07/12/2018

Dólar fecha em alta pelo terceiro dia seguido, com tensão comercial global

Dólar fecha em alta pelo terceiro dia seguido, com tensão comercial global

Prisão de executiva da Huawei alimentou temores sobre as relações entre EUA e China, dias após anúncio de trégua temporária na 'guerra comercial'. Moeda chegou a bater R$ 3,94.

O dólar fechou em alta pelo terceiro dia seguido nesta quinta-feira (6), quando chegou a superar o patamar de R$ 3,94, acompanhando o cenário externo adverso após a prisão de uma executiva da gigante chinesa Huawei. O episódio intensificou temores de guerra comercial entre Estados Unidos e China, poucos dias depois de um encontro histórico entre os presidentes dos dois países.

A moeda norte-americana subiu 0,17%, e fechou vendida a R$ 3,8745. Na máxima do dia, chegou a R$ 3,9429. 

Já o dólar turismo fechou a perto de R$ 4,05, sem considerar o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Na máxima do dia, chegou a passar de R$ 4,11.

Tensão comercial

A alta do dólar, assim como a queda das bolsas pelo mundo nesta quinta, ocorre em meio a preocupações de que a prisão possa criar mais uma barreira entre a China e os EUA, dias depois de os presidentes Donald Trump e Xi Jinping terem negociado, no G20, uma tréguatemporária em sua "guerra comercial" para que os dois lados tenham mais tempo para as negociações.

"É negativo para a China...e se é negativo para a China é também para os países emergentes. É dólar mais forte...sugere menos exportações do Brasil", disse à Reuters a estrategista de câmbio do Banco Ourinvest, Fernanda Consorte.

Meng Wanzhou, vice-presidente financeira da Huawei e filha do fundador da empresa, Ren Zhengfei, foi presa em Vancouver, no Canadá, e enfrenta uma possível extradição para os EUA por supostas violações de sanções dos EUA ao Irã.

A Huawei, uma das maiores fabricantes de equipamentos de telecomunicações do mundo, já enfrentou dificuldades no mercado dos EUA no passado devido a alegações de que seus equipamentos podem conter brechas de segurança que poderiam permitir um monitoramento não autorizado, destaca a Reuters.

"Essa movimentação do mercado ainda é num contexto de dúvida sobre o que vai ser da guerra comercial", disse ao G1 o economista chefe da Infinity Asset, Jason Vieira. Ele comenta que o episódio da Huawei serviu para adicionar ainda mais incertezas sobre . a trégua negociada no G20

"Esse fato não colabora, obviamente, é péssimo. Mas, como a China chegou a anunciar algumas coisas logo depois da prisão, fica a dúvida de que pé está o negócio, se existem temores que isso possa se estender a outras empresas", diz Vieira. "E, sabendo como é Donald Trump, a possibilidade de que tudo se altere no meio do caminho é muito grande."

O economista chefe da DMI Group, Daniel Xavier, também aponta temores entre a relação entre EUA e China e diz que, "no fundo, o fantasma não é só o conflito comercial, mas também diplomático."

Xavier também avalia que o mercado já vinha em dúvida sobre o acordo do G20, especialmente depois da divulgação de comunicados pelos governos dos dois países. "Cada uma das partes saiu da reunião do G20 e emitiu um comunicado, só que não era uma mensagem única. Cada um tinha uma leitura do comércio. Algumas incongruências começaram a ser reinterpretadas pelo mercado, e para piorar veio a notícia dessa prisão", disse ao G1.

Outras preocupações externas

O episódio é mais um a se somar à aversão ao risco global. Na quarta-feira (5), o presidente da Rússia, Vladimir Putin, já tinha dito que seria forçado a responder se os EUA saírem do Tratado de Controle de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF, na sigla em inglês), um dia depois de os norte-americanos darem um ultimato de 60 dias aos russos.

Em meio à tensão geopolítica e guerra comercial, o achatamento da curva de juros norte-americana no começo da semana também levantou preocupações sobre uma possível recessão nos EUA, destaca a Reuters.

Cenário local e atuação do BC

Internamente, os investidores se mostraram cautelosos com o novo governo e as indefinições sobre reforma da Previdência e a cessão onerosa.

"Acho que é cedo para sabermos como será a articulação do governo, vamos ter condição de avaliar em janeiro ou fevereiro. Mas o mercado está ansioso... é mais um ponto negativo a pressionar o câmbio", disse Consorte, da Ourinvest.

O BC vendeu nesta sessão 13,83 mil contratos de swap cambial tradicional, equivalente à venda futura de dólares. Desta forma, rolou US$ 2,766 bilhões do total de US$ 10,373 bilhões que vence em janeiro. Se mantiver essa oferta diária até dia 21 e vendê-la integralmente, terá concluído a rolagem total.

"Se a situação de fato se agravar para emergentes, o BC pode reforçar a oferta de swap", comentou Consorte.

Fechamento anterior

O dólar subiu na quarta, em meio às preocupações sobre a economia norte-americana e a guerra comercial entre Estados Unidos e China. No Brasil, as atenções se voltaram para as intenções do governo eleito de fatiar a proposta de reforma da Previdência. A moeda norte-americana avançou 0,26%, vendida a R$ 3,8681 (G1, 6/12/18)