Cosan se desfaz de fatia na Vale após tentar influenciar na mineradora
RUBENS OMETTO Foto Reprodução – Youtube
Grupo de Rubens Ometto sofria com dívida provocada por compra de ações no fim de 2022.
O grupo Cosan, do empresário Rubens Ometto, anunciou nesta quinta-feira (16) que se desfez de sua participação acionária na Vale. A venda, por R$ 9 bilhões, de uma fatia de 4,05% na mineradora encerra uma tentativa frustrada de conseguir influência na mineradora.
A Cosan entrou na Vale em setembro de 2022, com a compra de 4,9% das ações e expectativa de chegar a 6,5% do capital, alegando "mais um passo na jornada de diversificação de portfólio da companhia, investindo em ativos irreplicáveis nos setores em que o Brasil tem clara vantagem competitiva".
O movimento surpreendeu o mercado e derrubou o valor de mercado do grupo de Ometto, um império econômico com operações no agronegócio, energia, transporte, combustíveis e gás natural. A maior preocupação se referia aos impactos da aquisição sobre a dívida do grupo.
O anúncio da venda agradou investidores: as ações da Cosan subiam mais de 2% por volta das 12h30 desta quinta. Em comunicado ao mercado, a empresa disse que a operação tinha o objetivo de "otimizar sua estrutura de capital".
O comando da Cosan já vinha reconhecendo que o elevado endividamento provocado pela ofensiva sobre a Vale se tornara um problema para a companhia. A empresa fechou o terceiro trimestre com dívida líquida de R$ 21,7 bilhões, quase três vezes superior à do mesmo período do ano anterior.
Em relatório divulgado em outubro, analistas do UBS BB destacaram que o endividamento "acima do que o cenário atual permite" impede a companhia de entregar aquilo que fazia de melhor: "gerar valor por meio da alocação de capital".
"Isso ocorre em um período em que as taxas de juros não apenas continuarão altas mas devem crescer ainda mais", escreveram. "Nesse contexto, os investidores estão menos interessados em empresas alavancadas e a Cosan é particularmente desafiadora".
Em nota distribuída nesta quinta, Ometto e o presidente da Cosan, Marcelo Martins, disseram que a decisão de venda das ações foi "pragmática". A operação foi considerada positiva pelo banco Itaú BBA, por eliminar um peso ao valor dos papéis.
"O patamar atual da taxa de juros nos obriga a reduzir a alavancagem da Cosan", afirmou o Ometto. "Na minha trajetória de empreendedor, fui ficando mais pragmático. Já passei por muito e aprendi que o foco deve ser na disciplina financeira para podermos continuar crescendo"
A ofensiva de Ometto sobre a Vale foi planejada em um momento de proximidade da empresa com o governo Jair Bolsonaro (PL), derrotado nas urnas logo depois. Tinha como objetivo garantir influência sobre uma das maiores empresas brasileiras, grande consumidora de combustíveis, energia e logística.
Ao mesmo tempo, Vale e Cosan discutiam parceria no porto de São Luís, no Maranhão, projeto orçado em pouco mais de R$ 1 bilhão, que ficaria a seis quilômetros da EFC (Estrada de Ferro Carajás) e teria capacidade para movimentar mais de 100 milhões de toneladas ao ano.
"Vamos entrar para somar e garantir que a companhia e os executivos terão os recursos necessários, o alinhamento necessário em relação a alavancar todas as possibilidades que o portfólio da Vale permite", disse na época o então presidente da Cosan, Luis Henrique Guimarães.
Guimarães foi eleito para o conselho da Cosan e, depois, se tornou candidato de Ometto ao comando da companhia. A eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o histórico recente bolsonarista do empresário afastaram a companhia do governo e dificultaram os planos.
A Vale acabou elegendo seu diretor Financeiro, Gustavo Pimenta, com apoio da Previ, o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, hoje o principal veículo de influência do governo sobre a mineradora (Folha, 17/1/25)
Recordando: Lula despacha e não recebe um dos maiores empresários do País. Saiba o motivo
Lula e Rubens Ometto. Foto Lula: Ricardo Stucker, Ometto Patricia Monteiro - Getty Images
Por Luís Costa Pinto, jornalista, no 247
Lula ficou indignado com ataques coordenados por Ometto, contra a indicação de Guido Mantega para a direção de mineradora.
Na quinta-feira 3 de agosto a agenda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva registrava uma última audiência, às 15h, antes que ele se deslocasse para a posse do advogado Cristiano Zanin como ministro do Supremo Tribunal Federal: Rubens Ometto, um dos maiores empresários do País, referência do agronegócio, controlador do Grupo Cosan.
Lula e Ometto se consideram “amigos”, apesar de já terem tido uma amizade mais calorosa em outros tempos. O dono da Cosan, um dos maiores produtores de açúcar e álcool do Brasil, investidor do setor de óleo e gás, esteve na proa do contratorpedeiro que em 2016 articulou o golpe do impeachment sem crime de responsabilidade contra Dilma Rousseff.
Foi também um feliz avalista dos tempos de Michel Temer na Presidência e se converteu em bolsonarista risonho e sem subterfúgios no curso da tragédia brasileira da qual fomos contemporâneos entre 2019 e 2022. Na campanha do ano passado, Ometto doou R$ 20 milhões de seu caixa pessoal à campanha de Jair Bolsonaro, que perdeu a tentativa de reeleição para Lula. O petista recebeu apenas 10% do volume doado ao adversário no caixa de campanha do PT.
No dia da posse de Zanin, o controlador da Cosan chegou ao gabinete presidencial depois de uma reunião razoavelmente extensa com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, durante a qual expôs genericamente seus planos de expansão empresarial e detalhou o porquê da relevância da mineradora Vale (ele detém 4% das ações da maior empresa privada brasileira) em seu portfólio.
O controlador da Cosan, entretanto, deixou de contar a Haddad que a artilharia pesada contra Guido Mantega, ministro da Fazenda mais longevo no cargo em toda a História (ficou no posto entre março de 2006 e o novembro de 2014) partia de seu arsenal e era operada pelo exército mercenário que obedece a Rubens Ometto na mídia tradicional. O objetivo é impedir que Mantega ascenda ao Conselho ou à presidência da Vale indicado pela maioria dos controladores da mineradora.
O fundo de pensão Previ, do Banco do Brasil, possui dois votos no Conselho de Administração e integra o bloco majoritário junto com o Bradesco, a siderúrgica Mitsui e conselheiros independentes. “Não vou recebê-lo”, decretou Lula, um minuto antes de sua secretária anunciar que Ometto estava em sua antessala.
“Inventa uma desculpa e diz a ele que outro dia conversamos. E que sei o que ele está fazendo com o Guido”, determinou o presidente da República a um de seus ajudantes-de-ordens. Foi um frisson no gabinete presidencial. Rubens Ometto foi conduzido aos elevadores do 3º andar, pegou um deles, e caminhou em silêncio para fora do Palácio do Planalto.
Até a tarde da terça-feira, 8 de agosto, o controlador da Cosan e o presidente da República, que já foram mais próximos e mais calorosos, não haviam voltado a se falar. Lula aguarda que sejam revogadas as oposições à ascensão do ex-ministro da Fazenda na Vale e que os jagunços de Ometto segurem suas baterias que promovem assassinatos de reputação (Blog Pensar Piauí, 8/8/23)