CNC: Balanço Semanal de 12 a 16/8/2019
Considerações sobre o momento atual da cafeicultura brasileira
Por Silas Brasileiro
Os investimentos em pesquisa nos últimos 20 anos, de aproximadamente R$ 200 milhões, prepararam os produtores brasileiros, que são muito competentes, para momentos como este, de crise de preços, que estamos passando.
Investir para aumentar a nossa produtividade e baixar custo de produção foi o caminho que adotamos como representantes da produção brasileira de café. Olhamos para os preços praticados pelo mercado sim, mas voltados para sermos competitivos, com base nos custos, em produtividade e qualidade.
O mercado, em breve, responderá e sairemos fortalecidos da crise hoje vivenciada, visto que somos um país que tem política para o café. Através do Conselho Deliberativo da Política do Café (CDPC), essa política criada por nós, no sentido de aproximar a cadeia café, surtirá efeito na prática do dia a dia.
O CDPC, como órgão maior de representação, composto pela iniciativa privada e o governo, tem como objetivo unir a produção, a indústria e a exportação para, não só formular a política do café, mas, acima de tudo, preservar o Funcafé, o banco da cafeicultura, que nos da o suporte para diminuir a concentração da oferta no momento da colheita e distribuir, ao longo de 12 meses, nosso café ao mercado.
São R$ 6 bilhões à disposição de nossa cafeicultura, através das cooperativas de crédito ou outros agentes credenciados, com baixa taxa de juros. Aliás, a tendência de baixa na aplicação dos juros nos dá oportunidade para tomar recursos de outros agentes, como bancos oficiais e privados, que hoje investem no café por acreditar ser um investimento seguro.
Vivemos um momento com inflação baixa e disponibilidade de recursos, o que nos torna extremamente competitivos. Participamos com 35% do mercado mundial e nenhum país poderá comparar seu custo de produção com o Brasil.
Investimos na qualidade de nosso café! Produzimos café de qualidade para atender à qualquer exigência do mercado consumidor. Temos o nicho dos cafés especiais; a evolução do solúvel na abertura de novos mercados; o comércio ativo, seja através de nossas cooperativas ou do comércio exportador; o consumo interno em crescimento contínuo pelo trabalho permanente da indústria de torrado e moído; temos o barter e as travas para vendas futuras, que garantem renda para os produtores.
Podemos afirmar que este é um Brasil competitivo e que aponta como uma nação atrativa para investidores internacionais, pois temos um governo sério que trabalha e inspira confiança para o mercado ávido para aplicar recursos em nosso país. Tivemos a aprovação pelo Congresso da reforma da Previdência, da MP 881/2019 da liberdade econômica, que flexibiliza a geração de emprego e a oportunidade de criação de pequenas empresas. Logo a seguir, a reforma Tributária nos levará a acreditar na solidez de nosso país, atraindo, reafirmo, a confiança do mercado internacional com investimentos substantivos no Brasil.
Como braço operacional do cooperativismo brasileiro de café, quando vemos as perspectivas de aumento do consumo, podemos afirmar que temos competência para suprir o mercado, seja qual for a sua necessidade, pois as nossas cooperativas se fazem presentes e estão prontas para atender qualquer volume da demanda. Além disso, nossos agentes financeiros estão prontos para, caso necessário, nos financiar com recursos para custeio, estocagem, enfim, para apoiar a produção.
O momento atual é de uma crise aguda a nível mundial, pois os preços aviltados nos levam, às vezes, a tomar medidas imediatistas que, ao invés de beneficiar os nossos produtores, podem beneficiar os demais países que produzem café, isto em razão de não terem uma política cafeeira como temos no Brasil.
Somos sustentáveis, temos qualidade e, embora os preços no momento não sejam remuneradores, podemos antever que permaneceremos no mercado.
Teremos equilíbrio entre oferta e demanda devido à baixa safra de 2019, ao comprometimento na produção de 2020, em razão dos baixos tratos culturais e da condição climática adversa – o que nos faz crer que a próxima colheita se enquadrará dentro da média que temos produzido –, isso sem levar em consideração os baixos estoques brasileiros.
Nesse cenário, ações para a recomposição dos contratos com vencimentos em 2019, com estabelecimento de um piso de referência e o anúncio para a safra 2020 de um programa de opções propiciarão a transição do momento atual.
Por essas considerações, acreditamos que a cadeia café, unida e com o apoio da Frente Parlamentar do Café no Congresso Nacional, poderá transpor este momento e já podemos antecipar que o fim da crise está muito próximo. Acreditamos na competência de nossos produtores e no apoio do governo na superação dos desafios que estamos vivenciando.
Concluo reafirmando que o momento nos leva a uma reflexão de que as propostas devem partir dos segmentos que integram a cafeicultura brasileira e contar com o apoio de nossos parlamentares.
Um abraço!
Silas Brasileiro
Presidente Executivo do CNC
Dólar e estoques pressionam futuros do café em NY
Apesar da queda de 5ª-feira, moeda subiu 1,2% na semana. Os EUA, maiores consumidores do mundo, elevaram seus estoques em 4%.
Os contratos futuros do café arábica recuaram no acumulado da semana, pressionados pelo mercado cambial e também pela elevação, de 4% em julho, dos estoques de café verde nos Estados Unidos (7.099.175 sacas), maior consumidor mundial.
Além disso, um fraco desempenho positivo do café, ontem, na ICE Futures US, diante da desvalorização superior a 1% do dólar ante o real pode induzir que o momento do mercado é dos vendidos.
Na Bolsa de Nova York, o vencimento dezembro/19 encerrou a sessão de ontem a US$ 0,98 por libra-peso, acumulando perdas de 270 pontos. Já na ICE Europe, o vencimento novembro/19 do café robusta subiu US$ 33, fechando a US$ 1.354 por tonelada. O avanço do conilon se deu por fatores técnicos, com cobertura de posições vendidas.
Apesar do recuo na quinta-feira (15), o dólar comercial acumulou valorização de 1,2% na semana, puxado pelas questões políticas na argentina e pela aversão a ativos de risco no mercado financeiro depois da divulgação de indicadores fracos de atividade econômica na China e na Alemanha. A moeda fechou, ontem, a R$ 3,9903.
Em relação ao clima, a Somar Meteorologia prevê, para hoje, nevoeiros em São Paulo e Rio de Janeiro e a continuidade da chuva, de maneira fraca, mas constante, no norte do Espírito Santo. Para amanhã, a previsão é de elevação de temperatura em todo o Sudeste e, no domingo, o tempo deverá ficar firme na Região, com exceção para o Vale do Ribeira (SP) e o litoral sul paulista, que poderão receber rajadas de vento.
No mercado físico, compradores e, principalmente, vendedores continuam retraídos, mantendo a liquidez interna muito baixa, conforme apurou o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). "Os preços são considerados insatisfatórios no spot, deixando grande parte dos vendedores concentrada nas entregas já programadas".
Segundo a instituição, esses agentes devem voltar ao mercado com maior força entre o final de agosto e setembro, haja vista que, além da finalização dessas entregas, produtores podem ter maior necessidade de fazer caixa devido às adubações e a outros tratos culturais realizados na pré e pós-florada.
Do lado da demanda, os compradores podem se tornar mais ativos após as férias e também por causa das expectativas de redução das temperaturas no Hemisfério Norte. Os indicadores calculados pelo Cepea para as variedades arábica e conilon situaram-se em R$ 409,13/saca e R$ 283,39/saca, respectivamente, avançando 0,3% e 1,8% na semana (Assessoria de Comunicação, 16/8/19)