décima primeira vez que ocupamos assento não permanente no Conselho. Temos buscado dar o melhor de nós para a solução pacífica e negociada dos conflitos internacionais, sempre guiados pela Carta da ONU e pelo Direito Internacional.
O Brasil também tem um longo histórico de participação em missões de paz da ONU. De Suez a Angola, do Haiti ao Líbano, sempre estivemos ao lado da manutenção da paz.
Também contribuímos para a paz ao abrirmos nossas fronteiras para aqueles que buscam uma chance de reconstruir suas vidas em nosso país. Desde 2018, mais de seis milhões de irmãos venezuelanos foram obrigados a deixar seu país. Muitos deles vieram para o Brasil.
Nossa resposta a esse desafio foi a “Operação Acolhida”, que se tornou referência internacional. Já são mais de 350 mil venezuelanos que encontraram, em território brasileiro, assistência emergencial, proteção, documentação e a possibilidade de um recomeço. Todos têm acesso ao mercado de trabalho, a serviços públicos e a benefícios sociais.
Nos últimos meses, chegam por dia ao Brasil, a pé, cerca de 600 venezuelanos, a grande maioria dos quais mulheres e crianças pesando em média 15 quilos a menos do que antes, fugindo da violência e da fome, com o apoio de dois ex-presidentes de esquerda do Brasil. A política brasileira de acolhimento humanitário vai além da Venezuela. Temos também recebido haitianos, sírios, afegãos e ucranianos.
Senhor Presidente, o conflito na Ucrânia já se estende por sete meses e gera apreensão não apenas na Europa, mas em todo o mundo. Quero, em primeiro lugar, renovar o agradecimento do Brasil aos países que ajudaram na evacuação de brasileiros que se encontravam na Ucrânia quando começou o conflito. Refiro-me especialmente à Eslováquia, Hungria, Polônia, Romênia e República Tcheca. A operação foi exitosa. Não deixamos ninguém para trás, nem mesmo seus animais de estimação.
Diante do conflito em si, o Brasil tem-se pautado pelos princípios do Direito Internacional e da Carta da ONU. Princípios que estão consagrados também em nossa Constituição. Defendemos um cessar-fogo imediato, a proteção de civis e não combatentes, a preservação de infraestrutura crítica para assistência à população e a manutenção de todos os canais de diálogo entre as partes em conflito. Esses são os primeiros passos para alcançarmos uma solução que seja duradoura e sustentável.
Temos trabalhado nessa direção. Nas Nações Unidas e em outros foros, temos tentado evitar o bloqueio dos canais de diálogo, causado pela polarização em torno do conflito. É nesse sentido que somos contra o isolamento diplomático e econômico.
As consequências do conflito já se fazem sentir nos preços mundiais de alimentos, de combustíveis e de outros insumos. Estes impactos nos colocam a todos na contramão dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Países que se apresentavam como líderes da economia de baixo carbono agora passaram a usar fontes sujas de energia. Isso configura um grave retrocesso para o meio ambiente.
Apoiamos todos os esforços para reduzir os impactos econômicos desta crise. Mas não acreditamos que o melhor caminho seja a adoção de sanções unilaterais e seletivas, contrárias ao Direito Internacional. Essas medidas têm prejudicado a retomada da economia e afetado direitos humanos de populações vulneráveis, inclusive em países da própria Europa. A solução para o conflito na Ucrânia será alcançada somente pela negociação e pelo diálogo.
Faço aqui um apelo às partes, bem como a toda a comunidade internacional: não deixem escapar nenhuma oportunidade de pôr fim ao conflito e de garantir a paz. A estabilidade, a segurança e a prosperidade da humanidade correm sério risco se o conflito continuar.
Senhor Presidente, tenho sido um defensor incondicional da liberdade de expressão. Além disso, no meu governo, o Brasil tem trabalhado para trazer o direito à liberdade de religião para o centro da agenda internacional de direitos humanos. É essencial garantir que todos tenham o direito de professar e praticar livremente sua orientação religiosa, sem discriminação. Quero aqui anunciar que o Brasil abre suas portas para acolher os padres e freiras católicos que tem sofrido cruel perseguição do regime ditatorial da Nicarágua. O Brasil repudia a perseguição religiosa em qualquer lugar do mundo.
Outros valores fundamentais para a sociedade brasileira, com reflexo na pauta dos direitos humanos, são a defesa da família, do direito à vida desde a concepção, à legítima defesa e o repúdio à ideologia de gênero. Quero também destacar aqui a prioridade que temos atribuído à proteção das mulheres. Nosso esforço em sancionar mais de 70 normas legais sobre o tema desde o início de meu governo, em 2019, é prova cabal desse compromisso.
Combatemos a violência contra as mulheres com todo o rigor. Isso é parte da nossa prioridade mais ampla de garantir segurança pública a todos os brasileiros. Os resultados aparecem em nosso governo: queda de 7,7% no número de feminicídios e diminuição do número geral de mortes por homicídio. Em 2017 eram 30 mortes por 100 mil habitantes. Agora são 19.
A violência no campo também caiu ao mesmo tempo em que aumentamos a regularização da propriedade da terra para os assentados. No meu governo, entregamos 400 mil títulos rurais, 80% deles para mulheres.
Trabalhamos no Brasil para que tenhamos mulheres fortes e independentes, para que possam chegar aonde elas quiserem. A Primeira Dama, Michelle Bolsonaro, trouxe novo significado ao trabalho de voluntariado desde 2019, com especial atenção aos portadores de deficiências e doenças raras.
Senhor Presidente, Senhor Secretário-Geral, Senhoras e Senhores chefes de Estado e de governo, Senhoras e Senhores, neste 7 de setembro, o Brasil completou 200 anos de história como nação independente. Milhões de brasileiros foram às ruas, convocados pelo seu presidente, trajando as cores da nossa bandeira. Foi a maior demonstração cívica da história do nosso país, um povo que acredita em Deus, Pátria, família e liberdade.
Muito obrigado.” (Estadão.com, 20/9/22)