29/06/2018

Após tormenta, Aurora inicia retomada

Mário Lanznaster, presidente da Aurora Alimentos, vê

Terceira maior processadora das carne de frango e suína do país, a catarinense Aurora Alimentos já vê a luz no fim do túnel. Depois de quase um semestre inteiro desastroso, quando sofreu com o milho mais caro, as restrições internacionais e a greve de caminhoneiros, a central de cooperativas voltou ao azul.

A expectativa da Aurora, que faturou R$ 8,9 bilhões no ano passado, é que o ajuste de produção feito para adequar a oferta de frango à demanda permita que a avicultura brasileira se recupere de modo sustentável no segundo semestre.

"Depois da greve dos motoristas, há um sinal de calmaria porque começa a haver equilíbrio entre oferta e procura", afirmou o presidente da Aurora, Mário Lanznaster, ao Valor. De acordo com o dirigente, a margem da central de cooperativa, que ficou 5% negativa em maio, deverá superar 1% neste mês. Com isso, a Aurora poderá fechar o ano no "zero a zero", o que já seria um bom resultado diante das dificuldades, disse Lanznaster.

Ao dificultar o fluxo de pintinhos para as granjas, a paralisação de dez dias dos caminhoneiros amplificou um movimento de redução da produção de frango que já estava em curso. Em maio, antes da paralisação, a líder BRF já suspendera temporariamente os abates de frango em algumas unidades para reduzir a sobreoferta de aves provocada pelo embargo da União Europeia. Na mesma linha, a Aurora cortou os abates em quase 15%.

Os resultados do corte da produção, positivos para as agroindústrias de aves e suínos, começaram a ser sentidos. Isso, aliado à paralisação dos caminhoneiros, que afetou o fluxo da cadeia produtiva, fez o preço da carne de frango congelada no atacado registrar forte alta em junho.

De acordo com levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), que é vinculado à Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), o preço da carne de frango congelada no atacado da Grande São Paulo subiu 18,8% no acumulado de junho até ontem. Na primeira semana do mês, quando o atacado estava mais desabastecido em razão da greve, o frango subiu mais de 40%.

Para manter a trajetória de recuperação, Lanznaster reforçou que a Aurora manterá a produção de frango reduzida pelo menos até agosto. Neste momento, os funcionários do abatedouro de frango da Aurora em Abelardo Luz, no oeste catarinense, estão em férias coletivas. No próximo mês, será a vez da paralisação temporária na unidade de Chapecó, também em Santa Catarina. Em agosto, os funcionários do frigorífico de Quilombo (SC) entrarão em férias coletivas.

Com o rodízio de férias coletivas, a Aurora reduz em cerca de 130 mil frangos por dia os abates, disse Lanznaster. Se todos os frigoríficos da central de cooperativas estivessem em operação, a Aurora processaria cerca de 1 milhão de frangos por dia, segundo o dirigente. Em termos comparativos, a Aurora é bem menor do que a BRF, que pode abater 7 milhões de aves por dia.

Conforme o presidente da Aurora, os abates de frango ainda estarão reduzidos nos próximos 60 dias porque a avicultura nacional está em fase de redução dos estoque – especialmente de produtos que seriam exportados. Diante das restrições internacionais, como o maior rigor europeu nos testes de salmonela e a tarifa antidumping da China, a Aurora está exportando cerca de 50% do frango que produz. Normalmente, essa fatia é de 70%, segundo Lanznaster.

Embora esteja mais aliviado e otimista com a recuperação, ele ressaltou que o aumento das exportações de frango depende da melhora do acesso brasileiro aos mercados externos. Nesse sentido, disse confiar na melhora das relações com as autoridades europeias, que vetaram 20 frigoríficos brasileiros em abril – a Aurora não foi afetada pela decisão do bloco.

"Acho que, com o correr do dia, o Ministério da Agricultura mostrará que o frango brasileiro também é bom e vai retomar as exportações para a Europa", avaliou Lanznaster (Assessoria de Comunicação, 28/6/18)