Agricultura sim, deveria ser o verdadeiro superministério
Por Aparecido Mostaço
Nesta onda de superministérios do novo governo, a agricultura sim, deveria ser o verdadeiro superministério, com grandes superpoderes. Mas, como dizia o inesquecível Stan Lee, que nos deixou há poucos meses, “Quanto maiores os nossos poderes, maiores são as nossas responsabilidades”. A nossa agricultura tem a nobre missão de contribuir com a segurança alimentar do Brasil e do mundo. Em outras palavras, garantir a oferta de comida para o mundo. Sem comida, não tem vida. Ponto.
E, para que isso aconteça, o agronegócio, precisa junto com o governo federal, desenhar um planejamento que construa um ecossistema com grande sinergia e ações estratégicas, com várias outras áreas-chaves, para o sucesso do agronegócio, como; a infraestrutura, logística/transportes, tecnologia, financeiro/investimentos/seguros, universidades/ciência/capacitação, fabricantes de máquinas e equipamento, armazenagem inteligente/silos, etc.
No moderno conceito de ecossistema produtivo, a agricultura necessita gerar eficiência através de vários de seus integradores de soluções. Gerar eficiência, para gerar lucros e progresso para todos.
Hoje em dia, falar do potencial da agricultura do Brasil, já é um clichê, mas é um clichê que vale a pena. O mundo sabe da sua importância e do seu potencial produtivo. A agricultura representa quase 24% do PIB, 20% os empregos e 44% das exportações. Em 2000 exportamos US$ 20,6 bilhões e saltamos para US$ 96 bilhões em 2017, praticamente cinco vezes mais, mesmo enfrentando as crises globais de 2008,2009 e 2010.
Com terras, água, tecnologia e principalmente, talentos, a agricultura seguirá uma rota de crescimento sustentável. Faço aqui um destaque especial, no que diz respeito aos talentos profissionais do agro, pesquisas recentes, demonstraram, que quem trabalha no agro é antes de tudo um ‘agroxonado’. Ele ama lidar com a terra, atuar no campo, com o gado, com a cana, com os grãos. Ele ama produzir energia e proteína para o mundo. Esse universo agro é cativante porque as pessoas do agro são fascinantes.
Dito isso, falemos dos desafios que o futuro nos prepara. Segundo OCDE e a FAO, em 2050 a população mundial será de 9,8 bilhões, 29% a mais do que número atual. Portanto, a produção de grãos, deverá saltar dos atuais 2,5 bilhões para 3 bilhões de toneladas/ano. E a produção de carne terá que amentar em mais de 200 milhões de toneladas.
Como vocês sabem, a demanda pelos grãos de soja e milho crescem mais do que a de outros grãos, porque constituem a principal matéria prima da produção de proteína animal, carnes, leite e ovos. Para se ter uma ideia, de 1990 a 2017, o aumento da demanda de soja cresceu 207%, o milho 108%, o arroz 46% e o trigo 36%. O milho com seus 1 bilhão de toneladas é o grão mais produzido no mundo.
De 1970 a 2017 a produção mundial de soja cresceu 7,98 vezes, saindo de 44 milhões de toneladas para 351 milhões de toneladas.
No Brasil, o crescimento da produção no período foi fantástico, cresceu 76 vezes, saindo de 1,5 milhões de toneladas, em 1970, para 114 milhões toneladas em 2017.
Sempre que cito esses números, me emociono. De 1990 até 2017, a área plantada com grãos, no Brasil, cresceu 61% enquanto a produção conseguiu um salto de 312%.
Devido a esse cenário de resultados incríveis, que a FAO diz que o Brasil se tornará a principal liderança deste aumento de produção para atender a demanda global por alimentos.
Hoje, quatro cadeias produtivas, complexo da soja, açúcar e etanol, produtos florestais, carne e couro são responsáveis por 77% das nossas exportações.
Porém, a nossa eficiência na agricultura, começa a perder valor, quando vamos vender. Sempre fiquei fascinado como a Austrália consegue vender carne a US$ 7.000 por tonelada, contra US$ 4.000 do Brasil.
A resposta é adição de valor. Buscar a diferenciação, marcas fortes, segurança sanitária, rastreabilidade total, variedade de produtos, atendimento a diferentes mercados, entrega rápida e segura, certificações reconhecidas nos diversos mercados.
Já está comprovado, que somos excelentes em agregar valor as commodities básicas, onde os diferenciais competitivos são altos volumes e baixos custos. Precisamos agora adicionar valor aos nossos produtos agrícolas.
Inovações como o ABC (Agricultura de baixo carbono) e o iLPF (integração Lavoura Pecuária Floresta) e o uso intensivo de tecnologia, tem proporcionado alta produtividade com baixa emissão de gases de efeito estufa e diminuição de áreas desmatadas. Isso é agricultura inteligente, eficiente e moderna. Apenas com o sistema iLPF já temos 14 milhões de hectares que dividem as culturas grãos, gado e florestas.
Como inovar é preciso, existem regiões que colhemos duas safras, devido às chuvas. E em regiões que não chove no inverno, foi preciso criar condições para utilizar o solo de maneira adequada e com isso planta-se pastos, aproveitando a riqueza que ainda resta no solo depois da colheita. Com isso, o Brasil consegue, colher grãos no verão e muita carne no inverno.
O Brasil é um dos maiores em carne de frango, açúcar, café, suco de laranja, complexo de soja. Está em segundo em carne bovina e milho, 4º em algodão e carne suína. Sem contar sua importância da fruticultura.
Na agroenergia, também não ficamos atrás, na matriz energética do mundo 86,6% são não renováveis e 13,4% renováveis. No Brasil são 43,5% da matriz já são renováveis. Sendo que o setor sucroenergético representa 17,5%, maior do que as hidrelétricas, que representam 12,6%. Sempre no início de cada ano, faço questão de rever estes números do potencial do nosso agronegócio, para aumentar ainda mais minha confiança neste gigante de produtividade. Um Super 2019 para todos. (Aparecido Mostaço, Diretor da Energia Humana Consultoria, conselheiro em diversas empresas do agronegócio)