03/09/2018

CNC: Balanço Semanal de 27 a 31/8/2018

Brasil e Colômbia buscam solução para crise de preços do café

Representantes do setor de produção dos dois países se reuniram em Brasília para iniciar planejamento que gere sustentabilidade e renda na atividade.

O Conselho Nacional do Café (CNC) coordenou, na segunda-feira, 27 de agosto, reunião entre representantes da cadeia produtiva, incluindo a Comissão Nacional da CNA, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e da Federación Nacional de Cafeteros (FNC) da Colômbia. "O encontro teve como objetivo debater a crise de preços mundiais do café e o desequilíbrio econômico dentro da cadeia produtiva, que arruína os produtores, bem como as ações a serem adotadas para enfrentar esse cenário", explica o presidente da entidade, Silas Brasileiro.

Segundo ele, os preços internacionais do café, atualmente, estão abaixo dos custos de produção, comprometendo a sustentabilidade econômica e a sobrevivência de 25 milhões de famílias no mundo. “Diante disso, os dois maiores países produtores de arábica do mundo pretendem se juntar às demais nações cafeeiras para pensar em propostas que possibilitem uma cafeicultura sustentável e rentável”, revela.

Como ponto de partida, brasileiros e colombianos acordaram sobre quatro cenários que precisam ser combatidos de imediato, conforme exposto na sequência.

1) Programas de ampliação do consumo mundial: a introdução e a ampliação do uso de tecnologias mais eficientes na produção de café ao redor do planeta geram respostas rápidas de aumento de oferta, com grande potencial para existir excedentes no curto prazo, pois não necessariamente o ritmo de crescimento do consumo acompanhará os picos de produção, havendo risco de agravamento do período de baixa do ciclo plurianual de preços do café, desencadeando grandes prejuízos aos cafeicultores e eliminando a sustentabilidade.

Assim, é fundamental que sejam centralizados esforços para o desenvolvimento e o fortalecimento de programas de ampliação do consumo nos países produtores (para absorção dos excedentes) e também nos países consumidores, de forma que sejam concretizadas as previsões de aumento do consumo mundial.

Nas últimas reuniões da Organização Internacional do Café (OIC), foram apresentadas diversas iniciativas independentes (Global Coffee Platform, World Coffee Research e Global Arabica Plan) que buscam fomentar a sustentabilidade e, consequentemente, a elevação da produtividade nos países produtores. É fundamental que essas iniciativas também assumam a responsabilidade de apoiar a absorção pelo mercado dos excedentes que tendem a ser produzidos, pois sem preços remuneradores não existe sustentabilidade. E preços remuneradores somente existem quando há equilíbrio entre oferta e demanda.

2) Reduzir estoques nos importadores: os detentores dos estoques de café possuem maior influência na formação dos preços internacionais. Por isso é fundamental reequilibrar a balança atual, deslocando os estoques dos países consumidores para os países produtores. É importante ilustrar o caso do Brasil, que, apesar da maior safra produzida este ano, está com seus estoques no nível histórico mais baixo e, em 2019, colherá uma safra menor devido à bienalidade negativa. Em contrapartida, os estoques nos países consumidores estão em nível elevado.

É importante que a formação de estoques nos países produtores seja administrada pelo setor privado, em coerência com ferramentas de gestão de risco de mercado. Por isso, nossa sugestão é o desenvolvimento de políticas públicas nas nações cafeeiras para apoiar o ordenamento da oferta, a exemplo do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé) do Brasil, que financia a formação de estoques para evitar a venda em momento de preços aviltados.

A esse respeito, Silas Brasileiro recorda que, como antecipação ao cenário de uma maior safra no Brasil e apesar das profundas dificuldades fiscais do País, o CNC conseguiu aprovar orçamento recorde para as linhas de Estocagem e Custeio do Funcafé, com o objetivo de dar condições para o setor produtivo ordenar a oferta. “Foram quase R$ 3 bilhões aprovados para apoiar o carregamento de estoques, o que permite não colocar no mercado cerca de 9 milhões de sacas de café, ou 15% da safra brasileira”, comenta.

O presidente do Conselho orienta que o setor produtivo faça uso do Funcafé para evitar a venda da safra “neste momento impróprio de preços aviltados”, conseguindo fôlego para aguardar a recuperação do mercado e negociar as produções atual e futura em condições mais vantajosas. “Também apoiam o ordenamento da oferta os R$ 1,5 bilhão para as linhas de FAC e Capital de Giro às Cooperativas de Produção. Com isso, são R$ 4,5 bilhões do Funcafé, aprovados em 2018, para amparar diretamente os produtores e cooperativas”, calcula. Brasileiro completa informando que, desse total, estão disponíveis nos agentes financeiros R$ 1,2 bilhão até o momento.

3) Combater a concentração da indústria e do varejo: embora os mercados consumidores tenham preocupação crescente com a sustentabilidade da produção cafeeira, impondo inúmeras exigências aos produtores, principalmente para comprovar o cumprimento das dimensões social e ambiental, nada se fala sobre a crescente concentração da indústria torrefadora internacional e do varejo e de seu impacto na dimensão econômica da sustentabilidade.

Atualmente, duas torrefadoras internacionais detêm mais de 50% do mercado de café, causando grandes assimetrias e impondo condições de venda cada vez mais apertadas aos produtores. Por exemplo, citamos o alongamento dos prazos de pagamento que começaram em 100 dias e agora superam os 200 dias. Isso sufoca o produtor, eliminando qualquer sustentabilidade que possa existir no mercado de café. Por isso consideramos fundamental que a OIC construa e passe a divulgar regularmente um índice de concentração da indústria e do varejo, bem como os prazos de pagamento praticados, para dar publicidade e criar consciência sobre a real situação da sustentabilidade econômica.

Lembramos que, no âmbito da OIC, recentemente foi aprovado o Projeto Delta, que visa a medir indicadores de sustentabilidade nos países produtores de café. Consideramos que esse projeto deve ser ampliado para incluir indicadores de sustentabilidade também dos países importadores, a exemplo de sua demanda por cafés sustentáveis, concentração da indústria e varejo, condições de acesso a mercado e prazos de pagamento praticados. Todos esses que afetam a geração de renda e, consequentemente, estão ligados de forma intrínseca à dimensão econômica da sustentabilidade.

4) Combater especulações de mercado: é fundamental que os países produtores se unam para rebater notícias especulativas sobre os tamanhos das safras, frequentemente divulgadas por traders e indústrias internacionais. Assim, devem ser respeitados e defendidos os números oficiais gerados em cada país produtor e acabar com especulações como as que ocorrem no Brasil, onde produziremos entre 56 e 58 milhões de sacas este ano, consumiremos 22 milhões e exportaremos por volta de 35 milhões, absorvendo toda a produção, não havendo, portanto, cenário de excesso para que se avilte os preços como atualmente.

Sugerimos o estabelecimento de cooperação, com o apoio da OIC, para o desenvolvimento de competência de estatísticas e informação, com o uso de tecnologias, em todas as nações produtoras. E, ainda, as trades, as indústrias e demais consultorias devem ser convidadas a expor publicamente as metodologias de suas estimativas, de maneira que o mercado possa avaliar se foram realmente embasadas em pesquisas concretas e críveis no campo ou se são meras projeções especulativas.

Entidades do agro entregam propostas a presidenciáveis

Planejamento apresenta soluções para o futuro do agronegócio, que é visto pelo setor como o futuro do Brasil.

Na quarta-feira, 29 de agosto, o presidente do Conselho Nacional do Café (CNC), Silas Brasileiro, participou, como membro titular do Conselho do Agro, da entrega das propostas do setor aos candidatos à Presidência da República, na Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), em Brasília (DF).

Para o evento, foram convidados os principais candidatos e quatro compareceram: Álvaro Dias, Geraldo Alckmin, Henrique Meirelles e Marina Silva. “Foi uma grande oportunidade para mostrarmos aos presidenciáveis o que pensa o campo, o que nós buscamos, o que propomos e quais são as alternativas para mantermos a agropecuária forte em nosso país”, destaca Brasileiro.

Após o painel do presidenciável Henrique Meirelles, o presidente do CNC foi convidado a entregar ao candidato o documento “O Futuro é Agro”, que presenta o planejamento e as propostas do setor de 2018 a 2030. “Esse planejamento foi debatido amplamente com a academia e as entidades que compõem o Conselho do Agro, as quais representam os principais produtos cultivados no Brasil. Ele traz soluções para o futuro do País e o futuro é o agronegócio”, revela.

 O documento “O Futuro é Agro 2018-2030” foi desenvolvido em parceria pelas principais entidades do agronegócio e do meio urbano, em um esforço que contou com a contribuição de renomados consultores do segmento acadêmico. Nele, apontam-se gargalos e soluções possíveis em questões vitais para a agropecuária.

O texto também sugere ao futuro governante uma agenda moderna, sustentável, de livre mercado (sem tabelamento de preços) e que, se concretizada, levará o país a ampliar em 33% a produção agrícola até 2030. “Mostramos como o Brasil precisa contribuir para a segurança alimentar mundial, assumindo de fato o papel de protagonista e assumindo a liderança na produção de alimentos de forma segura e sustentável”, completa o presidente do CNC.

No encontro com os presidenciáveis, os quatro candidatos presentes apresentaram propostas para o setor agro e destacaram suas ideias para resolver os gargalos do setor caso vençam a corrida presidencial de 2018.

Café recua com pressão do dólar e movimentação dos fundos

Força da moeda norte-americana e posição vendida dos fundos impactam negativamente as cotações, em um cenário de oferta suficiente.

 

Os contratos futuros do café voltaram a recuar no mercado internacional nesta semana, pressionados pela força do dólar, pela movimentação dos fundos de investimento e pela condição de oferta suficiente do produto. Na Bolsa de Nova York, o vencimento dezembro/18 do contrato "C" declinou 205 pontos, negociado a US$ 1,0265 por libra-peso. Na ICE Europe, o vencimento novembro do café robusta fechou ontem a US$ 1.522 por tonelada, com perdas de US$ 19.

Em relatório da Commodity Futures Trading Commission (CFTC) divulgado na última sexta-feira, a posição líquida vendida dos fundos de investimento e especuladores passou de 100.533 para 106.105 lotes, pesando sobre as cotações do café em NY, que acumulam queda de 10,3% em 30 dias, de 24,9% em 2018 e de 27,4% nos últimos 12 meses.

O dólar comercial voltou a subir frente ao real na semana, encerrando a quinta-feira a R$ 4,145, o que representa elevação de 1% ante a sexta-feira passada. O avanço não foi maior devido à atuação do Banco Central (BC), que realizou leilão de 30 mil contratos de swap cambial (US$ 1,5 bilhão) extraordinários. A moeda norte-americana vinha sendo negociada acima de R$ 4,21 nos mercados à vista e futuro.

De acordo com analistas, os ativos negociados no Brasil refletem o mau humor externo, incluindo a piora do cenário na Argentina, onde, mesmo com os esforços do governo vizinho, o dólar se valorizou mais de 20% e ultrapassou o patamar de 41 pesos.

No Brasil, segundo informações do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), a colheita de café arábica na safra 2018 está em sua reta final. Mesmo com o leve atraso em função das chuvas no início de agosto, os trabalhos vêm sendo favorecidos pelo tempo mais firme nos últimos dias. A expectativa é que a cata seja concluída até a primeira quinzena de setembro.

O balanço da safra atual, no geral, apresenta volume e qualidade superiores aos do ciclo cafeeiro antecedente. O quadro abaixo demonstra o andamento da colheita no cinturão produtor do Brasil e as condições em que se encontram as lavouras em cada região.

 

Ainda conforme o Cepea, o mercado físico teve estabilidade nas cotações apesar do recuo internacional, com a valorização do dólar limitando a pressão e afastando os participantes dos negócios a vista para o arábica. No caso do robusta, a força da moeda norte-americana estimulou vendas, com negócios sendo realizados.

Os indicadores calculados pela instituição para as variedades arábica e conilon foram cotados a R$ 426,13/saca e a R$ 325,32/saca, respectivamente, com variações semanais de 0,1% e 1,4% (Assessoria de Comunicação, 31/8/18)