Copersucar tem o melhor resultado da história do setor
Salto de 43% no volume de açúcar vendido compensa queda de 22% no consumo de etanol e receita cresce 29% em 2020.
Foi um ano de surpresas. Preparadas para uma safra com forte potencial de produção e possível disparada da demanda por combustíveis, as usinas de açúcar e álcool viram a pandemia frustrar seus planos e não encontraram outra saída senão pedir ajuda ao governo. Mas a desvalorização da moeda e o protagonismo do Brasil no comércio agrícola internacional mudaram o cenário e os produtores de açúcar fecharam o ano com os melhores resultados da história. Este foi um dos motivos que levaram a Copersucar a encerrar 2020 com resultados financeiros recordes na safra 2020-2021. Ao conquistar pela terceira vez o topo do ranking do setor de Açúcar e Álcool, a Copersucar foi além e, com resultados financeiros recordes na safra 2020-2021, foi eleita a Empresa de Valor entre as mil maiores do ranking.
A Copersucar começou o ano de casa nova. Trocou sua sede, na tradicional avenida Paulista, para um moderno prédio nas Nações Unidas, o maior polo de negócios do país. Foi no novo endereço que a companhia começou a traçar seu planejamento para a nova safra, em um momento em que ainda havia otimismo tanto com o mercado de açúcar como com o de etanol. A eclosão da pandemia, porém, fez com que 200 de seus 600 funcionários saíssem do escritório e migrassem para o home office, enquanto os 400 que trabalham nos terminais seguiram na linha de frente. Segundo João Teixeira, CEO da Copersucar, os primeiros casos de covid-19 que começaram a aparecer estavam concentrados nos funcionários dos terminais, mas nenhum deles faleceu em decorrência da doença durante a última safra.
Para garantir que o trabalho ocorresse com segurança, a Copersucar contratou uma consultoria em saúde do Hospital Albert Einstein. “Foi extraordinário, um alto grau de profissionalismo e dedicação. Quando os casos foram aparecendo, identificamos rapidamente e deixamos as pessoas em casa para se recuperar. Não tivemos qualquer descontinuidade na operação por isso”, conta o executivo. Para os trabalhadores que migraram para o trabalho remoto, outros tipos de cuidado foram tomados. “Levantamos quem precisava de apoio para ter internet mais rápida em casa”, recorda. Também foram oferecidas aos funcionários cadeiras ergonômicas novas, para aliviar o problema comum de conforto no home office.
A saúde mental também entrou na pauta do dia a dia da Copersucar. “Fizemos várias lives com psicólogos para dar às pessoas atenção aos cuidados de saúde mental. Eu fiz várias lives com os funcionários e famílias para ouvi-los, agradecer o empenho dos que estavam na ponta embarcando açúcar”, conta Teixeira. Também foi criada uma “hot-line” para que funcionários pudessem buscar apoio. Aos gestores, o executivo orientou aumentar a proximidade com os subordinados. “E orientamos para se ter bastante disciplina nos horários, que é outro ponto fundamental. Não é porque a pessoa está em casa que pode trabalhar direto”, diz.
Enquanto cuidava dos protocolos internos, o CEO também planejava o equilíbrio financeiro da companhia em meio à turbulência. Logo no início, a empresa decidiu reforçar sua posição de caixa e contratou mais de R$ 1 bilhão em empréstimos de curto prazo com bancos nacionais e internacionais para garantir liquidez se fosse necessário, o que fez com que a companhia começasse a última safra com um caixa de R$ 2,7 bilhões. Pelo momento desfavorável, o custo do crédito foi caro, diz Teixeira, mas garantiu a segurança que buscava e acabou sendo quitado em um ano.
No lado operacional, a Copersucar e suas cooperadas decidiram adiar a programação de produção para a safra, que costumam realizar em fevereiro. E, enquanto a situação estava sem definição e a mobilidade social seguia fortemente restrita, as distribuidoras de combustível decidiram declarar força maior em contratos de compra de etanol. Para Teixeira, algumas tiveram uma postura “muito radical” e “descabida”. “A Copersucar sempre acreditou em relacionamentos de longo prazo. Não adianta chegar e falar que não vai mais comprar”, diz. Apesar da tensão, Teixeira diz que a Copersucar entrou em negociações com as distribuidoras e se chegaram a soluções. O resultado, segundo ele, foi que “ninguém ficou com gosto amargo na boca”.
Com as 20 empresas sucroalcooleiras associadas à Copersucar, percebeu-se que a solução seria minimizar a exposição ao etanol e apostar na produção de açúcar. A companhia tinha como importante trunfo sua atuação no mercado americano de etanol através da controlada Eco-Energy, que acabou servindo como um “indicador antecedente” da pandemia, já que os movimentos da covid-19 nos EUA precediam os do Brasil em algumas semanas.
Foi assim que a companhia começou a reverter a situação. Do fim do segundo semestre de 2020 até março deste ano, a Copersucar avançou nas exportações de açúcar, batendo recordes de movimentação em seu terminal no porto de Santos. Na safra, o volume de açúcar vendido saltou 43%, puxado sobretudo pelo mercado externo. Os fluxos intensos para exportação resultaram numa movimentação de 8,8 milhões de toneladas de açúcar e grãos no terminal de Santos, um aumento de 11%. Já as vendas de etanol refletiram a redução do consumo no Brasil e nos EUA e caíram 22%, para 11,1 bilhões de litros. Mesmo assim, a companhia ampliou sua receita em 29%, para R$ 38,7 bilhões, e ampliou sua margem líquida de 0,4% para quase 1%, com um lucro líquido de R$ 375 milhões.
A pandemia, porém, continuou preocupando. No fim de 2020, após retornar de uma viagem para os Estados Unidos, Teixeira começou a sentir os sintomas da covid-19, com diagnóstico confirmado em pouco tempo. Por dez dias, teve os sintomas clássicos, como febre e falta de ar. Por dois meses, não sentia o gosto dos alimentos. “É uma experiência que eu não recomendo.” Se Teixeira sobreviveu à pandemia, a mesma sorte não visitou alguns de seus amigos, como o economista Carlos Geraldo Langoni. Dentro da Copersucar, já na nova safra, a doença também tirou a vida de um de seus funcionários, que estava há meses trabalhando de casa.
Para a nova safra, a companhia já se sente mais preparada para lidar com adversidades. O desempenho da temporada 2020-2021 deu à companhia conforto para concluir um dos maiores negócios de sua história, que foi a compra da participação da americana Cargill na trading de açúcar Alvean. O negócio, concluído já na nova safra 2021-2022, elevou a Copersucar à liderança global das exportações de açúcar em um momento de preços firmes da commodity. E, agora, abre alas para buscar novos parceiros também em seus negócios em etanol.
Além dos bons resultados operacionais e dos cuidados com a pandemia, a Copersucar tornou-se, em 2020, a maior emissora de títulos verdes do Brasil, com cerca de quatro milhões de Cbios, quase 25% do total desses papéis negociados em bolsas. Cada Cbio corresponde a uma tonelada de carbono que deixa de ir para a atmosfera pelo uso de biocombustível na comparação com o petróleo.
Outra marca de avanço de sustentabilidade foram os 3,1 milhões de crédito de descarbonização, cerca de 18% do total emitido no ano passado. Há ainda ações de responsabilidade social com o Programa Conecta Copersucar nas comunidades onde a empresa tem atuação direta: Santos, São José do Rio Preto e Ribeirão Preto, em São Paulo. O programa visa, entre outros pontos, o intercâmbio do conhecimento humano e profissional, valorização de talentos e saberes populares, estímulo ao diálogo democrático (Valor Econômico, 30/9/21)