Crise financeira na Turquia desacelera exportações de gado vivo do Brasil
A exportação brasileira de gado vivo perdeu ritmo nos últimos meses após o agravamento da crise financeira na Turquia. O país é líder na compra de gado em pé do Brasil.
"A crise na Turquia atingiu em cheio o setor, que teve, inclusive, cancelamento de contratos", diz Gastão Carvalho Filho, presidente da Boi Branco e exportador de gado vivo.
As importações turcas, que somaram US$ 72 milhões (R$ 295 milhões) em maio, recuaram para uma média mensal de US$ 29 milhões (R$ 119 milhões) em julho e agosto. "Em setembro, deverão cair ainda mais", diz o executivo da Boi Branco.
A crise da Turquia já era sentida no setor de exportação de gado nos últimos meses, segundo ele. Mesmo assim, os turcos compraram o correspondente a US$ 253 milhões (R$ 1 bilhão) neste ano em gado, de um total de US$ 316 milhões (R$ 1,3 bilhão) exportados pelo Brasil. Os dados são da Secex (Secretaria de Comércio Exterior).
Apesar da redução das importações da Turquia, o mercado vai achar novos caminhos, na avaliação de Carvalho Filho. Já foi assim quando a Venezuela, até então principal importador brasileiro, saiu do mercado por causa dos problemas econômicos do país.
O setor de exportação de gado vivo está bem estruturado. Criou-se uma cadeia desenvolvida, até mesmo com empresas voltadas para silagem e para transporte. O gado brasileiro tem preço competitivo e sanidade, diz Carvalho Filho.
Para o executivo, a redução na Turquia fará com que o mercado brasileiro trabalhe firme no Oriente Médio e na China, apesar das distâncias.
O Brasil tem espaço para crescer nesse mercado. Mesmo com a alta dos preços dos grãos, o gado brasileiro continua com condições favoráveis em razão da valorização do dólar frente ao real.
O Brasil é o quarto maior exportador mundial de gado vivo. A Austrália, um dos países líderes do setor, é muito ativa e tem preços competitivos. "As empresas australianas trabalham muito bem", diz ele.
A União Europeia tem uma presença forte no Oriente Médio com bom gado e preços competitivos. Já o Canadá, outro país importante na venda de gado vivo, é voltado mais para os Estados Unidos.
O Brasil vem ganhando mercado na parte comercial com gado de qualidade e preços competitivos. Esse avanço, porém, coloca o país cada vez mais como alvo das barreiras sanitárias de importadores, aponta o executivo (Folha de S.Paulo, 11/9/18)