Algodão: Produção será menor, mas setor inicia ano com otimismo
A queda no consumo no primeiro semestre de 2020 contribuiu para a elevação dos excedentes domésticos e internacionais de algodão em pluma. Entretanto, o ritmo acelerado de consumo no segundo semestre criou um cenário de otimismo aos setores agrícola e industrial. Os preços internacionais são considerados atrativos, e os bons volumes de contratos já realizados apontam que as exportações da pluma podem manter em 2021 o ritmo recorde observado no final de 2020. A grande questão fica por conta da paridade de exportação, influenciada de forma mais intensa pela taxa de câmbio.
No geral, agentes devem continuar monitorando atentamente a pandemia, o avanço das vacinas para a imunização da covid-19 e os desdobramentos da retomada da economia no Brasil e no mundo. Do lado da indústria, a preocupação está atrelada às incertezas quanto à sustentação/crescimento da demanda ao longo de toda a cadeia, dado o alto nível de desemprego, o receio de novas restrições para conter uma “outra onda” de covid-19 no País e o, até então, fim do auxílio emergencial.
Dessa forma, uma diminuição na renda pode levar consumidores a darem preferência aos bens essenciais, limitando a demanda nacional por produtos têxteis. Agentes também devem se atentar aos preços do petróleo e à competividade do poliéster frente à fibra natural.
SAFRA 2020/21
Depois de subir por quatro safras consecutivas, a produção nacional deve somar 2,67 milhões toneladas na temporada 2020/21, segundo a Conab, queda de 11% frente à anterior, mas, ainda assim, a terceira maior da história. A expectativa é de que a área semeada se reduza em 8,1%, para 1,53 milhão de hectares, e a produtividade caia 3,2% (1.745 kg/ha). Após a queda de 17% no consumo doméstico na temporada 2019/20, influenciado pelo avanço da pandemia no País, a Companhia projeta aumento de 19% em 2020/21, indo para 690 mil toneladas.
EXPORTAÇÃO
Instituições e associações brasileiras têm buscado promover o algodão no mercado internacional, na tentativa de diversificar importadores e aumentar o market share –, fortalecendo relações especialmente com países asiáticos. O Brasil já se mostrou capaz de embarcar bons volumes ao longo de todo o ano, ofertando pluma de qualidade e com rastreabilidade, sustentabilidade e preços competitivos.
Estimativas do USDA apontam que o Brasil pode continuar como o segundo maior exportador mundial de pluma, com 2,18 milhões toneladas na safra 2020/21, atrás apenas dos Estados Unidos, que deve embarcar 3,27 milhões de toneladas.
COMERCIALIZAÇÃO
De acordo com dados da BBM (Bolsa Brasileira de Mercadorias) tabulados pelo Cepea, ao menos 38% da safra brasileira 2019/20 e 20,6% da 2020/21 teriam sido comercializados até o dia 4 de janeiro. Considerando-se que nas últimas cinco temporadas foram registrados, em média, 74% da produção nacional, isso pode indicar que 51,3% da produção atual e 27,8% da próxima já teriam sido negociados. Sendo que a maior parte de ambas as safras é direcionada ao mercado externo.
Para o maior produtor nacional, especificamente, informações divulgadas pelo Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária) apontam que 86% da produção 2019/20 em Mato Grosso e 51,83% da próxima já teriam sido comercializados.
INTERNACIONAL
Dados de dezembro do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) indicam que a produção mundial da safra 2020/21 deve somar 24,8 milhões de toneladas (-6,7% frente à temporada anterior), pressionada pelos Estados Unidos (-20%), Brasil (-13%) e Paquistão (-27,4%). Já o consumo global pode aumentar 13%, para 25,1 milhões de toneladas. A comercialização deve totalizar 9,4 milhões de toneladas, com avanços de 7,4% nas importações e de 5,4% nos embarques frente aos da safra anterior.
O estoque mundial foi estimado pelo USDA em 21,2 milhões de toneladas em 2020/21, recuo de apenas 1,9% sobre a safra anterior. Nesse cenário, a relação estoque/consumo está estimada em 84,3%, sendo que, para o Brasil, a relação estoque/consumo está em 103,28% – a menor em cinco temporadas. Quanto aos preços, a estimativa de dezembro para o final da safra 2020/21 indica média do Índice Cotlook A de US$ 0,694/lp, de acordo com o Icac (Equipe: Prof. Dr. Joaquim Bento S. Ferreira Filho, Prof. Dr. Lucilio Alves, Ana Luisa Corrêa e Jéssica Caroline Pereira; Assessoria de Comunicação, 15/1/21)