Após tentativa de venda, Caramaru estuda abrir capital
A Caramuru Alimentos, uma das maiores processadoras de grãos de controle brasileiro, estuda abrir seu capital. A possibilidade passou a ser considerada em virtude do bom momento da bolsa, que voltou a atrair uma nova leva de empresas no país ao pregão.
Segundo César Borges de Souza – Foto -, membro da família fundadora, vice-presidente e conselheiro da Caramuru, a oferta ainda não foi discutida oficialmente – a próxima reunião do conselho ocorrerá apenas em 28 de fevereiro. "Mas estamos olhando com bons olhos a abertura de capital diante da revigorada da bolsa", disse ao Valor.
Ele não quis fornecer detalhes da operação, se a intenção seria fazer uma oferta primária (com a emissão de novas ações, cujos recursos vão para o caixa da empresa) ou secundária (a venda de ações já existentes, em geral de sócios que querem sair ou reduzir participação no negócio).
A possibilidade de ir à bolsa é ventilada menos de um ano depois de vir à tona a contratação pela companhia do banco de investimentos Morgan Stanley para buscar um investidor. À época, Souza confirmou que o objetivo era a venda de uma fatia ou até mesmo do controle, a fim de capitalizar a companhia para a sua expansão.
Com sede em Itumbiara (GO), a Caramuru opera em 73 armazéns no país e tem fábricas de processamento de grãos em Mato Grosso, Goiás e Paraná, além de terminais portuários em Santos, Vitória e, desde o fim do ano passado, em Santana, no Amapá. Em 2017, a empresa faturou R$ 3,8 bilhões (veja gráfico) e processou 1,83 milhão de toneladas de soja, 240,3 mil toneladas de milho e 42,1 mil de girassol. Seu enfoque está em agregação de valor. A Caramuru produz desde óleos vegetais e farinhas a lecitina e proteínas concentradas de soja, com margens mais altas.
Sob muitos aspectos, é considerada uma empresa "redonda" operacional e financeiramente. Apesar disso, a intenção de capitalização não foi concretizada. Fontes do setor afirmam que o preço pedido pela empresa não era compatível com a realidade. Uma oferta foi apresentada, mas foi recusada pela família por estar muito aquém do valor pedido.
A guinada, agora, para a bolsa pode ser mais uma tentativa de atrair capital novo, ao preço de mercado. Ainda que em uma posição que considera "confortável", a Caramuru enfrenta o mesmo cenário adverso do restante do setor – abundância de matéria-prima, estoques altos, preços das commodities em queda e margens ainda mais estreitas. Além disso, a abertura de capital poderia dar organização e transparência ao processo de sucessão familiar, algo que os herdeiros já vêm discutindo há alguns anos.
Fundada em 1964 em Maringá (PR), a empresa é presidida por Alberto, de 67 anos, o mais novo entre os quatro irmãos Borges de Souza e o primeiro a começar a trabalhar na empresa criada pelo pai. Com 40% de participação na empresa, ele acumula também o cargo de presidente do conselho. César, 70, detém outros 13%. O restante é pulverizado entre a mãe, irmã e netos, totalizando 16 sócios.
Segundo o Valor apurou, não há interesse entre os herdeiros de entrar no dia a dia operacional. Muitos já passaram pela empresa, mas não se adaptaram à gestão familiar. Alguns herdeiros, incluindo César, estariam mais interessados em liquidez – "ter o dinheiro em mãos para fazer o que quiser", diz uma fonte, "e não ficar mais atrelado a ativos imobilizados que geram dividendos pouco atraentes".
Por outro lado, a "alma" da Caramuru, diz outra fonte próxima aos Borges de Souza, é Alberto. Presidente-executivo e presidente do conselho, além de deter a maior participação acionária, é ele quem manda de fato e quem mais defende a permanência no negócio. Procurado, o executivo não quis se manifestar sobre o assunto.
A entrada na bolsa poderia contribuir para resolver o dilema familiar ao estabelecer um valor claro para a companhia, a partir da análise dos bancos contratados. Mas também exigiria a apresentação de uma governança corporativa azeitada. Dada a idade avançada dos principais sócios, o mercado requeriria um plano de sucessão bem definido na Caramuru (Assessoria de Comunicação, 22/1/18)