04/11/2021

‘Brasil não está no nível de outros países no ESG’, diz presidente da EDP

‘Brasil não está no nível de outros países no ESG’, diz presidente da EDP

presidente do grupo  EDP -Miguel Stilwell - Foto divulgação

Apesar do avanço das práticas ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês) nos últimos anos, o Brasil ainda está um passo atrás em relação a outras nações do mundo, sobretudo da Europa.

Em entrevista ao Estadão, o presidente do grupo português EDP, Miguel Stilwell, afirma que o País ainda não está tão alinhado com o ESG como outros locais.

“Na Europa, é difícil ter uma conversa com um investidor que não passe pelo ESG. O Brasil ainda não está nesse nível.” De passagem pelo País para inaugurar o primeiro parque solar no País, de 252 MW, em Pereira Barreto (SP), o executivo afirmou que a empresa tem trabalhado para tornar seu portfólio de geração 100% renovável até 2030.

Isso significa investir cerca de € 25 bilhões entre 2021 e 2025 e se livrar de algumas térmica a carvão que a empresa ainda tem no porfólio.

Como o sr. compara o ESG no Brasil e na Europa?

Brasil ainda não está tão alinhado como outras geografias. A Europa claramente está dedicando muito tempo e atenção a isso. Por lá, os investidores pressionam as empresas e privilegiam primeiro aquelas que têm boas práticas de ESG. Vemos isso de uma forma muito concreta.

E eles penalizam quem não tem as boas práticas. No Brasil, temos de seguir a prática alinhada com o resto do grupo, de adotar as melhores práticas em nível mundial. Temos uma vice-presidente focada especificamente em ESG.

A exigência aqui é menor?

Aqui não existe apreciação tão clara por parte dos investidores em relação ao tema ESG. Na Europa, é difícil ter uma conversa com um investidor que não passe pelo ESG. Eles têm pessoas que escrutinam as empresas para verificar se estão cumprindo as regras.

O Brasil ainda não está nesse nível. Mas acreditamos que isso vai crescer e se tornar um tema cada vez mais relevante.

Qual é a exigência lá fora?

Lá há um escrutínio muito grande em relação ao que são as práticas concretas e mensuráveis. Não pode ser um programa simplesmente com boas intenções. Os investidores olham e premiam, de fato, quem consegue corresponder às expectativas. Nós, por exemplo, temos uma política ativa de promoção para mulheres. Em nível global, temos 25% de mulheres no grupo e vamos chegar a 30% até 2025. São metas concretas.

Para o investidor, há um peso diferente entre o social, ambiental e a governança?

Governança é uma precondição para os investidores aplicarem seus recursos. Boa governança quer dizer ter boas práticas éticas e ter profissionais experientes. O ambiental também passa a ser um tema crítico.

Os investidores exigem saber qual é a política ambiental, de sustentabilidade e de combate às alterações climáticas, ainda mais para a EDP, que tem algumas emissões de CO2. Eles querem saber como, quanto e quando vamos reduzir. No social, os investidores ainda não têm o mesmo nível de escrutínio.

Onde o carvão ainda está presente no grupo?

Hoje temos na península ibérica e no Brasil. Cerca de 74% da nossa geração já é com energias renováveis. Vamos para 100% em 2030. O carvão representa 5% dos resultados totais. Já fechamos algumas na Europa e outras estão em fase de fechamento. Aqui, temos uma central muito eficiente. Estudamos algumas alternativas.

Qual fonte é prioridade para o grupo?

Mais de 95% do nosso histórico é eólico. Vimos que a eólica era muito competitiva. Mas o custo da solar caiu muito. Hoje, dependendo da região, usamos a eólica ou a solar, ou, às vezes, as duas (Estadão.com, 3/11/21)