As carnes devem cooperar no acordo EUA e China
As carnes são uma das saídas para auxiliar os chineses a chegarem ao valor acertado. A queda na produção de carne suína, devido à peste suína africana, faz o país buscar proteínas em todo o mundo.
Um aumento da participação americana neste setor poderia até reduzir os preços internacionais para os chineses. Neste início de ano, os valores da carne estão bastante aquecidos.
Em 2017, ponto de partida das comparações de compras, os chineses gastaram US$ 662 milhões nos Estados Unidos na compra de carne suína e derivados. Nos primeiros nove meses de 2019, o valor já atingia US$ 1,04 bilhão.
O mesmo poderá ocorrer com as carnes de frango e bovina. A de frango, cujas vendas somavam US$ 300 milhões para os chineses há cinco anos, recuaram para apenas US$ 36 milhões em 2017.
As vendas de carne bovina também têm muito espaço para crescer. Em 2017 somavam só US$ 31 milhões. A abertura do mercado do país asiático para as proteínas americanas será importante para a chegada aos US$ 12,5 bilhões.
A demanda chinesa será tão grande nos próximos anos que absorverá tanto o produto brasileiro como o americano.
No setor de grãos, os chineses devem elevar também as importações de trigo e de sorgo.
Há uma tentativa dos chineses de reorganizar a produção de carnes no país. Um limite imposto nas compras de milho pela China favorecerá a importação de sorgo e ampliará a de soja e a de DDGS, este último um produto resultante da fabricação de etanol de milho.
Em 2017, as compras chinesas de sorgo eram de 5 milhões de toneladas. Com a guerra comercial, caíram para 800 mil no ano passado. Há um bom espaço para uma retomada.
As compras de algodão e de celulose também desaceleraram e uma retomada aos patamares anteriores auxiliarão os chineses nessa meta de gastos agrícolas nos EUA.
As perdas do Brasil
As perdas do Brasil deverão ser espalhadas por diversos setores agropecuários, mas sem grandes consequências em todos eles.
O Brasil desenvolveu muito o mercado externo na última década, e uma redução da China nas compras aqui permitirá aos brasileiros recolocarem o produto em outros mercados.
As bases do acordo para 2021 podem afetar mais a soja brasileira. Os americanos deverão elevar a área de plantio de soja e, se o clima ajudar, terão uma produção maior.
Mas, para chegar aos US$ 19,5 bilhões de aumento previsto no próximo ano, a China não se limitará à soja, mas deverá importar outros grãos, mais carnes e mais alimentos processados (Folha de S.Paulo, 17/1/20)