Ação da BRF atinge menor nível da ‘era Abilio’
A crise da BRF parece não ter fim. As ações da empresa atingiram ontem o menor nível da era Abilio Diniz, iniciada em 9 de abril de 2013. Em meio à desgastada relação entre os maiores sócios e o ceticismo de investidores, a gestão do novo CEO da BRF, José Aurélio Drummond, ainda não conseguiu recobrar a confiança do mercado.
Nos últimos dias, as ações da empresa aprofundaram o movimento de desvalorização, na esteira de rumores sobre a republicação de balanços anteriores e da expectativa negativa sobre provisões, em parte ainda relacionadas ao desbalanceamento de estoque decorrente da Operação Carne Fraca.
Procurada, a BRF não comentou. A empresa está em período de silêncio até o dia 22, quando divulgará o resultado do quarto trimestre de 2017. Entre janeiro e setembro do ano passado, a receita líquida da BRF somou R$ 24,5 bilhões. O prejuízo acumulado no período alcançou R$ 318,7 milhões.
Nesse cenário, as ações da BRF recuaram ontem 3,96%, a quarta maior queda do Ibovespa. Com isso, fecharam a sessão na B3 a R$ 31,28, menor valor desde setembro de 2012. Em 2018, os papéis já caíram 14,5%. O Ibovespa subiu 6,7%.
Em valor de mercado, a BRF já perdeu R$ 37,4 bilhões desde o auge, em agosto de 2015, quando a gestão do empresário Abilio Diniz, presidente do conselho de administração, e do então CEO, o sócio da gestora Tarpon Pedro Faria, era festejada. Àquela altura, o milho mais barato e o câmbio levaram a empresa a reportar lucro e margens recordes.
Embora admita que o boato sobre a republicação de balanços tenha prejudicado as ações nos últimos dias, uma fonte próxima à empresa assegura que isso não ocorrerá. Por outro lado, reconhece que a suspensão das exportações da unidade de Mineiros (GO) foi prejudicial e pode afetar o resultado do quarto trimestre. Na prática, a BRF teve de vender como matéria-prima mais barata a carne de peru que seria exportada a mercados nobres.
Uma fonte graduada da BRF disse que a empresa teve perdas "relevantes" devido ao acúmulo de itens próximos da data de vencimento, fator que estimula promoções e leva à redução de preços, o que prejudica o valor do estoque.
Nas duas últimas divulgações de resultados, os executivos da BRF já haviam tratado do nível elevado dos estoques. Em 11 de agosto, Pedro Faria disse que, devido ao impacto da Carne Fraca, a companhia sofreu um "desbalanceamento momentâneo na cadeia que empatou nosso negócio de processados".
Deflagrada em 17 março, e com ampla repercussão, a Carne Fraca inviabilizou momentaneamente as exportações, o que gerou o acúmulo de estoques. Além disso, a demanda de alimentos processados foi atingida nos primeiros meses devido à resistência dos consumidores brasileiros, que reagiram à suspeita infundada da inclusão de papelão na produção de salsicha. A reação afetou as marcas da BRF, mas também concorrentes como Seara e Aurora.
Para lidar com os estoques mais altos, os executivos da BRF disseram, também em agosto, que tinham um plano "bastante forte" para reduzir o volume em 100 mil toneladas no segundo semestre.
De toda forma, as provisões para os estoques vêm aumentando. No acumulado de 2017 até setembro, o saldo de provisões relacionadas aos estoques aumentou em R$ 20,4 milhões, para R$ 147,8 milhões. No mesmo intervalo do ano anterior, as provisões haviam crescido R$ 11,1 milhões, para R$ 92,9 milhões.
Afora esses problemas, as ações da BRF também foram afetadas ontem por um relatório do Credit Suisse. O banco cortou o preço-alvo para os papéis, de R$ 37 para R$ 28, o que embute um potencial de queda de 10,5% sobre fechamento de ontem. O banco também reiterou o rating da BRF em ‘underperform’, o equivalente a recomendar venda das ações da companhia.
No relatório, os analistas Victor Saragiotto e Ian Miller comparam a BRF a um cubo mágico devido à complexidade da empresa, que está exposta, a um só tempo, a diferentes proteínas – aves e suínos – e países (Assessoria de Comunicação, 9/2/2018)