Campo retira apoio à greve dos caminhoneiros
Produtores afirmam que movimento perdeu objetivos e põe em risco sociedade.
O namoro acabou, e o campo está retirando o apoio dado à paralisação dos caminhoneiros. Produtores já veem insensatez dos grevistas e riscos para toda a sociedade.
Os pedidos do setor de transporte foram todos atendidos e, por isso, a Aprosoja (Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso) está retirando máquinas e faixas de apoio ao movimento.
A Aprosoja foi a primeira entidade a apoiar os caminhoneiros, não apenas colocando máquinas agrícolas ao lados dos caminhões mas também dando suporte alimentar aos grevistas.
As conquistas do movimento grevista acabaram se voltando contra o próprio campo, um dos setores que mais se utilizam de transporte de caminhões —só de grãos, são 240 milhões de toneladas movimentadas por ano.
Uma das cláusulas discutidas é a criação de uma tabela mínima de frete.
"Não concordamos com isso. O tabelamento dos fretes seria repassar os custos de um setor para outro", diz Antonio Galvan, presidente da Aprosoja-MT.
Alexandre Schenkel, presidente da Ampa (Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão), uma outra associação que apoiou a manifestação logo no início, diz que a greve chegou a um estágio político e de baderna.
"Já há uma insegurança e risco para todo o agronegócio, principalmente para os irmãos da produção de proteínas", diz Schenkel.
A permanência da greve vai afetar toda a população, com o risco de a desestruturação da produção de algumas áreas vir acompanhada de ágios nos preços, segundo o presidente da Ampa.
"Vamos pagar um custo alto pela insensatez de um pessoal que buscou uma série de reivindicações, mas agora não consegue parar", diz ele."
Schenkel alerta, no entanto, para o fato de que, na sequência desse movimento, deve ser iniciada imediatamente uma reforma tributária.
Para Galvan, da Aprosoja, além da reforma tributária, é urgente um ajuste de custo no Executivo, Legislativo e Judiciário. "Gastam muito e são uma casta privilegiada", afirma.
Um produtor do setor de milho diz que a participação dos produtores na greve já diminuiu muito e os que permanecem estão radicalizando.
"Acabou a brincadeira. Ponham o Exército nas ruas, mas para permitir que a população volte a trabalhar e não para governar", diz ele.
A pecuária também sofre as consequências dessa greve prolongada. Para um pecuarista, o boi não pode circular pelas estradas e chegar aos frigoríficos, mas as contas deste final de mês já estão chegando.
"Neste momento, não é mais um movimento de reivindicações, mas de badernas", acrescenta o pecuarista.
Schenkel lembra que o país deverá colher uma safra recorde de algodão neste ano. Nos próximos 15 dias, embora ainda em ritmo lento, as máquinas vão ao campo para a colheita.
Boa parte desse produto já foi vendida para o exterior. Se as estradas não estiverem livres, o Brasil perderá credibilidade com os importadores.
O setor de proteínas, o mais afetado pela parada dos caminhoneiros, foi contra a paralisação desde o início do movimento.
A interrupção das estradas não permitiu a chegada de rações e de outros insumos às granjas, assim como não permitiu a retirada de animais do campo para as unidades frigoríficas.
Pelo menos 70 milhões de animais já morreram por falta de comida. Além disso, se tornou frequente o canibalismo entre animais nas granjas (Folha de S.Paulo, 30/5/18)
Ruralistas batem boca em reunião tensa sobre apoio aos caminhoneiros
Criadores de frangos questionam produtores de grãos por incentivar movimento que trava o país.
Um comboio com mais de cem caminhões foi barrado por manifestantes nesta terça-feira (29) em Rondonópolis, em Mato Grosso, um dos principais eixos de escoamento de soja do país, apesar da escolta da Polícia Rodoviária Federal.
Apenas cinco veículos conseguiram furar o piquete, enquanto o restante foi obrigado a voltar.
A vitória dos motoristas, que até o fechamento desta edição ainda bloqueavam a via de acesso à cidade, é um um sinal de que o movimento dos caminhoneiros segue forte no interior do Brasil, embora tenha perdido ímpeto nas áreas próximas às metrópoles.
Em Chapadão do Sul (MS) e em Bauru (SP), manifestantes cortaram os trilhos e retiraram parafusos das ferrovias, para evitar que produtos fossem escoados por trem.
Já em Holambra (SP), motoristas foram ameaçados com armas de fogo para que não seguissem viagem.
A situação também era grave em Colorado (PR), conforme relatos recolhidos pela Frente Parlamentar Agropecuária.
Nas regiões de maior produção agrícola, a greve vinha tendo apoio expressivo do setor rural, que agora ensaia um recuo e tenta se dissociar do movimento, após uma reunião tensa em Brasília nesta terça.
Segundo relatos de pessoas presentes, ouvidas sob condição de anonimato, houve bate-boca a portas fechadas entre os representantes de 18 entidades, incluindo os setores de de grãos, aves e suínos, frigoríficos, caminhoneiros autônomos e transportadoras.
Com os animais morrendo de inanição nas granjas por falta de ração, frigoríficos exortavam os produtores de grãos a "parar de levar comida para a beira da estrada" aos manifestantes.
Os produtores de grãos, por sua vez, respondiam que os manifestantes tinham razão de reclamar da escalada do preço do óleo diesel, enquanto os caminhoneiros diziam que conhecem a realidade do campo porque vêm de famílias de produtores rurais.
No fim da reunião, acabou prevalecendo um posicionamento contrário à paralisação, por receio de que o movimento seja usado politicamente por grupos favoráveis a uma intervenção militar.
Entidades e parlamentares saíram do encontro declarando publicamente que haviam "terroristas infiltrados nas mobilizações" e pedindo ao governo que efetue prisões.
"O que no começo era uma greve legítima se transformou num instrumento de caos social", disse à Folha o deputado Marcos Pontes (PSD-MG)
Também pesou no recuo do setor agrícola o fato de os caminhoneiros terem conseguido do governo uma tabela de frete mínimo, o que prejudica os produtores.
"Não concordamos com isso. O tabelamento dos fretes é repassar os custos de um setor para outro", disse Antonio Galvan, presidente da Aprosoja-MT.
Nos primeiros dias da paralisação, Galvan chegou a gravar um vídeo de apoio aos grevistas, conclamando os produtores a levar tratores para bloquear estradas.
Alexandre Schenkel, presidente da Ampa (Associação Mato-Grossense dos Produtores de Algodão), outra entidade que apoiou a manifestação, disse agora que o protesto chegou a um estágio político de baderna.
"Já há uma insegurança e risco para todo o agronegócio, principalmente para os irmãos da produção de proteínas", afirmou.
Após nove dias de paralisação, a conta chegou para diversos setores: milhões de aves ainda podem morrer de inanição; 400 mil toneladas de soja deixaram de ser escoadas; 360 milhões de litros de leite foram jogados fora e as usinas de açúcar e álcool estão todas paradas.
Segundo a CNA (Confederação de Agricultura e Pecuária), a perda estimada de produção agrícola já ultrapassa R$ 6,6 bilhões.
Os produtores vinham apoiando os caminhoneiros por causa do aumento do diesel e da insatisfação com o governo Michel Temer.
Os agricultores estão especialmente insatisfeitos com o embate sobre o Funrural.
O imposto havia sido declarado inconstitucional pela Justiça, mas a União recorreu e venceu, deixando uma pesada dívida para o setor.
Também colaborou o fato de que muitos produtores aproveitaram os juros baratos do Finame/BNDES durante o governo Dilma Rousseff para comprar caminhões e abrir pequenas transportadoras.
Em razão disso, o aumento do preço do diesel passou a impactá-los não só dentro da propriedade, mas também no novo negócio. Muitos nem acabaram de pagar o financiamento dos veículos.
A percepção das pessoas presentes ao encontro em Brasília é que os caminhoneiros não confiam na medida provisória assinada por Temer e querem esperar a publicação da tabela de frete mínimo, o que deve ocorrer nos próximos dias, para ter a certeza de que os valores ficarão acima dos atuais (Folha de S.Paulo, 30/5/18)
Produtores rurais do Brasil têm prejuízo de R$6,6 bi com protestos
Os produtores rurais brasileiros já contabilizam prejuízos de 6,6 bilhões de reais em decorrência dos protestos de caminhoneiros, que se arrastam há nove dias, afirmou a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), em nota.
“Este prejuízo é apenas na produção primária, sem considerar ainda o processamento, as indústrias e a parte de insumos, que estão tendo prejuízos severos. E ainda fora o que está por vir, porque a recuperação não é imediata”, destacou no comunicado o superintendente técnico da CNA, Bruno Lucchi.
Para ele, o tempo que o produtor deve levar para se reestruturar é de seis meses a um ano. “Animais estão morrendo, alimentos perecíveis como hortaliças e leite são desperdiçados. O impacto é econômico, social e ambiental”, afirmou Lucchi, que prevê um “caos extremo” na produção de alimentos se as manifestações continuarem (Reuters, 29/5/18)