Boas ofertas mantêm commodities sob pressão
No que depender do comportamento dos preços internacionais das principais commodities agrícolas exportadas pelo Brasil, os produtores do país ainda não têm muito o que comemorar. A pressão que prevaleceu nos últimos dois anos perdurou em janeiro, e as confortáveis relações globais entre oferta e demanda prometem continuar a dificultar eventuais reações das cotações ao longo dos próximos meses.
Cálculos do Valor Data baseados nos valores médios mensais de contratos futuros de segunda posição de entrega (normalmente os de maior liquidez) negociados em bolsas americanas mostram que, em janeiro, açúcar e suco de laranja, negociados em Nova York, e soja, referenciada em Chicago, registraram baixas em relação a dezembro. No mercado nova-iorquino, o café apresentou pequena reação, e o mesmo aconteceu com o milho em Chicago.
Na comparação, o suco de laranja registrou baixa de 2,11% e o açúcar, de 1,87%. Os preços de ambos os produtos, cujas exportações globais são lideradas pelo Brasil, subiram de forma expressiva em 2016, graças a quebras de safras no Centro-Sul do país, mas entraram em parafuso em 2017, com as recomposições das ofertas na região.
Ainda que o espaço para uma virada de tendência seja pequeno, no momento a possibilidade de reação das cotações é um pouco maior no caso do açúcar do que do suco. Isso porque as usinas brasileiras deverão privilegiar o etanol em detrimento do açúcar na próxima safra (2018/19), ao passo que a recomposição da oferta de suco de laranja, em linha com a normalização da colheita da fruta, segue inabalável.
Embora continue a pesar sobre os preços, o incremento da produção brasileira de café deu uma certa trégua no mês passado. Em Nova York, os contratos de segunda posição fecharam janeiro com valor médio 1,9% superior ao de dezembro, e as projeções de avanço da colheita brasileira no ciclo 2018/19 têm se mostrado um firme obstáculo a eventuais reações mais significativas. No ranking dos exportadores de café, o Brasil também é líder.
No que tange às "soft" negociadas em Nova York, apenas os exportadores brasileiros de algodão estão sorridentes. A commodity continua em ascensão sustentada sobretudo pela perda de competitividade das fibras sintéticas em virtude da alta do petróleo. Em janeiro, a valorização sobre dezembro foi de 6,86%.
Quem também continua com margens apertadas sob influência de cotações internacionais deprimidas são os grandes produtores de grãos do país. Depois de colheitas recorde no Cone Sul na safra 2016/17 e produções também robustas no Hemisfério já neste ciclo 2017/18, a oferta mundial é mais do que suficiente para atender à demanda.
Carro-chefe do agronegócio no Brasil, que lidera as exportações, a soja fechou janeiro com leve recuo de 0,14% sobre dezembro, levando-se em conta os futuros negociados em Chicago. Na mesma bolsa, o milho registrou alta de 1,63%.
Com a nova leva de variações negativas, só o algodão e o trigo encerraram janeiro com preço médio superior ao de janeiro do ano passado (9,25% e 1,82%, respectivamente). Todas as demais commodities agrícolas que têm o Brasil como grande exportador fecharam o mês com baixas na comparação.
A maior delas foi a do açúcar (31,09%), seguida pelas quedas do suco (18,18%), do café (16,29%), da soja (5,75%) e do milho (2,09%). É nesse contexto que o valor bruto da produção das principais lavouras brasileiras deverá confirmar as expectativas e diminuir em 2018 após praticamente uma década em alta (Assessoria de Comunicação, 1/2/18)