21/09/2018

Campanha de Bolsonaro prega voto útil para tentar ganhar no 1º turno

Campanha de Bolsonaro prega voto útil para tentar ganhar no 1º turno

Embalada pelas mais recentes pesquisas eleitorais que apontaram franca vantagem, a campanha do candidato do PSL, Jair Bolsonaro, decidiu intensificar a pregação pelo voto útil a fim de tentar garantir uma vitória do presidenciável ainda no primeiro turno, de modo a evitar um provável confronto contra o adversário petista, Fernando Haddad, numa segunda rodada.

A principal estratégia é defender que o eleitor vote já primeiro turno em Bolsonaro em vez de optar por candidatos da preferência pessoal —como Geraldo Alckmin (PSDB), Alvaro Dias (Podemos) e João Amoêdo (Novo)— e deixar para optar pelo nome do PSL somente na segunda rodada de votação.

Contudo, a tarefa é difícil a 17 dias do primeiro turno. No Ibope divulgado na terça-feira, Bolsonaro tem 35 por cento dos votos válidos, que excluem os eleitores que anulariam ou votariam em branco. Para vencer no primeiro turno, o candidato tem de ter metade mais um dos votos válidos.

O candidato do PSL também tem apresentado, nas pesquisas eleitorais, altos índices de rejeição, o que, em tese, dificulta um crescimento a ponto de vencer a corrida no primeiro turno.

Nas eleições desde a redemocratização, apenas o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso conseguiu vencer disputas presidenciais no primeiro turno, em 1994 e 1998.

A expectativa maior entre os aliados do candidato ouvidos pela Reuters nos últimos dias é que Bolsonaro vá para o segundo turno, ainda mais diante do fato de que o presidenciável está impossibilitado de fazer agendas de campanha na rua por estar se recuperando de cirurgias após o atentado à faca que sofreu duas semanas atrás.

Ainda assim, o coordenador da campanha de Bolsonaro em São Paulo, deputado Major Olimpio (PSL), afirmou que os aliados vão defender o voto útil como forma de liquidar a disputa presidencial, numa espécie do que consideram que será uma antecipação da derrota petista.

“Para não ter o espectro, o medo da praga de que o PT vai voltar, tenho certeza que esse voto útil vai aumentar muito na urna”, disse Olimpio.

O coordenador afirmou que Bolsonaro, a quem visitou na véspera no hospital, deu a ordem de reforçar a campanha nessa reta final e evitar polêmicas.

Do hospital, o candidato cobrou na quarta-feira explicações por telefone de seu principal assessor econômico, Paulo Guedes, sobre a proposta de criação de um imposto nos moldes da CPMF. Recentes declarações do candidato a vice na chapa, general Hamilton Mourão (PRTB), também causaram desconforto dentro da campanha e a ordem é que ele não represente Bolsonaro em debates.

“Não vamos inventar a roda, é fazer o feijão com o arroz”, disse Olimpio.

Reservadamente, aliados de Bolsonaro contam também com o chamado voto “envergonhado” no presidenciável do PSL para impulsionar o apoio a ele na primeira etapa. Seriam pessoas que publicamente não dizem que votarão nele, mas, na votação secreta, vão apoiá-lo.

Segundo interlocutores, se tiver autorização médica, Bolsonaro também deve fazer novas gravações ao vivo para pedir votos até o primeiro turno —no domingo passado ele já fez uma transmissão ao vivo do hospital.

Outro caminho, já em ação, é divulgar novos vídeos com imagens antigas dele pelas redes sociais.

O presidente licenciado do PSL, Luciano Bivar, disse ainda que a estratégia da campanha de Alckmin, que começou a divulgar vídeos em que defende voto útil no tucano para fazer frente a Bolsonaro e a Haddad, pode vir a beneficiar o candidato do PSL.

“Tenho a impressão que o Alckmin arranjou um marqueteiro que rema contra ele”, ironizou o presidente licenciado à Reuters na quarta-feira. Para ele, “parte significativa” dos votos ao tucano deve ir para Bolsonaro (Reuters, 20/9/18)