Café conilon tem preços recordes nos mercados interno e externo
Café conilon - Foto Divulgação
Estoques, fretes, oferta mundial e conflitos no mar Vermelho aquecem os preços.
O café conilon está com preços recordes no Brasil, um reflexo do que ocorre também no mercado internacional. São vários os fatores que provocam essa aceleração. Entre eles, estoques, produção, demanda, clima e até problemas geopolíticos, segundo Guilherme Morya, analista de café do Rabobank, banco especializado em agronegócio
A aceleração dos preços internos é mostrada pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) e a do mercado externo pela Bolsa de Londres, que indica tendências para as negociações internacionais.
Em julho do ano passado, o conilon já atingia preços elevados, subindo para US$ 2.859 por tonelada, em Londres. Neste ano, chegou a US$ 3.400, devido à oferta menor. Os números globais mostram os motivos dessa alta.
A oferta global de café será de 174 milhões de sacas em 2023/24, com alta de 6% em relação à anterior. Essa evolução, no entanto, é puxada pelo aumento de café arábica, que sobe 12%. Já a oferta de conilon terá retração de 1%.
Os preços são sustentados também pelos estoques baixos, que estão próximos dos menores patamares históricos, segundo Morya. O normal é um volume entre 3 milhões e 3,5 milhões de sacas, mas está atualmente em 450 mil.
O clima também afeta o mercado, principalmente nos países asiáticos, onde o El Niño provoca adversidades climáticas ainda mais acentuadas. Vietnã e Indonésia, países dessa região, são importantes na produção mundial.
O analista do Rabobank acrescenta os novos conflitos geopolíticos como mais um fator de pressão. O café dos asiáticos e de parte dos países africanos destinado à Europa, o maior consumidor mundial, passa pelo mar Vermelho, uma região de atritos.
O desvio de rota retarda a entrega do café e eleva os custos. Até janeiro, o transporte por contêiner de 40 pés custava US$ 1.700. Agora está em US$ 3.900.
Morya diz que a situação internacional afeta também o mercado interno, onde o Cepea aponta preços nominais de R$ 841 por saca para do café conilon, os valores mais elevados da série histórica, iniciada em 2001.
O analista diz que normalmente o café conilon brasileiro fica para a demanda interna, mas os preços externos aquecidos permitem que o país exporte mais.
Em 2023, saíram 4,7 milhões de sacas desse tipo de café pelos portos brasileiros, um volume 213% acima do 1,5 milhão de 2022.
A elevação dos preços do café conilon estreitou a diferença com os valores de negociação do arábica, e fez a indústria brasileira utilizar menos conilon e mais arábica no blend final. Com isso, sobrou mais conilon para exportações.
O aumento de preço do café chega de forma diferente ao bolso do consumidor. Conforme pesquisa da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), o café solúvel, que tem como base o conilon, teve alta acumulada de 6,6% nos últimos 12 meses. Já o café em pó, um blend com participação maior de arábica, teve retração de 9,6% nos preços (Folha, 8/2/24)