31/03/2020

BR Distribuidora e Raízen declaram “força maior” nas compras de etanol

BR Distribuidora e Raízen declaram “força maior” nas compras de etanol

As principais distribuidoras de combustível do Brasil, BR Distribuidora e Raizen, declararam força maior nas compras de etanol das usinas de cana-de-açúcar em meio à queda da demanda de combustível na maior economia da América Latina, segundo fontes com conhecimento do assunto.

A BR Distribuidora e a Raizen, uma joint venture entre a Royal Dutch Shell Plc e o conglomerado brasileiro de cana-de-açúcar e logística Cosan, enviaram uma carta aos seus fornecedores de etanol cancelando os contratos de compra, segundo as pessoas. O cancelamento inclui o etanol anidro, misturado à gasolina, e o tipo hidratado, usado diretamente no motor dos carros.

Raizen confirmou que declarou força maior e a BR Distribuidora não respondeu imediatamente ao pedido de comentário feito pela Bloomberg News.

As duas empresas, responsáveis pela maior parte das vendas de combustíveis no Brasil, disseram na declaração de força maior que o consumo caiu nos postos de gasolina do país em meio à paralisação da economia por conta do coronavírus. Raizen também disse que não tem capacidade suficiente em seus negócios de distribuição para armazenar etanol de terceiros em meio à queda no consumo de combustível. A Raizen também é o maior produtor de etanol do Brasil e, como a maioria das usinas de cana-de-açúcar, tem capacidade de armazenamento para a maior parte da sua própria produção anual.

Como primeira medida, os produtores de etanol afetados estão negando o motivo de força maior alegado pelos distribuidores e abrindo a possibilidade de discussão, disseram as pessoas. Se isso não resolver o problema, pode-se abrir uma disputa com um juiz de arbitragem para decidir o assunto, disse uma das pessoas.

Queda no consumo

O consumo de combustível nos postos caiu 50%, em média, em uma semana, com algumas quedas de 60%, enquanto os motoristas ficam em casa para ajudar a retardar a disseminação do coronavírus, disse Paulo Miranda Soares, presidente de um grupo da indústria que representa postos de gasolina, em 25 de março. ANP disse em nota que a queda "abrupta" no consumo de gasolina só piorará nas próximas semanas.

A maioria das usinas de etanol no Brasil já iniciou a colheita e a moagem de cana-de-açúcar, enquanto em meados de abril ainda mais unidades entram em operação, elevando a oferta de etanol. Como a cana já está amadurecendo, as usinas não têm opção de interromper a colheita e a produção, disse uma pessoa. Eles estão refazendo as contas e se preparando para estocar praticamente tudo o que devem produzir até pelo menos o mês de junho, disse uma pessoa.

De acordo com a Unica, as usinas do Centro-Sul, a maior região produtora de cana do país, têm capacidade suficiente para estocar 60% da produção anual total de etanol em tanques. O principal problema é o custo para manter esses grandes estoques sendo que, sem vender, as usinas não têm receita, disse Antonio de Padua Rodrigues, diretor técnico do grupo industrial Unica, em 25 de março.

O coronavírus e o petróleo barato estão atingindo o setor de combustíveis em todo o mundo. A Valero Energy Corp. dos EUA, a refinaria de petróleo número 2 dos EUA, está fechando temporariamente duas plantas e não cumprirá alguns contratos. A Andersons Inc. está suspendendo as operações em suas fábricas e a POET "cessou temporariamente as compras de milho em vários locais". A Pacific Ethanol Inc. está reduzindo a produção em até 60% (Bloomberg, 30/3/20)


Raízen declara força maior para compra de etanol; BR fala em flexibilizar volumes

© Reuters. Carro é abastecido com etanol em posto de combustíveis no Rio de Janeiro

Legenda: Carro é abastecido com etanol em posto de combustíveis no Rio de Janeiro;  REUTERS/Sergio Moraes

A Raízen, uma das maiores distribuidoras de combustíveis do Brasil, declarou força maior em contratos de compra de etanol de usinas locais, em um mercado impactado pelos efeitos do coronavírus, enquanto a BR Distribuidora, a maior do setor, disse que identificou a necessidade de flexibilizar volumes.

A Raízen confirmou informações de fontes do mercado, que relataram mais cedo o movimento.

A empresa, joint-venture 50-50 entre Cosan e Shell, enviou uma carta a todos seus fornecedores de etanol na última sexta-feira afirmando que não vai cumprir contratos para compra de etanol devido à queda no consumo de combustíveis no Brasil, causada pelo isolamento relacionado à pandemia de coronavírus, afirmaram as fontes.

“Em razão da queda na demanda por combustíveis verificada por conta das medidas de ‘lockdown’ para combate à pandemia de coronavírus, a Raízen começou a sinalizar aos seus fornecedores de etanol a necessidade de revisão dos volumes originalmente programados”, disse a companhia, em nota à Reuters.

A Raízen, além de distribuidora de combustíveis, também tem uma divisão que atua na produção de etanol, açúcar e bioenergia.

“Embora ainda não estejam claros, neste momento, todos os impactos que esta crise trará para as suas operações, a Raízen está focada em fortalecer suas parcerias estratégicas com fornecedores de etanol”, acrescentou.

“Neste sentido, optamos, como outras empresas do setor, por dar a notícia sobre o evento de força maior em curso o quanto antes possível, de maneira a permitir que os fornecedores possam planejar suas operações com base nisso.”

“Nós recebemos a carta”, disse um corretor de São Paulo que pediu para não ser identificado, uma vez que as negociações são privadas.

Ele afirmou que o mercado de etanol no Brasil está desordenado em meio ao isolamento, com apenas alguns negócios ocorrendo, uma grande diferença entre as ofertas das usinas e das distribuidoras, e muita incerteza para os próximos dias.

“A pandemia levou a uma queda imediata e expressiva da demanda pelos produtos comercializados pela Raízen em todo país, caracterizando-se, portanto, como um evento de força maior... A Raízen se vê impedida de cumprir com as obrigações decorrentes dos contratos”, aponta uma carta enviada pela empresa, a qual a Reuters teve acesso.

“Não iremos retirar a integralidade dos volumes apontados para o mês de março, bem como faremos a revisão dos volumes aplicáveis aos meses subsequentes que forem necessários para a compatibilização das compras da Raízen com a efetiva demanda do mercado pelos seus produtos”, completou a companhia.

A notícia foi divulgada inicialmente pela Bloomberg.

BR

Já a BR Distribuidora afirmou, após ser procurada, que o cenário atípico fez com que a companhia identificasse a “necessidade de flexibilizar o percentual de variação de volume assegurado em contrato até que todo o mercado se normalize”.

Mas, ressaltou a empresa, isso não representa cancelamento de contratos de etanol.

O movimento da BR visa “somente reduzir o volume mensal de aquisição em percentual superior ao previsto em contrato, sem que isso implique em descumprimento do mesmo”.

“Ressalta-se ainda que contratualmente há uma cláusula que exclui a responsabilidade das partes contratantes em caso fortuito ou de força maior.”

Paralelamente, a BR disse que também tomou algumas medidas junto a sua revenda, prorrogando, por exemplo, o prazo para cumprimento do volume contratado, “entendendo que o momento é de espírito colaborativo, unindo forças para minimizar o impacto da crise em todos os atores envolvidos” (Reuters, 30/3/20)