08/01/2021

Em dia de protesto, notícias de Chicago são as melhores

Em dia de protesto, notícias de Chicago são as melhores

Máquinas agícolas trabalham durante a colheita de soja, em Illinois, nos EUA - Daniel Acker/Bloomberg

 

Soja e milho têm os melhores preços em sete anos na Bolsa e elevam ganhos dos produtores.

Enquanto parte dos produtores montavam em seus tratores para protestar contra a política de revisão do ICMS em São Paulo, as notícias vindas de Chicago não poderiam ser melhores.

Soja e milho estão iniciando 2021 com os melhores preços dos últimos sete anos, em Chicago. A Bolsa desta cidade é a base para os preços mundiais dessas commodities.

Para os produtores que têm conexão com o mercado externo, é um sinal de mais um ano de ganhos. Para os que atuam apenas no mercado interno, as coisas podem ficar ainda mais complicadas, devido a custos e à renda interna apertada.

A saca de soja atingiu US$ 13,78 por bushel (27,2 quilos) nesta quinta-feira (7), o maior valor desde março de 2014. Já o milho superou US$ 5 por bushel (25,4 quilos) e obteve o maior valor desde maio daquele ano.
Os preços da soja neste início de ano, em dólares, superam em 44% os de janeiro de 2020, quando já haviam sido melhores do que os do início de 2019. Já o milho teve alta de 29% no período.


A alta nos Estados Unidos reflete no Brasil. A saca de soja para a entrega em fevereiro está sendo comercializada a R$ 152 em Cascavel (PR). Este valor supera em 19% o do início de dezembro passado.
Em Sorriso (MT), as vendas estão sendo feitas a R$ 140 por saca, uma alta de 17% em relação ao valor do início de dezembro.

Entre os motivos do aumento dos cereais em Chicago, está a chegada dos fundos de investimentos às commodities agrícolas. Com o “dólar index” —uma cesta das principais moedas— no mais baixo patamar desde 2018, os investidores buscam o mercado de commodities.Para os brasileiros, é um cenário perfeito.

Preços em alta das commodities em Chicago e valor elevado do dólar no mercado interno aumentam os ganhos em reais. A relação de troca entre produtos e insumos fica mais favorável.

Mas não é apenas a baixa do “dólar index” que dá sustentação aos preços das commodities na Bolsa de Chicago.

A Argentina, grande produtora e exportadora de soja e de milho, passa por turbulências no campo. O governo interrompeu as exportações de milho e os produtores protestam contra essa política.

O Brasil, após exportações recordes de soja no ano passado, ficou sem estoques e não terá produto para mandar para o mercado externo neste mês, devido ao atraso no plantio. Só em fevereiro parte das áreas plantadas estará sendo colhida.

Os estoques dos Estados Unidos estão baixos, após as compras aceleradas da China naquele mercado. Enquanto isso, o fluxo de dinheiro especulativo nas commodities vai colocando mais pressão nos preços dos produtos.

Com a safra norte-americana, que chegou ao mercado no último trimestre de 2020, praticamente negociada, o mercado olha para as safras brasileira e argentina.

A do Brasil, apesar do receio inicial com o clima, não deverá ter a quebra que se previa. Já a da Argentina continua indefinida devido ao clima bastante incerto.

A comida ficou cara

Os alimentos subiram 16%, em média, na cidade de São Paulo em 2020. E o consumidor não teve muito como fugir desse aumento, uma vez que a evolução de preço atingiu todos os setores.

A liderança ficou com o óleo de soja, um dos itens mais utilizados na cozinha, segundo pesquisa da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).

A intensa exportação de soja em grão e do próprio óleo de soja feita pelo Brasil, devido ao incentivo do dólar, fez o preço do óleo subir 116% no ano. O de milho, também impulsionado pelos preços internos do cereal, ficou 38% mais caro.

Para quem tem a renda apertada, o consumo de carnes esteve distante. Os cortes de carne bovina mais baratos tiveram os aumentos mais acentuados. A picanha subiu 22%, mas o músculo, 34%.

Os dados da Fipe apontam também alta de 31% na carne suína, produto cobiçado pela China no ano passado.

O arroz teve evolução de 77%, e o feijão, de 20%. Quem fugiu para a batata pagou 49% mais. Nos cálculos da Fipe, estiveram mais favoráveis frango e ovos, ambos com aumento acumulado no ano de 16% (Folha de S.Paulo, 8/1/21)