13/03/2024

Cepea/USP: Preço da laranja alcança maior patamar em 30 anos em São Paulo

Cepea/USP: Preço da laranja alcança maior patamar em 30 anos em São Paulo

CAIXAS DE LARANJAS-Foto Fábio Tito g1

Laranjas em caixas aguardam transporte após receberem aplicação da cera de carnaúba em packing house da Citrícola Lucato, em Limeira (SP) — Foto: Fábio Tito/g1

 

Levantamento aponta que o mês de março começou com ofertas limitadas de laranja, que impulsionaram alta dos preços.

Em fevereiro, o preço da laranja chegou ao maior patamar dos últimos 30 anos no estado de São Paulo, de acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq, o campus da Universidade de São Paulo (USP), em Piracicaba (SP).

No acumulado dos últimos doze meses, o valor da fruta superou a cotação nacional. As explicações para o aumento são as altas temperaturas registradas e os impactos do greening, doença provocada por bactéria que afeta a citricultura no mundo

O produtor do setor em Mogi Mirim (SP), João Salani, aponta que a produção chegou a cair em 50% nos últimos anos devido ao greening. “A doença foi atacando as lavouras ao poucos e avançou”, disse.

As oscilações de temperatura também prejudicaram a safra, por consequência, nos valores da fruta. Somente em fevereiro deste ano, foi observado um reajuste de 29%, segundo o Índice de Preços Ao Consumidor (IPCA), medido pelo IBGE.

A pesquisadora do Cepea, Fernanda Geraldini, ressalta que em fevereiro, o preço ao produtor da caixa da laranja, com cerca de 40 quilos, chegou a R$ 90.

“Esse preço é na árvore, não considera colheita e frete, e é historicamente alto. Em toda série do Cepea, que começou em 1994, é o maior valor já registrado”, aponta.

Baixa no estoque de suco

A combinação de impactos na safra e alta nos preços fez com o que os estoques de suco de laranja chegassem ao segundo menor nível já registrado, de acordo com a Associação Nacional de Exportadores de Sucos Cítricos.

O Brasil é responsável por abastecer cerca de 75% do mercado mundial de suco de laranja e tem precisado de mais matéria-prima.

Chuvas aliviam produtores

As chuvas registradas em áreas produtoras de laranja no estado de São Paulo desde o mês de fevereiro têm sido benéficas à safra 2024/2025 da fruta, que apresentou alta nos preços na última semana e aumento na procura, por conta do calor.

Os dados são do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), o campus da Universidade de São Paulo (USP) em Piracicaba (SP).

De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), as altas temperaturas devem se manter nos próximos dias em Piracicaba (SP) e Limeira (SP). Entretanto, não há previsão de chuva. Confira a previsão do tempo abaixo.

Alta nos preços

O levantamento do Cepea aponta que o mês de março começou com ofertas limitadas de laranja, que impulsionaram uma alta dos preços.

Entre segunda-feira (4) e a última quinta-feira (7), a média de preço apontada pelo centro de estudos da USP foi de R$ 93,17 pela caixa de 40,8 kg, na árvore. O que representa uma alta de 1,59% na comparação com a semana anterior.

MURCOTE-Foto  Fábio Tito g1

Murcote é um tangor, um tipo de híbrido de tangerina e laranja 

Chuvas e crescimento

De acordo com o Cepea, o maior volume de chuvas é positivo para o crescimento da laranja e alivia os produtores.

“A maior umidade favorece o crescimento dos frutos, permitindo a antecipação da colheita de alguns volumes de variedades mais precoces, que, por sua vez, começaram a ser ofertados no mercado de mesa ainda em fevereiro, devendo ganhar mais ritmo neste mês”, apontam os pesquisadores.

Calor e procura

Apesar das chuvas, o clima tem reunido temperaturas elevadas. O calor fez a busca aumentar.

“A procura pela fruta aumentou nos últimos dias, favorecida pelas temperaturas elevadas, reforçando as valorizações”, indicam os profissionais do centro de estudos.

Caixas com laranjas e limões na Ceasa, em Campinas — Foto Júlio César Costa g1

Janeiro: oferta restrita e greening

Com oferta restrita para o mercado, os preços da caixa da laranja pera de mesa tiveram altas consecutivas e ultrapassam os R$ 80 no início na segunda quinzena de janeiro de 2024, de acordo com o Cepea.

Pesquisadores do setor alertam para a reflexos das altas temperaturas, falta de chuva e, principalmente, do greening, na próxima safra, que pode ser menor.

"A disponibilidade da fruta é basicamente de temporãs", aponta o Cepea. De 15 a 19 de janeiro de 2024, o preço da laranja pera fechou na média de R$ 82,32 a caixa de 40,8 kg, na árvore, segundo levantamento e análise publicados na Revista Hortifruti Brasil.

A marca representa aumento de 6,29% na comparação com a semana anterior, ressaltam as pesquisadoras do setor Ana Carolina Koga de Souza e Fernanda Geraldini.

"No caso das tardias, a oferta é um pouco maior, já que estão em período de safra, mas a grande parte dos volumes está sendo enviada à indústria, controlando a disponibilidade no mercado in natura", afirmam as especialistas do Cepea.

A laranja natal foi comercializada a R$ 76,96 a caixa, o que corresponde à alta de 2,84% no mesmo comparativo.

LARANJAS-— Foto Sheraz Shaikh  Unsplash

Laranja: suco da fruta pode trazer benefícios para a saúde. 

Greening: entenda impactos para safra

greening, também conhecido como huanglongbing e HLB, é uma doença que ataca todos as lavouras de cítricos, não apenas no Brasil, mas em outros 130 países. Ela não tem cura e já consumiu mais de US$ 2 bilhões nos EUA na tentativa de ser controlada.

Segundo o Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), a incidência do greening cresceu 56% e passou de 24,4% em 2022, para 38,06% em média em 2023.

Greening — Foto Reprodução   Globo Rural

As especialistas ressaltam os impactos do greening sobre o mercado da laranja no Brasil e, especialmente, em São Paulo, por ser uma doença que afeta os pomares. O cenário é ainda mais prejudicado pelas ondas de calor, com temperaturas elevadas e à falta de chuvas.

"Dados divulgados em janeiro pelo Departamento de Agricultura Norte-Americano (USDA) apontam que o Brasil pode colher 408 milhões de caixas de 40,8 kg de laranjas na safra 2024/25, queda de 1% frente à de 2023/24. O resultado é reflexo da alta incidência de greening, sobretudo nos pomares paulistas e do clima adverso, com temperaturas elevadas e chuvas menos frequentes", observam as pesquisadoras.

As pesquisadoras alertam que, se a estimativa se confirmar, a temporada pode ser de oferta menor que a procura das fábricas de suco e, neste cenário, se mantém também elevada a demanda pela laranja.

Exportação

A maior parte do que é produzido nesse setor no Brasil vai para exportação. Ainda assim, a competição entre a indústria e o consumidor pela laranja aumenta o preço da fruta, explica Fernanda Geraldini (G1, 12/3/24)