01/10/2018

Agronegócio: Homens são mais de 80% da mão de obra, mulheres 17%

Plantação de mudas de eucalipto em Caetanópolis (MG); o cultivo é feito por mulheres

Dados da Rais divulgados na última sexta (28) revelam que elas correspondem a 17% do setor.

A participação das mulheres no mercado de trabalho do agronegócio aumentou dois pontos percentuais em dez anos, de acordo com o MTE (Ministério do Trabalho e Emprego).

As trabalhadoras da agricultura, da pecuária e de serviços relacionados representavam 15% da mão de obra em 2007. A Rais (Relação Anual de Informações Sociais), divulgada na sexta (28), mostra uma alta para 17% — 230 mil no total.

No caso das pequenas propriedades, uma parcela significativa do trabalho feminino não é contabilizada, afirma Valdete Boni, pós-doutorada em gênero e campesinato e professora da Universidade Federal da Fronteira Sul.

“O trabalho doméstico feito no campo pelas mulheres corresponde a muito mais do que cuidar da casa e dos filhos, como nos centros urbanos”, diz. 

O cultivo de hortas e a criação de pequenos animais são alguns dos exemplos citados pela pesquisadora.
“Essas atividades não são computadas porque não geram renda visível. É uma receita oculta, porque é consumida, trocada ou vendida em pequenas parcelas”, afirma ela.

A proporção de mulheres no setor tem aumentado, mas elas frequentemente estão à frente de pequenas produções, segundo Luiz Cornacchioni, diretor-executivo da Abag (Associação Brasileira do Agronegócio). 

“A participação feminina ainda é insuficiente. Muitas têm herdado propriedades nos últimos anos, então precisamos nos preocupar em formar lideranças”. 

 

Estudo rural

A procura por cursos e especializações é uma das características que diferencia as gestoras do agronegócio de seus pares, afirma Daniela Coco, gerente da consultoria PwC especializada no setor.

“A percepção de que a competição é mais intensa para elas faz com que essas profissionais busquem estar mais preparadas”, diz ela. 

O perfil de quem busca os serviços de formação profissional da CNA (confederação do segmento) mudou nos últimos anos, afirma Deimiluce Lopes, coordenadora de Formação e Promoção Social.

O programa de educação à distância da entidade atendeu cerca de 300 mil alunos —45% foram mulheres, diz.

Teresa Vendramini, gestora da fazenda Jacutinga, em Flórida Paulista (SP), buscou a Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária] para se qualificar. 

“Me formei em sociologia, então quando assumi a propriedade procurei ajuda”.

40%
dos formandos nos cursos de agronomia nas universidades federais de Viçosa e de Lavras (MG) são mulheres

 

Preparação profissional

Antes de assumir suas funções como presidente do grupo Junqueira Rodas, Sarita Rodas fez cursos de gestão.

“Meu pai faleceu subitamente e não tinha nenhuma pessoa da família preparada para lidar com os negócios”, diz.

À frente da companhia desde 2013, Sarita supervisiona treze fazendas que, juntas, somam mais de 13 mil hectares. O cultivo de laranja é o carro forte, ao lado da plantação de cana e da criação de bois da raça Tabapuã.

O setor ainda é associado ao trabalho braçal pesado, e, portanto, masculino, segundo ela. “Minha percepção é totalmente diferente. Temos que ter visão de longo prazo e estratégia como em todos os negócios”.

“Se eu fosse um homem na mesma situação, acredito que teria encontrado menos resistência”, diz. 

 Campo de negócio

A Apex-Brasil (agência de exportação) e a CNA (confederação da agricultura) vão organizar uma rodada de negócios só para mulheres em 23 e 24 de outubro.

Além de 30 empresárias do setor, o evento terá presença de varejistas e distribuidores internacionais (Folha de S.Paulo, 30/9/18)