Cuidado ambiental é bom negócio – Editorial O Estado de S.Paulo
ESTADÃO AZUL
Revalorização da política ambientalista pode facilitar o retorno de grandes fundos de investimento.
Florestas preservadas podem representar bilhões de dólares e euros aplicados no País, a cada ano, e o resultado da eleição presidencial é um sinal positivo para os investidores. Representantes de fundos noruegueses já expressaram otimismo quanto à política ambiental do futuro presidente, Luiz Inácio Lula da Silva. Dirigentes de um fundo responsável pela gestão de mais de 400 bilhões de euros estudam suspender, segundo comentário citado pelo Estadão, restrições à compra de títulos do governo brasileiro. Representante de outro grupo mencionou os danos à imagem do Brasil, durante a gestão do presidente Jair Bolsonaro, e citou o mandato anterior do presidente eleito como um fator de credibilidade. A presença do presidente Lula na Cop-27 pode reforçar essa avaliação.
O Brasil pode proporcionar excelentes negócios a investidores de todo o mundo, mas os mercados mais desenvolvidos impõem responsabilidades ambientais e sociais a empresas de todos os setores. É essencial o respeito a certos valores. Grupos brasileiros, incluídos alguns dos maiores da área financeira, já incluíram a preservação ecológica em suas normas de operação. Normas desse tipo já balizam há vários anos a atuação de grupos baseados no mundo rico.
A importância do investimento externo ultrapassa os benefícios diretos para este ou aquele setor ou para a aceleração do crescimento. Além desses ganhos, de enorme relevância para o Brasil, o ingresso regular de moedas fortes proporciona tranquilidade cambial, previsibilidade e redução dos custos financeiros. Quando recursos estrangeiros facilitam, por exemplo, o financiamento do Tesouro, o governo tem mais espaço para operar e cumprir suas tarefas. Mas certas condições são indispensáveis para a atração regular do capital de fora.
Quando improvisação e voluntarismo afetam as decisões do Executivo, como afetaram muitas vezes nos últimos anos, perde-se previsibilidade e prejudica-se o fluxo regular de capitais. O câmbio torna-se instável e os juros são pressionados para cima. Dólar sobrevalorizado contamina preços internos e consumidores pagam pela insegurança. Conter a inflação em ambiente de incerteza fiscal e de instabilidade cambial foi um duro desafio para os condutores da política monetária.
Durante a maior parte do mandato do presidente Jair Bolsonaro, a tolerância à devastação ambiental assustou investidores externos, afetou o ingresso de recursos e pôs em risco, seguidamente, exportações do agronegócio, principal fonte de receita comercial. Foi muito trabalhoso, nesse período, preservar importantes mercados da agropecuária e defender a imagem da atividade rural brasileira. Aos desmandos ambientais ainda se acrescentaram problemas diplomáticos ocasionados por atitudes e palavras do presidente Bolsonaro, de seus filhos e de alguns de seus auxiliares mais próximos. Não só pelo resgate da política ambientalista, mas também por outros fatores de relevância diplomática, a mudança de governo poderá marcar um reingresso do Brasil no cenário mundial (O Estado de S.Paulo, 16/11/22)