24/09/2020

Amazônia pode ter R$ 500 mi da JBS e monitoramento do fornecedor indireto

Amazônia pode ter R$ 500 mi da JBS e monitoramento do fornecedor indireto

A  JBS (JBSS3), maior produtora global de carnes, lançou nesta quarta-feira o programa Juntos pela Amazônia, que prevê a criação de um fundo de 1 bilhão de reais para investimentos no desenvolvimento sustentável do bioma, com aportes da companhia podendo atingir até metade desse total em até dez anos.

O lançamento do Fundo JBS pela Amazônia é apenas um dos pilares de um plano maior da companhia que integra ações contra mudanças climáticas, que também prevê movimentos internos para garantir que todos os fornecedores de gado, incluindo os indiretos, trabalhem em conformidade com as leis ambientais e dentro das melhores práticas de sustentabilidade.

“É uma visão ampla, não é restrita, procura ter uma abrangência bastante global, visa fomentar o desenvolvimento sustentável do bioma amazônico, promover a conservação, o uso sustentável da floresta, melhoria da qualidade de vida da população”, disse o CEO Global da JBS, Gilberto Tomazoni, à Reuters.

Em momento em que a imagem do Brasil sofre com avanços de desmatamentos e queimadas, com muitos associando a abertura ilegal de áreas de florestas à pecuária, Tomazoni avalia que o fundo deve colaborar com várias conquistas sociais e sustentáveis na região amazônica nos próximos anos.

Essa convicção, disse ele, levou a empresa a se comprometer com aportes de 250 milhões de reais no fundo nos primeiros cinco anos e a “igualar” doações feitas por terceiros até o limite de 500 milhões de reais até 2030.

Ele disse que essas iniciativas mostram que a JBS –com sede no Brasil mas com a maior parte de suas receitas no exterior, advindas também da produção de carnes de frango e suína e alimentos processados– não está olhando somente para os elos de sua cadeia produtiva.

Plataforma verde

Ao mesmo tempo, a companhia está lançando um programa que prevê a implantação da chamada Plataforma Verde, para monitoramento total até 2025 de todos os fornecedores indiretos de gado à companhia, um dos desafios do setor no combate a pecuaristas que atuam na ilegalidade e que colaboram com o desflorestamento.

A JBS diz monitorar, há cerca de uma década, 100% dos fornecedores diretos de bovinos, garantindo que estes estejam em conformidade com as melhores práticas ambientais, numa área maior que a da Alemanha.

Mas o CEO admitiu que a companhia não tem informações de todos os “fornecedores dos fornecedores”, algo que segundo ele nenhuma companhia no país possui, o que pode levantar questionamentos sobre a sustentabilidade de uma parte da produção da nação, maior exportadora global de carne bovina.

Legenda: A JBS diz monitorar, há cerca de uma década, 100% dos fornecedores diretos de bovinos, garantindo que estes estejam em conformidade com as melhores práticas ambientais (Imagem: REUTERS/Diego Vara)

“Hoje não monitoramos os fornecedores dos fornecedores, e ninguém faz isso hoje, nós temos a estrutura mais robusta de monitoramento, mas esse pedaço tinha desafios tecnológicos e de sistema, e com nossa iniciativa vamos fechar isso”, declarou.

“Agora, com essa iniciativa da Plataforma Verde, vamos ter controle de 100% dos fornecedores dos nossos fornecedores, isso resolve toda a discussão, se tem algum problema na cadeia.”

O executivo ressaltou que o plano só foi possível agora graças ao desenvolvimento do sistema blockchain –que garante confidencialidade, segurança no acesso aos dados e transparência nas análises– e a melhores processos de gestão de informações e de fornecedores.

Ele lembrou que ainda que o atual sistema de monitoramento, auditado por empresas externas, tem alto grau de eficiência, tanto que, dos 50 mil fornecedores da empresa, 9 mil já foram bloqueados por algum tipo de problema.

Tomazoni afirmou que a JBS vai compartilhar seus dados com outros agentes, como bancos, para que muitos possam tomar decisões baseadas em informações que também contribuam para a redução do desmatamento.

Desafio complexo

O diretor de sustentabilidade da JBS, Márcio Nappo, considerou, também em entrevista à Reuters, que monitorar 100% dos elos da cadeia da pecuária brasileira é uma “jornada complexa”, pelo tamanho e segmentação do setor em um país continental e pelos processos envolvidos, como conseguir acesso às guias de transito de animais, ou GTAs.

Mas ele avalia que o setor está maduro o suficiente para que os processos fiquem mais transparentes, com os fornecedores diretos da JBS permitindo o acesso a informações dos indiretos.

“É um desafio complexo, mas temos um bom plano na mão para que possamos superar todos os desafios, e em um prazo bastante curto entregar os resultados”, disse Nappo.

Ele estima que, até o final deste ano, estejam estabelecidas etapas da plataforma blockchain para que pecuaristas deem autorização para acesso às GTAs de seus fornecedores, e a partir de 2021 será feito um programa piloto em Mato Grosso, maior produtor de gado do Brasil. Em seguida, outros Estados do Bioma Amazônico serão incluídos.

O ano de 2025 é a data limite para que todo fornecedor da JBS tenha aderido à plataforma, dando autorização para acessos aos fornecedores indiretos, mas “naturalmente vamos trabalhar para encurtar o prazo”, disse o executivo. “É importante o engajamento de toda a cadeia e a participação do pecuarista é parte fundamental nesta estratégia”.

A ideia é que o programa da JBS, ao se mostrar bem-sucedido, possa ser uma plataforma não somente da empresa, mas setorial, visando promover o desenvolvimento sustentável da região amazônica, disse o executivo (Money Times com Reuters, 23/9/20)


JBS utilizará tecnologia blockchain para monitorar cadeia de fornecedores de gado na Amazônia

A JBS vai utilizar tecnologia blockchain para fazer um amplo monitoramento, na Amazônia, da cadeia fornecedora de bovinos da companhia. Desta forma, em vez de acompanhar de perto - como já faz desde 2009 - apenas as fazendas pecuárias que lhe entregam bovinos para abate, pretende estender o controle a todos os elos da cadeia. Ou seja, vai monitorar também fazendas que criam bezerros e bois magros, chamadas de propriedades de "de cria" e "recria" e todas as suas variantes, ou os "fornecedores indiretos".

Mesmo que complexa, a fiscalização de todos os elos da cadeia pecuária - há fazendas só de cria; outras de cria e recria; as de ciclo completo e aquelas que só engordam o gado magro - é importante para garantir que os animais da ponta final, abatidos no frigorífico, não tenham passado, em algum momento da vida, por propriedades com passivo ambiental ou trabalhista. No caso, áreas desmatadas ilegalmente, embargadas pelo Ibama, áreas de conservação, terras indígenas ou fazendas que utilizem trabalho análogo à escravidão.

Ao Broadcast Agro, o CEO Global da JBS, Gilberto Tomazoni, explica que a "Plataforma Verde JBS" permitirá que a empresa monitore também todos os fornecedores indiretos que se relacionam, de uma forma ou de outra, com aqueles que vão de fato entregar o boi para abate, garantindo, nesse processo, o sigilo total das informações por intermédio da tecnologia blockchain - conhecida justamente por essa segurança. "O trabalho será auditado e seus resultados reportados no relatório anual de sustentabilidade", assegura.

Essa e outras iniciativas ligadas à preservação da Amazônia e inclusão social fazem parte do programa Juntos pela Amazônia, que a JBS apresentou hoje. O Juntos pela Amazônia, descreve a companhia, é um conjunto de estratégias com visão de longo prazo que visam aumentar a conservação e o desenvolvimento do bioma, engajando o setor e propondo ações para além da cadeia de valor.

Ainda sobre os bovinos na Amazônia, Tomazoni acrescenta que "a JBS já tem um sistema de monitoramento robusto e abrangente". Ele acrescenta que a empresa acompanha de perto, dentro da "Política de Compra Responsável de Matéria-Prima da JBS", as fazendas fornecedoras de gado, que somam 45 milhões de hectares só na Amazônia. "Temos uma base de 50 mil pecuaristas em compliance conosco na região", continua ele, acrescentando que esse programa já conseguiu, por exemplo, detectar e excluir 9 mil propriedades que não estavam em conformidade com regras ambientais e sociais. "É um sistema que funciona, é eficiente, mas que não monitorava o fornecedor indireto de gado, em razão do desafio tecnológico que isso impunha."

Agora, com o blockchain - tecnologia surgida com as criptomoedas -, a Plataforma Verde JBS conseguirá inserir dados também dos fornecedores indiretos na cadeia produtiva. "Ela vai buscar informações do fornecedor do nosso fornecedor, cruzando as informações com listas do Ibama e de análises geoespaciais", relata Tomazoni. "Isso permitirá 100% do controle da cadeia de fornecedores até 2025", projeta o CEO.

O diretor de Sustentabilidade da JBS, Márcio Nappo, diz ao Broadcast Agro que a companhia necessitará da parceria dos pecuaristas nessa empreitada. "Vamos solicitar a autorização deles para acessar suas Guias de Trânsito Animal (GTAs) e ver a origem dos animais", explica o executivo. Desde meados de 2019, o acesso às GTAs - documento obrigatório no trânsito de qualquer animal vivo no País - é sigiloso, por lei. "As GTAs não são públicas", confirma Nappo. "São um instrumento de controle sanitário feito pelo Ministério da Agricultura", diz.

Por isso, para obter as informações a respeito dos caminhos - e fazendas - percorridos pelos animais comercializados ao longo de todas as etapas até chegar ao abate e alimentar a Plataforma Verde JBS, Nappo explica que a JBS pretende fazer "uma grande estratégia de engajamento" de toda a cadeia para aderir à plataforma. "A partir daí, ela vai chegar também ao fornecedor indireto." E, então, verificar se há ou não ilegalidades ambientais ou sociais nessas fazendas. "É importante ficar claro para os pecuaristas qual é a informação que vamos buscar; é basicamente saber quem é o fornecedor dos nossos fornecedores", diz Nappo, lembrando, ainda, que o sigilo também é garantido pela Lei Geral de Proteção de Dados, que entrou em vigor recentemente.

Um passo além, quando a Plataforma Verde JBS já estiver funcionando, é tornar essa tecnologia pública e disponível para todos os interessados, enfatiza o CEO Global, Gilberto Tomazoni. "Queremos que todo mundo trabalhe com o mesmo padrão da JBS nesse quesito, incluindo outros frigoríficos", continua. "Vamos tornar disponível o sistema e toda a inteligência desenvolvida para produtores, instituições financeiras e outras empresas que desejarem adotar esses critérios socioambientais em suas cadeias de valor." Nappo acrescenta: "Teremos condições de verificar todo e qualquer fornecedor; qualquer problema ambiental ou fundiário vai ser capturado pela plataforma". Ao tornar a tecnologia disponível, Tomazoni adiciona que ela, "no fundo, representará uma solução para todo o setor de carne que opera na Amazônia".

A projeção é de que o sistema esteja 100% operante em 2025, mas já em 2020 começará a trabalhar. "Até dezembro vamos finalizar a plataforma blockchain e comunicar a toda a cadeia produtiva", descreve o diretor de Sustentabilidade da JBS. Nappo informa que há dois anos a tecnologia está em construção na companhia. "Inicialmente a plataforma será estendida aos fornecedores diretos de gado para a JBS, depois para os indiretos." Assim, a partir de 2021, a fase 2 do projeto, "que será o grande piloto da plataforma", terá início em Mato Grosso. "Vamos engajar os fornecedores e rodar a plataforma com as informações fornecidas por eles", adianta Nappo. "A ideia é fazer todo o desenvolvimento em Mato Grosso e depois para os outros Estados do bioma Amazônia, até que, em 2025, passará a ser uma condicionante comercial do nosso negócio." O executivo garante que a Plataforma Verde JBS poderá ser utilizada por outros players do setor pecuário de operam na Amazônia, "independentemente de eles serem concorrentes da JBS ou não" (Broadcast, 23/9/20)