18/08/2020

Demanda artificial por alimento básico pode prejudicar pequenos produtores

Pequeno produtor, voltado mais para o mercado interno, deverá ter uma saída da crise mais complicada 

 Outro ponto preocupante são os custos de produção que se elevam.

agropecuária vive uma situação inédita. Apesar da crise causada pelo coronavírus, a maioria dos preços agrícolas pagos aos produtores está em patamares elevados e, em muitos casos, são recordes.

Os produtos que vão para o mercado externo têm preços garantidos pelo dólar alto e pela intensa demanda externa. Internamente, os itens básicos —arroz, feijão e farinhas— também têm sustentação de preços pela demanda. Ela vem da melhora de renda das famílias de menor poder econômico, aquecida pelo auxílio emergencial.

A saída dessa crise, porém, preocupa, diz Nicole Rennó, pesquisadora do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).

O grande produtor deverá continuar sendo favorecido pela demanda externa e pelo câmbio. O pequeno, voltado mais para o mercado interno, deverá ter uma saída da crise mais complicada.

A demanda atual pelos produtos básicos é artificial, vinda do programa emergencial. Ela não poderá ser mantida por longo prazo.

Lavradores trabalham em plantação de alface orgânica da propriedade de José Menino, em 22 de julho de 2005, em Verava, Ibiúna, São Paulo

Pequeno produtor, voltado mais para o mercado interno, deverá ter uma saída da crise mais complicada - Renato Stockler

Outro ponto preocupante é que os custos de produção estão se elevando, puxados pelo câmbio e pelo bom momento dos preços agrícolas.

A alta de preços dos produtos dá melhor margem aos produtores, mas permite também um ajuste de margens das fornecedoras de insumos.

A pressão maior desse aumento recai sobre os pequenos e médios, os de menor escala e voltados basicamente para o mercado interno. Os grandes têm mais poder de barganha.

Rennó diz que esse cenário favorável para os preços agrícolas tem como fator comum o dólar e a demanda. Eles poderiam ser ainda maiores, contudo, não fosse a produção recorde deste ano.

A agricultura sempre tem uma característica de resiliência nas crises. A decisão de produção ocorre antes, segundo ela. No caso de 2020, os produtores já tinham definidas suas intenções de plantio antes da pandemia. Além disso há uma essencialidade dos alimentos, o que segura a demanda.

Das duas dezenas de produtos acompanhados pelo Cepea, poucos têm preços em queda. Açúcar é um dos destaques na alta (Folha de S.Paulo, 18/8/20)