06/08/2024

Bolsa cai e dólar fecha em R$ 5,73 com temores de recessão nos EUA

Bolsa cai e dólar fecha em R$ 5,73 com temores de recessão nos EUA

Na sexta-feira (2), o dólar fechou em queda de 0,44%, aos R$ 5,709, e a Bolsa recuou 1,21%, aos 125.854 pontos - Dado Ruvic/Reuters

 

Sinais de fraqueza na economia norte-americana derrubaram mercados ao redor do mundo, com sentimento generalizado de aversão ao risco.

dólar fechou em alta de 0,53% nesta segunda-feira (5), aos R$ 5,739, com investidores temendo uma recessão na economia dos Estados Unidos.

A moeda chegou a R$ 5,865 na máxima do dia, mas a disparada arrefeceu após novos dados econômicos dos EUA diminuírem a percepção de risco dos investidores. A cotação de fechamento desta segunda é a maior desde 21 de dezembro de 2021, quando também estava em R$ 5,739.

Já a Bolsa brasileira fechou em queda de 0,46%, aos 125.269 pontos. Na pior momento da sessão, o Ibovespa chegou a marcar perdas de 2,2%, mas se recuperou ao longo do dia, também amparado por fortes ganhos do Bradesco.

Os mercados globais foram pressionados por temores de contração da maior economia do mundo.

Bolsa do Japão despencou mais de 12%, no pior resultado para um dia em 37 anos. Em um ponto, a queda nas ações acionou um mecanismo de "disjuntor" —o circuit breaker— que interrompe as negociações para permitir que os mercados digiram grandes flutuações.

"A resposta do mercado é um reflexo da deterioração da perspectiva econômica dos EUA", disse Jesper Koll, diretor da empresa de serviços financeiros Monex Group. "Foi um espirro de Nova York que provocou uma pneumonia japonesa."

O derretimento da Bolsa do Japão se estendeu por outros mercados, como Coreia do Sul (-8,8%), Taiwan (-8,35%), Singapura (-4,07%) e Índia (-2,6%). Na Europa, o índice STOXX 600 atingiu o nível mais baixo em mais de seis meses na mínima do dia e fechou em queda de 2,17%.

Já nos EUA, o Dow Jones perdeu 2,60%, enquanto o S&P 500 e Nasdaq derreteram mais de 3% cada.

 

Os efeitos dos temores de contração arrefeceram no Brasil no meio da tarde, quando a divulgação de uma medida da atividade do setor de serviços dos EUA diminuiu parte do pânico instalado nos mercados.

O PMI (índice de gerente de compras, na sigla em inglês) mostrou que o setor se recuperou mais do que o esperado para o mês de julho, a 51,4. A expectativa era de que o índice subiria para 51, após marcar 48,8 em junho, o nível mais baixo desde maio de 2020. Uma leitura acima de 50 indica crescimento da atividade.

"Houve uma grande liquidação de ações, com a Bolsa do Japão mergulhando e as dos EUA também. Mas ao longo do dia foi melhorando", comentou o gerente da mesa de Derivativos Financeiros da Commcor DTVM, Cleber Alessie Machado.

"O PMI norte-americano contribuiu para isso, diluindo o receio de que haverá um pouso forçado da economia."

A percepção de que a maior economia do mundo estava desacelerando começou a ganhar força após a divulgação de dados de mercado de trabalho, na sexta-feira.

O "payroll" (folha de pagamento, em inglês) mostrou que os EUA criaram 114 mil vagas no mês passado, ante expectativa de 175 mil, e a taxa de desemprego cresceu para 4,3%, quando agentes financeiros esperavam manutenção em 4,1%.

Os novos dados acionaram a chamada Regra de Sahm, que vincula o início de uma recessão ao momento em que a média móvel de três meses da taxa de desemprego sobe pelo menos 0,5 ponto percentual acima da mínima de 12 meses. Em agosto do ano passado, o índice estava em 3,8%, o que coloca a taxa atual exatamente no gatilho.

O payroll vem na esteira da manutenção dos juros na taxa de 5,25% e 5,50% pelo Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) na última quarta-feira (31). A decisão já era amplamente esperada, mas o comunicado que a sucedeu deu fôlego à tese de que a autarquia poderá iniciar o ciclo de afrouxamento monetário já no próximo encontro, em setembro.

Com os novos números, a tese se tornou uma aposta unânime entre os agentes financeiros. E, se antes a dúvida era sobre a possibilidade de corte, agora a discussão é sobre a magnitude.

Alguns dos grandes bancos de Wall Street, como JPMorgan e Citigroup, revisaram as previsões para o ano, antevendo, agora, um corte de 0,50 ponto percentual na taxa de juros na próxima reunião.

É o que também aparece na ferramenta CME FedWatch, que colhe estimativas de investidores sobre a política monetária norte-americana: 85,5% deles estimam que os juros irão cair em 0,5 p.p, enquanto os 14,5% restantes esperam 0,25.

No atual patamar desde julho de 2023, a taxa de referência é a mais alta em mais de duas décadas. Para alguns investidores, a percepção é de que o Fed talvez tenha esperado tempo demais para iniciar o ciclo de afrouxamento.

"O Fed pode ter dormido no ponto. Em especial na figura do presidente Jerome Powell, a autarquia foi mais 'dovish' no começo do ano, momento em que os dados de inflação estavam vindo estranhamente elevados. Nestas últimas semanas, quando os dados começaram a vir de forma mais moderada, o Fed tentou consertar a rota vindo um pouco mais 'hawkish' do que o necessário", diz César Garritano, economista-chefe da SOMMA Investimentos.

O termo "dovish" se refere a uma postura mais suave dos bancos centrais em relação a juros, normalmente indicando uma disposição maior para cortes. "Hawkish" é o contrário: demonstra um tom mais agressivo, com sinalizações de manutenção em patamares altos e até de maiores contrações.

Na análise de Garritano, o Fed foi "agressivo quando era para ser suave, e suave quando era para ser agressivo".

Depois da decisão da quarta-feira passada, e à luz da pressão dos mercados para o início do afrouxamento monetário, surgiram apostas de que o Fed poderia até fazer uma reunião de emergência para cortar os juros antes de setembro.

O mercado de swaps —cujo principal fim é antever movimentações para proteger investidores das variações no preço de moedas e outros ativos— agora precifica uma chance de cerca de 60% de um corte emergencial de 0,25 ponto percentual dentro de uma semana.

 

Na cena corporativa, a disparada do Bradesco freou maiores perdas no Ibovespa. As ações preferenciais e ordinárias subiram 7,59% e 8,30% após o banco divulgar que lucrou R$ 4,7 bilhões no trimestre passado —4,4% maior do que o reportado no mesmo período do ano anterior e 12% acima dos três primeiros meses de 2024.

Pão de Açúcar subiu 14,98%, na expectativa do balanço corporativo que será publicado na terça-feira.

Na ponta negativa, Vale recuou 4,02%. Os papéis ordinários e preferenciais da Petrobras fecharam em queda de 0,83% e 0,08%.

Os temores de uma recessão nos EUA também afetaram os mercados na sexta-feira (2). Em sessão marcada por alta volatilidade, o dólar fechou em queda de 0,44%, aos R$ 5,709, um dia depois de atingir R$ 5,734, a maior cotação desde 21 de dezembro de 2021.

A moeda norte-americana oscilou entre os sinais e chegou a atingir a máxima de R$ 5,793, até firmar queda no final da tarde.

Já a Bolsa recuou 1,21%, aos 125.854 pontos. O Ibovespa acompanhou os índices de Wall Street e foi pressionado por uma forte queda nos papéis da Petrobras, afetados pelo recuo dos preços do barril de petróleo no exterior (Folha, 6/8/24)