Dólar cai para R$ 5,05 e fecha semana em alta de 2,92%; Ibovespa cai 1,80%
IBOVESPA 1 Foto Daniel Teixeira Estadão
Desconforto com forma final do novo arcabouço fiscal foi razão para movimentações desde segunda-feira
Após três pregões consecutivos de alta firme, período em que acumulou valorização de 3,49%, o dólar encerrou a sessão desta quinta-feira, 20, em queda de 0,55%, cotado a R$ 5,0584, após oscilar cerca de cinco centavos entre mínima (R$ 5,0373) e máxima (R$ 5,0867). A Bolsa de Valores teve alta de 0,44%, aos 104.366,82 pontos, mas terminou a semana com baixa de 1,80%.
Apesar do refresco hoje, o saldo semanal é negativo para a moeda brasileira. O dólar termina a semana de quatro dias úteis com valorização de 2,92% no mercado doméstico, o que reduziu as perdas no mês - que chegaram a superar 3% - para 0,20%. O real e o peso colombiano apresentaram o pior desempenho entre as divisas emergentes e de países exportadores de commodities no período.
Embora a semana tenha sido marcada por recuperação da moeda americana no exterior, com altas das taxas dos Treasuries em meio à diminuição de apostas de redução de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco dos EUA) no segundo semestre, a alta do dólar no mercado doméstico é atribuída, sobretudo, à recomposição de prêmios de risco em razão do desconforto com o novo arcabouço fiscal.
Para o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, o saldo negativo de US$ 3,8 bilhões do fluxo cambial total na semana passada (de 10 a 14 de abril) mostra que o recuo do dólar para a casa de R$ 4,90 não era sustentável. “A fragilidade da regra fiscal e o seu risco não foram removidos. No exterior, colegiado do Federal Reserve mostra que a queda dos juros ainda vai demorar”, afirma Velho.
Apresentado ontem, o texto oficial do arcabouço desagradou pela série de exceções ao limite de gastos e pela ausência de sanções legais caso as metas estabelecidas não sejam alcançadas. Há muito ceticismo também em torno da geração de superávits primários, que dependeriam muito de ampliação de receitas, e da trajetória da dívida líquida/PIB.
“O real teve uma apreciação grande na semana passada com a questão fiscal. Mas a apresentação do texto nesta semana acabou trazendo um clima de tensão ao mercado. E lá fora dirigentes do Fed deram declarações mais duras nos últimos dias, o que mexeu com as curvas de juros americanas”, afirma o sócio e head de câmbio da Nexgen Capital, Felipe Izac.
O presidente da Câmara, Artur Lira, confirmou, no Twitter, o nome do deputado Cláudio Cajado (PP-BA) para a relatoria do Projeto de Lei Complementar (PLP) do novo arcabouço, como já havia sido antecipado pelo Estadão/Broadcast. Cajado é próximo de Lira, que recentemente acenou com aprovação célere da proposta na Casa, provavelmente em meados de maio. Uma ala do mercado vê possibilidade de que haja um endurecimento das regras fiscais durante a tramitação do texto.
No Congresso, crescem as chances de instalação de CPMI para apurar os atos em Brasília de 8 de janeiro, na esteira do pedido de demissão ontem do ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Gonçalves Dias, após divulgação de vídeo em que é flagrado no Palácio do Planalto interagindo com golpistas que invadiam o local no dia 8.
“Os ruídos políticos e a instalação da CPMI tiram o foco das reformas. O Congresso vai ter de exigir ajuste automático da despesa e impor penalidades na regra fiscal para melhorar a probabilidade de recuo da Selic em junho”, afirma Velho, da JF Trust.
Bolsa
O Ibovespa saiu dos 106 mil pontos na terça-feira, chegou a 103,9 mil na sessão de ontem, e fechou a semana de volta aos 104 mil. Assim, aparou a perda de semana mais curta a 1,80%, vindo de ganho de 5,41% na anterior, quando teve o maior avanço semanal desde o intervalo que precedeu o Natal, entre 19 e 23 de dezembro. Hoje, entre mínima de 103.086,98 e máxima de 104.615,18, fechou em leve alta de 0,44%, aos 104.366,82 pontos, após ter recuado 2,12% ontem.
Em semana pautada por certa frustração do mercado com o formato do arcabouço fiscal que enfim chegou ao Congresso, o Ibovespa devolveu parte do entusiasmo que o havia projetado acima dos 106 mil pontos na semana anterior, quando prevaleceu otimismo derivado de leituras mais fracas sobre a inflação, aqui e nos Estados Unidos, melhorando então a perspectiva dos investidores para as taxas de juros (Selic e Fed funds) no fechamento do ano.
Conhecido o arcabouço que passa a ser avaliado no Congresso, sem definição ainda do escopo de governo e oposição na hora do voto, as regras de exceção ao teto e a incerteza quanto ao potencial de arrecadação adicional para fundamentar gastos públicos lançaram os ativos brasileiros na defensiva ao longo desta semana. Lá fora, o período contou com declarações cautelosas de autoridades monetárias, nos Estados Unidos como na zona do euro, sem indicações de que cortes nas taxas de juros estejam a caminho, apesar da extensão do ciclo de aperto.
“O medo é de que o fiscal não seja tão exequível quanto poderia parecer num primeiro momento”, observa Ricardo Campos, sócio e diretor de investimentos da Reach Capital. “O arcabouço desapontou por uma série de motivos. O plano inicial já era ruim, longe dos sonhos, mas considerado ‘ok’, o que ajudou o mercado a sair dos 100 mil pontos”, diz o gestor, chamando atenção de que no Congresso, pela “natureza um pouco mais gastadora”, alterações podem ainda vir a ocorrer (O Estado de S.Paulo, 21/4/23)