Bons preços elevam área de café em formação no país
Legenda: Colheita automatizada de café na Fazenda 7 Senhoras, do produtor Luiz Eduardo de Bovi, em Socorro (SP); ele investiu em mais maquinário para poder ter menos trabalhadores em campo durante a pandemia Eduardo Anizelli/Folhapress
Quando essa lavoura entrar em produção, produtividade média será ainda maior.
A área total de café vem caindo nas últimas décadas. Mesmo assim, o Brasil obtém produção recorde, como foi a de 2020, quando o país atingiu 63 milhões de sacas.
Essa evolução da produção se deve ao aumento de produtividade, que deverá ser ainda maior nos próximos anos.
O país tem, nesta safra, uma área de 392 mil hectares de cafezal em formação, um expressivo aumento de 41% em relação à anterior. Quando este café estiver produzindo, o que poderá ocorrer de um a três anos, o rendimento será bem melhor.
A área total de café no país é de 2,2 milhões de hectares. Deste volume, 1,82 milhão está em produção, segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).
Raquel Miranda, assessora técnica da Comissão Nacional do Café da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), diz que a produtividade move o setor. De 2008 a 2019, o avanço no café conilon foi de 105%, enquanto no arábica atingiu 70%.
Produtor mais capacitado, uso de tecnologia e melhor manejo foram fundamentais nessa aceleração da produção. Além disso, a busca da produtividade se faz necessária, devido aos aumentos de custos, principalmente os de mão de obra, segundo Miranda.
Neste período de pandemia, em que a migração de trabalhadores ficou limitada pelo coronavírus, as dificuldades dos produtores são ainda maiores, afirma.
Para um bom retorno financeiro, os produtores de café arábica devem obter de 40 a 50 sacas por hectare. Abaixo de 30, as finanças ficam comprometidas. A produção de arábica soma 68% da produção total do país nesta safra de bienalidade negativa.
Esse cenário de produção ideal é um pouco mais complicado para os pequenos produtores, que têm um gargalo maior na adoção de tecnologias e dificuldades na obtenção de crédito.
Produtividade e qualidade são, cada vez mais, os principais focos do setor, segundo a assessora da CNA. Essa evolução é tanta que, em algumas regiões do país, os produtores estão quebrando paradigmas e obtendo um café conilon 100% bebida. Em geral, o produto serve para brend com o arábica.
Esse aumento de novas áreas em formação é favorecido por uma conjuntura atual. Este é um ano de bienalidade negativa, quando as lavouras produzem menos. Um ano de boa safra, como foi o de 2020, sempre é seguido por um de produção menor.
Por isso, os produtores optam por uma renovação das lavouras nesse período de menor produção, o que permite uma redução até nos custos com a colheita, segundo Bernardino Cangussú, engenheiro agrônomo e coordenador técnico estadual da Emater/MG.
Esse aumento de renovação de área é provocado, também, pela crise hídrica que assola o país, segundo Miranda. O produtor aproveita o bom momento de preços do produto para renovar as lavouras menos produtivas e mais afetadas pela seca.
Os 392 mil hectares de cafezal em formação não são áreas novas. Eles incluem o esqueletamento —nome dado à poda dos ramos laterais da planta—, a recepa, um corte drástico da planta a 40 centímetros do chão, e a renovação de áreas antigas por plantas novas (Folha de S.Paulo, 9/6/21)