14/06/2018

BRF se diz vítima de "guerra comercial"

 Jorge Luiz de Lima, da BRF, disse que Operação Trapaça foi pretexto para ofensiva protecionista de Irlanda e França

Em uma declaração rara pela sinceridade – e dramaticidade -, o vice-presidente de eficiência corporativa da BRF, Jorge Luiz de Lima, disse ontem que as agroindústrias do Brasil se tornaram alvo de tantos ataques internacionais que a dona da Sadia e Perdigão sequer consegue ter "estabilização emocional" para realizar os estudos necessários para a revisão de seu parque fabril.

O executivo, que também comanda as operações da BRF no Cone Sul, participou ontem de uma audiência pública na Comissão de Agricultura do Senado. A reunião foi solicitada pela senadora Lúcia Vânia (PSB-GO) para tratar dos impactos da crise da BRF em Goiás, onde a empresa paralisou temporariamente duas plantas após o embargo da União Europeia.

A avaliação de Lima sobre o futuro é pessimista, particularmente para a BRF. Por ser líder nas exportações globais de carne de frango, a empresa é a mais atacada, afirmou. Na visão dele, o pano de fundo para os ataques disparados contra as carnes brasileiras por Rússia, UE, Arábia Saudita e China é a "guerra comercial" iniciada pelo presidente americano, Donald Trump.

"A guerra está declarada contra o agronegócio. Isso é muito claro", disse, também criticando as tarifas antidumping aplicadas na semana passada pela China contra o frango brasileiro. "Estamos sob pressão. A China está forçando a gente a negociar preços". Com as atuais tarifas – de 18% a 38% -, vender aos chineses é o mesmo que "perder dinheiro", afirmou.

Para a BRF, sofrer ataques na operação brasileira é delicado. Segundo Lima, a produção da empresa no Brasil é responsável por mais de 90% das vendas. No ano passado, a receita da BRF foi de R$ 33 bilhões. Ontem, após as declarações de Lima, as ações da empresa na bolsa intensificaram o movimento de baixa, recuando 2,84%.

No mercado internacional, a situação da BRF se agravou em março, com a deflagração, pela Polícia Federal, da Operação Trapaça. A investigação apura fraudes que teriam sido cometidas pela empresa em testes para a detecção da bactéria salmonela em lotes carne de frango para exportação. Em reação, os europeus proibiram a BRF de vender ao bloco.

Aos senadores, Lima questionou os argumentos da UE. Segundo ele, a Operação Trapaça é um pretexto para uma "nítida" ofensiva protecionista da Irlanda e da França. O problema disso é que, ao ficar fora da União Europeia, a BRF perdeu um mercado relevante para a carne de peru. Com isso, a empresa terá de cortar a produção, o que pode ocasionar demissões.

"Se não tem demanda, não tem onde vender", resumiu vice-presidente da BRF, que decidiu desativar uma linha de produção de peru em Mineiros (GO). Segundo Lima, a empresa tem feito "o possível e o impossível" para não fechar plantas (Assessoria de Comunicação, 13/6/18)