30/01/2020

Coronavírus deve reduzir demanda chinesa por commodities e afetar preço

Coronavírus deve reduzir demanda chinesa por commodities e afetar preço

Legenda: A China confirmou a transmissão de homem para homem no surto de um novo vírus tipo Sars-CoV à medida que o número de casos disparou e a Organização Mundial da Saúde disse que consideraria declarar uma emergência internacional de saúde pública 

 Setor de carnes deve ser o mais afetado do agronegócio.

coronavírus é um novo componente no mercado de commodities neste ano. Enquanto ainda se tenta entender a gravidade da doença, é certa a chegada de seus efeitos sobre o comércio do agronegócio, principalmente sobre as carnes.

A avaliação é de Thiago Bernardino de Carvalho, pesquisador do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).

O agronegócio brasileiro já estava suscetível ao ritmo menor da economia chinesa e à aproximação do país asiático com os americanos. Além disso, a China recompôs os estoques de carne no segundo semestre do ano passado.

  Para Carvalho, o coronavírus se soma a esses problemas já desenhados no início deste ano. A China deverá ter um foco especial na saúde pública e investir mais nesse setor.

Embora o segmento de alimentos seja sempre o último a sofrer impacto na economia, a desaceleração da atividade pode reduzir o consumo, diz Daniele Siqueira, analista da AgRural. Com isso, os preços vão passar por uma redução.

Antonio Camardelli, presidente da Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes), diz que as empresas do setor estão com ritmo menor de atividades, o que é normal nesse período do ano.

Os frigoríficos acompanham a evolução do coronavírus na China, mas ainda não houve suspensão de pedidos feitos pelos importadores.

Carvalho afirma, no entanto, que o cenário interno também é importante em uma avaliação da comercialização do agronegócio. O início de ano é um período de reorganização do orçamento do consumidor, após uma concentração de gastos.

Quanto à China, os contratos de exportação de janeiro já foram fechados, e parte, despachada. Os efeitos dessa nova situação de mercado poderão ser mais visíveis em fevereiro e março, diz o pesquisador.

Para técnicos da consultoria INTL FCStone, os efeitos do coronavírus serão demanda e importações menores de carnes feitas pela China e consequente pressão de baixa nos preços.

O patamar do dólar em relação ao real e a redução de oferta de carne pela Austrália, devido aos incêndios, porém, jogam a favor do Brasil.

O coronavírus assustou também o mercado de grãos. O medo da desaceleração econômica vem provocando quedas nos preços da soja, do milho e do algodão, segundo Daniele, da AgRural.

O mercado, que esperava boas notícias com a fase 1 do acordo entre China e EUA, já amarga queda de 4% no valor do contrato de março da soja do dia 15 de janeiro, data da assinatura, a esta quarta (29).

O coronavírus é motivo de atenção também dos cotonicultores. No ano passado, a China foi responsável pela importação de 34% do algodão exportado pelo Brasil. 

A preocupação é que a epidemia se agrave e se alastre, afirma Milton Garbugio, presidente da Abrapa (Associação Brasileira dos Produtores de Algodão) (Folha de S.Paulo, 30/1/20)

 


Coronavírus não afetará vendas de carne para a China,diz presidente da JBS 

O presidente-executivo da JBS disse nesta quarta-feira que não espera que o surto de coronavírus tenha impacto negativo nas importações de carne por parte da China.

Gilberto Tomazoni disse que o surto de SARS na China, em 2003, poderia ser uma situação comparável, e que naquele período as importações de carne pelo país aumentaram.

Por sua vez, o presidente da BRF, Lorival Luz comentou durante evento do Credit Suisse que o vírus poderá aumentar a demanda chinesa por carne congelada e processada. Já a Marfrig comentou em comunicado que ainda não registrou cancelamentos de vendas ou embarques para a China (Reuters, 29/1/20)

 


BRF diz que coronavírus pode aumentar exportações brasileiras 

Para executivos, segurança alimentar de produto brasileiro pode impulsionar demanda.

Os grandes produtores de proteína animal do Brasil afirmam que a epidemia de coronavírus, que começou na China, pode aumentar a procura de alimentos produzidos pela indústria brasileira, principalmente nos países asiáticos.

“Pode ser que tenha uma demanda maior pela segurança alimentar. Não gosto de dizer um resultado positivo, mas vamos dizer que podemos ter um incremento de volume, dado a segurança alimentar do nosso produto” disse Lorival Luz, presidente da BRF, durante a conferência do Credit Suisse em São Paulo.

A empresa também recomendou aos executivos que evitem viagens e locais com grande concentração de pessoas, como aeroportos. “Reuniões podem ser feitas via videoconferência”, afirmou Luz. 

A JBS ainda não fez nenhum tipo de recomendação específica para os executivos. Segundo Gilberto Tomazoni, presidente da empresa, estão seguindo o recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde). 

“Quando foi o Sars, as importações dos países envolvidos aumentaram”, disse Tomazoni. 

Ele afirma, no entanto, que não é possível fazer um comparativo. “Na época o governo restringiu as vendas de animais vivos e eles tiveram que importar mais. Mas foi lá em 2003. Qualquer previsão agora é temerária. Olho o que aconteceu lá”.

 

Já Eduardo Miron, CEO da Marfrig, disse acreditar que a carne bovina também será beneficiada. 
Segundo ele, se for comprovado que o vírus foi transmitido por conta de um hábito alimentar, pode auxiliar.

"Toda vez que existe alguma coisa em uma proteína, outra se beneficia. Isso pode ser mais um fator para aumentar o consumo de carne bovina, que não tem tido nenhum tipo de problema. É uma opção plausível e segura", disse (Folha de S.Paulo, 30/1/20)