De saída, chefe da Embrapa admite clima ‘terrível’
Em resposta à decisão do Conselho de Administração da Embrapa de antecipar o processo de troca na presidência da estatal dois dias atrás, o presidente Maurício Lopes (Foto) afirmou existir um clima "terrível" de insatisfação e desânimo na sociedade que está por trás das críticas que vem sofrendo internamente pela recente reestruturação da estatal em curso desde o fim de 2017.
À frente da empresa pública desde 2012, o mandato de Lopes se encerra em outubro sem mais possibilidade de renovação. Mas o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, determinou que o conselho da empresa já começasse a selecionar candidatos ao cargo. Fontes da Embrapa ouvidas pela reportagem entendem que o processo foi antecipado de forma inédita, já que é tradição da empresa só iniciar a escolha do novo presidente após a saída do antecessor.
O presidente da Embrapa vem acumulando recentes desgastes como a demissão no início deste ano do pesquisador Zander Navarro – revertida posteriormente pela Justiça – e críticas de servidores ao processo de reestruturação para enxugar gastos e remodelar unidades e centros de pesquisa da empresa.
"A gente vive um momento hoje no país que não tem ninguém satisfeito com nada, então é supernatural que ao discutir a estrutura de uma instituição tão importante quanto a Embrapa isso gere preocupação e críticas", disse Lopes ao Valor. "Tem muita gente na empresa que quer uma assembleia com todos os empregados para decidir que mudança faremos, acontece que a Embrapa tem 9 mil empregados. Então a maior parte disso tudo é conversa e faz parte desse clima muito ruim, muito difícil que o Brasil está vivendo", afirmou.
Lopes negou que as críticas internas à sua gestão tenham sido cruciais para o anúncio de sua saída. E disse que tudo que tem feito na empresa é de conhecimento do ministro. Após outubro, ele espera retomar a carreira de pesquisador, sem saber, porém, onde deve morar. "Tenho carreira longa pela frente, não me passa pela cabeça me aposentar, me considero jovem, tenho certeza que ainda tenho muitas coisas para fazer", afirmou Lopes, que tem 55 anos.
O ministro Blairo Maggi saiu em defesa de Lopes, dizendo que "cada um tem seu tempo" e que a mudança na presidência se encontra dentro da normalidade, já que Lopes já havia sido reconduzido uma vez à presidência nos últimos anos como permite o estatuto da empresa. Por telefone da África do Sul, onde participa da reunião do Brics, Blairo preferiu fugir de qualquer possível polêmica e disse que pediu pessoalmente a Lopes que tocasse o processo de reestruturação para que a empresa seja mais eficiente e enfrente a carência dos recursos (Assessoria de Comunicação, 22/6/18)