A China é uma das potências deste século. Entenda como os chineses pensam
Legenda: Marcos Jank, professor do Insper, no Fice 2019
Marcos Jank, professor do Insper, falou sobre o crescimento do país durante o Festival de Inovação e Cultura Empreendedora.
A China tem números grandiosos: mais de 1,4 bilhão de habitantes e um crescimento de 6,6% do Produto Interno Bruto (PIB) no ano passado. Mas nem sempre foi assim -- e ainda não é fácil para brasileiros (e estrangeiros em geral) fazerem sucesso com seus produtos no país.
É o que afirma o professor do Insper Marcos Jank. O doutor em administração e mestre em política agrícola passou os últimos quatro anos na Ásia, trabalhando em dez países da região. Jank é um dos palestrantes do Festival de Inovação e Cultura Empreendedora (FICE 2019), que acontece neste sábado (23/11) no espaço de coworking CO.W Berrini, em São Paulo.
De nação isolada até potência mundial
No Brasil, temos muito contato com a cultura da América Latina e dos Estados Unidos. A cultura ocidental dominou o mundo nos últimos 200 anos, a partir da Revolução Industrial inglesa, e conhecemos muito pouco da Ásia. Mas o mundo está cada vez mais centrado nesse continente. A Ásia é a região com a maior população do mundo, especialmente na China, na Índia e na Indonésia. O crescimento da região levará a uma classe média de 3,2 bilhões de pessoas em 2030.
O pricipal expoente da região é a China, com empresas como Alibaba, Baidu e Tencent. "A Europa foi substituída pelos Estados Unidos no século passado. A grande disputa do século 21 será dos EUA com a China", diz Jank.
A China ficou muito afastada do resto do mundo até o final da década de 70, quando tiveram início as reformas econômicas promovidas pelo líder Deng Xiaoping. A movimentação do campo para a cidade industrializou o país. O desenvolvimento urbano e políticas como a do filho único criaram uma nação competitiva, com empresas convivendo entre a cultura capitalista de comércio e a intervenção estatal. Nos últimos anos, o país passa por um momento de pujança econômica -- e de empreendedorismo.
Sobre as recentes tensões comerciais com os Estados Unidos, Jank afirma que a China já passou por conflitos econômicos e tem um plano de longo prazo para controlar a situação atual, ainda que esperasse que o conflito viesse mais tarde. "Em alguns anos, Donald Trump sairá do governo. Mas o governo chinês permancerá e terá um plano de retorno ao mercado americano", afirma o docente.
Entendendo a negociação chinesa
A China é o país que tem feito mais investimentos no Brasil e com quem temos mais relações comerciais. Mas é preciso entender o perfil de negociação dos chineses para tornar esse relacionamento mais presente e benéfico.
"Uma reclamação geral das grandes empresas que vão para o país é não encontrar o 'negócio da China' que esperavam", diz Jank. As companhias sofrem com padrões a que as chinesas não precisam aderir e é preciso conhecer as regras desse mercado -- por exemplo, como funciona a logística no país. "Mesmo assim, o crescimento de mais de 6% do PIB ao ano representa um país com grande oportunidade de acordos de exportação."
Então, como fechar contratos com os chineses? Jank ressalta como o país tem uma atitude diplomática e de negócios pragmática, diferente da política americana de disseminar sua cultura pelo mundo.
O professor também ressalta como as políticas chinesas são de longo prazo, diferente do pensamento geralmente de curto prazo das políticas públicas brasileiras. Um dos exemplos é a meta de tornar a China a líder em inteligência artificial no mundo até 2030. Quem entender melhor o pensamento do país estará mais preparado para aproveitar suas oportunidades (Época Negócios, 23/11/19)