Brasil será líder em alimentos,mas precisa de caminho seguro diz executivo
Desafios vão da busca de eficiência à mudança de grades de estudos nas universidades.
O futuro agrícola está garantido para o Brasil. Em 30 anos, haverá uma reposição dos principais PIBs (Produto Interno Bruto) no mundo e duas das maiores economias vão estar longe da agricultura e dependentes do Brasil.
A avaliação é de Paulo Herrmann, presidente da John Deere, e foi feita nesta terça-feira no 8º Congresso Brasileiro de Soja”. A China terá um crescimento do PIB dos atuais US$ 12 trilhões para US$ 50 trilhões em 2050. A Índia subirá de US$ 2,6 trilhões para US$ 28 trilhões.
Serão duas nações ricas, populosas e sem produção agrícola suficiente para abastecer os seus 4 bilhões de pessoas. Para o executivo da John Deere, a China será a número um na indústria e a Índia vai liderar a área de serviços. O Brasil, que será a sexta maior economia do mundo, será o país do abastecimento alimentar mundial.
“Os Estados Unidos serão uma incógnita. Vão fazer um pouco de tudo, mas continuarão com um comércio interno muito forte”. O poder agrícola deles, porém, vai diminuir.
O Brasil precisará, no entanto, construir esse caminho de liderança mundial em alimentos com segurança. As pressões virão de várias formas. Primeiro, será a imposição de alíquotas, que poderão ser derrubadas em organismos internacionais, como a Organização Mundial do Comércio.
O país será alvo também de barreiras sanitárias. “Neste caso, não dá para brigar. É melhor construirmos um sistema profissional de controle sanitário.” E, finalmente, virão as contestações ambientais.
Os brasileiros têm de ficar espertos nessas negociações mundiais. “Às vezes, somos ingênuos”, diz ele.
A economia agropecuária brasileira passou por várias revoluções nas últimas décadas, como o plantio direto e a produção de grãos na segunda safra. É preciso, no entanto, consolidar outras.
mais recente é a da integração lavoura pecuária, que traz uma integração mais eficiente entre soja, milho, bois e eucaliptos. O país já tem 11 milhões de hectares nesse sistema de produção.
Para atingir o futuro, o país precisará superar desafios do presente. Entre eles está o da conectividade. A tecnologia nas máquinas agrícolas só tem função se houver uma possibilidade da coleta e transmissão de dados. “Caso contrário, são enfeites”.
O país precisa também ter uma harmonia geracional. Trazer os filhos para perto dos pais e mantê-los no campo, afirma Herrmann.
Para o executivo da John Deere, o país ainda tem um sério problema de capacitação. A tecnologia vem evoluindo, mas a educação continua no mesmo ponto. “A formação de hoje é obsoleta porque as grades de ensino das universidades são vacas sagradas. E estão ligadas a chefes de departamento”.
A inteligência artificial já está nas máquinas, que estão próximas de tomar decisões, mas ainda não constam dos estudos das universidades, afirma Herrmann.
A pesquisa precisa acompanhar a evolução do Brasil e os sistemas de produção devem ser integrados. O executivo da John Deere destaca ainda que o país necessita redesenhar o modelo de extensão rural. “Ele deve ser menos assistencialista e mais efetivo.”
O setor agrícola precisa buscar eficiência e acabar com o “é ruim, mas está bom”. Um estudo em uma fazenda modelo apontou que as máquinas trabalham apenas 2,4 horas por dia no período da safra. “Se trabalharmos com eficiência, poderemos tirar 10% das máquinas do campo”, diz Herrmann.
Para ele, o Brasil precisa dobrar a produção em dez anos. “Se o país não o fizer, os chineses farão. Afinal, falta de alimentos é questão de segurança e provoca guerras” (Folha de S.Paulo, 14/6/18)