11/01/2024

Algodão: Análise Conjuntural Cepea/Esalq/USP Retrospectiva 2023

Algodão: Análise Conjuntural Cepea/Esalq/USP Retrospectiva 2023

ALGODAO Pixabay.jpg

A produção brasileira de algodão em pluma foi recorde na temporada 2022/23, resultado dos crescimentos da área e da produtividade. Em termos mundiais, a disponibilidade de pluma também avançou. A demanda, contudo, não acompanhou o aumento na oferta da pluma – condições econômicas adversas nos cenários mundial e brasileiro geraram receio entre agentes e limitaram as vendas de manufaturados.

 

E a oferta acima da demanda ocasionou elevação dos estoques e queda nos preços externos e internos do algodão. No Brasil, de janeiro a maio, mesmo em entressafra, as cotações cederam expressivamente, pressionadas por expectativas de boa safra e pela demanda sem reação. Com maior excedente, as expectativas recaíram sobre as exportações, que teriam que registrar bom desempenho na safra 2022/23, mas as vendas antecipadas estavam, naqueles primeiros meses de 2023, relativamente lentas, devidos aos preços considerados pouco atrativos por vendedores.

 

Entre maio e junho, as médias mensais até se sustentaram, mas, em julho, a pluma foi negociada no menor patamar do ano. Nos meses seguintes, as médias mensais oscilaram dentro de um intervalo mais estreito, tendo como suporte as exportações, que ajudaram a reduzir os excedentes internos. O ano de 2023 também foi marcado por dificuldades logísticas e o encarecimento dos custos de transportes.

 

Problemas relacionados a embarques para exportação tiveram impactos negativos sobre as transações e resultaram em altas nos custos. Além disso, as divergências sobre a qualidade da pluma limitaram os fechamentos de negócios. Em 2023, o Indicador do algodão em pluma CEPEA/ESALQ, com pagamento em 8 dias, acumulou baixa de 24,79%, fechando em R$ 4,0004/lp no dia 28 de dezembro.

 

Entre 29 de dezembro de 2022 e 28 de dezembro de 2023, a paridade de exportação acumulou baixa de 18%, pressionada pela queda de 10,50% do Índice Cotlook A (referente à pluma posta no Extremo Oriente) e pela desvalorização de 8,11% do dólar frente ao Real no mesmo período. O primeiro vencimento da Bolsa de Nova York (ICE Futures) teve retração de 2,84% em 2023 (até o dia 29 de dezembro).

 

RITMO INDUSTRIAL

 

Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontam que, de janeiro a novembro/23, a atividade industrial de “preparação e fiação de fibras têxteis” teve queda de 8,9% frente a igual período de 2022; o setor de “fabricação de artefatos têxteis, exceto vestuário” registrou baixa de 5,7%; o de “confecção de artigos do vestuário e acessórios” caiu 8,2%, enquanto a atividade de “fabricação de artigos de malharia e tricotagem” avançou 9,1%; os setores de “tecelagem, exceto malha” e o de “fabricação de tecidos de malha” cresceram 12,1% e 1,7%, respectivamente.

 

SAFRA BRASILEIRA 2022/23

 

De acordo com a Conab, houve aumento de 4% na área semeada na safra 2022/23 frente à anterior, somando 1,664 milhão de hectares. A produtividade do algodão em pluma foi estimada em 1.907 kg/ha, alta de 19,5% se comparada à da temporada anterior e um recorde. Dessa forma, a produção da temporada 2022/23 foi projetada em 3,173 milhões de toneladas de algodão em pluma, crescimento de 24,2% frente à anterior e o maior volume da história. A Conab prevê consumo nacional na temporada 2022/23 praticamente estável (+0,7%) frente à safra anterior, chegando em 680 mil toneladas.

 

Com suprimento projetado em 4,497 milhões de toneladas (+18,4% se comparado ao da safra 2021/22) e as exportações estimadas em 1,665 milhão de toneladas (-7,7% no mesmo comparativo), o estoque de passagem em dezembro/23 é indicado pela Companhia em 2,152 milhões de toneladas, 63% maior que o projetado em dezembro/22.

 

EXPORTAÇÃO

 

Os embarques brasileiros de algodão em pluma da safra 2022/23 vêm registrando bom desempenho. Segundo a Secex, em apenas cinco meses (de agosto/23 até dezembro/23, ou seja, parcial da safra 2022/23), o volume escoado já representa quase 80% da quantidade embarcada no total da temporada 2021/22 (de agosto/22 a julho/23). De janeiro até dezembro, dados da Secex apontam que o Brasil exportou 1,62 milhão de toneladas de pluma, 10% inferior ao total embarcado em 2022 (1,8 milhão de toneladas).

 

Até novembro, os principais destinos foram China (representando 44% do total), Bangladesh (14%), Vietnã (12%), Turquia (10%), Indonésia (6%) e Paquistão (6%). Quanto aos preços, em dólar, ainda de acordo com a Secex, o valor médio na parcial do ano foi de US$ 0,8526/lp, 11% menor que o registrado em 2022. De modo geral, desde maio/23, os preços de exportação superam os valores praticados no spot nacional.

 

USDA

 

A produção mundial de 2022/23 aumentou 1,8% frente à temporada 2021/22, totalizando 25,395 milhões de toneladas e sustentada pela maior oferta da China, Índia e Brasil. Os Estados Unidos e o Paquistão tiveram quedas significativas de uma safra para outra, de 17,4% e 35%, respectivamente. O consumo global de 2022/23 foi previsto em 24,282 milhões de toneladas, retração de 4% frente à safra anterior e 4,4% abaixo da oferta mundial, sendo que a China foi o único, entre os principais países, que apresentou aumento no uso doméstico (+11%).

 

Logo, a relação estoque/consumo ficou em 74,3% na safra 2022/23 – a maior em três anos. Quanto à comercialização mundial, as importações foram estimadas em 8,206 milhões de toneladas e as exportações, em 8,062 milhões de toneladas na temporada 2022/23, com quedas de 12,3% e de 14,3%, respectivamente, se comparadas às da safra anterior.

 

Dessa forma, o estoque mundial avançou 8,5% se comparado à temporada 2021/22, para 18,035 milhões de toneladas. Vale considerar que, para o Brasil, especificamente, o USDA estima aumento de quase 50% nos estoques frente aos da temporada anterior, com o volume sendo recorde (Assessoria de Comunicação, 8/1/24)