Empresa deve aliar o investimento social à estratégia do negócio
Com mediação de Thiago Bethônico evento promovido pela Folha na sexta-feira2 6 de 11, debateu práticas de ESG - Foto Keiny Andrade Folhapress - DIVULGACAO EVENTO DA FOLHA DE SAO PAULO
Legenda Com mediação de Thiago Bethônico evento promovido pela Folha na sexta-feira (26), debateu práticas de ESG - Foto Keiny Andrade Folhapress
Para especialistas, iniciativas de impacto podem contribuir para sustentabilidade da companhia.
Associar os investimentos sociais à cadeia de produção da empresa e também a uma estratégia de negócios de longo prazo pode contribuir para a sustentabilidade da organização.
Para Claudia Emiko Yoshinaga, coordenadora do Centro de Estudos em Finanças da FGV, ações sociais e lucro não devem ser opostos. Pelo contrário: um bom planejamento em iniciativas de impacto pode ajudar a companhia a se manter.
Ela foi uma das participantes da segunda edição do seminário ESG: Sustentabilidade e compromisso social, promovido pela Folha na última sexta-feira (26).
A sigla ESG vem de um termo em inglês e é usada para designar a adoção de boas práticas ambientais, sociais e de governança.
Para Yoshinaga, as ações sociais estão entre os investimentos mais difíceis de serem mensurados. Isso acontece pela dificuldade de estabelecer indicadores que possam apresentar resultados.
Por isso, a consultora financeira reforça a importância do estabelecimento de metas: "Assumir um compromisso público é importante para que a sociedade em geral e os investidores possam cobrar os resultados, além de aumentar o engajamento social da própria empresa", afirma.
O impacto na sociedade previsto pelo ESG inclui programas dentro e fora do ambiente corporativo, por exemplo: políticas de inclusão e diversidade, promoção de saúde e segurança para os funcionários, impacto positivo na comunidade em que a empresa está inserida e respeito aos direitos humanos.
Para Luciana Antonini Ribeiro, cofundadora da EB Capital, gestora de investimentos, filantropia e investimento em ações de impacto são práticas distintas. A primeira acontece em uma direção só, com doações para determinada causa, por exemplo. Já as iniciativas sociais encabeçadas pelo mundo corporativo podem conectar as atividades de uma empresa a soluções para problemas da sociedade.
"Cada organização precisa entender onde está seu poder de reverberação para aplicar as medidas sociais junto das estratégias de negócios", diz.
Rodrigo Brito, head de sustentabilidade para Brasil e Cone Sul da Coca-Cola, diz que projetos de sustentabilidade também precisam ser vistos como práticas sociais.
"Uma ação ambiental vai repercutir em determinada comunidade. Quando falamos de água, se existe um projeto de proteção de bacias, isso impacta no abastecimento de milhões de pessoas, no plantio de pequenos produtores rurais", afirma.
O Adaptation Gap Report, documento da ONU sobre ações de adaptação aos efeitos da mudança climática, aponta piores resultados para populações mais pobres.
Isso porque o orçamento necessário para lidar com os efeitos negativos do avanço da temperatura, como estiagens e inundações, é de cinco a dez vezes maior do que a quantia gasta por países em desenvolvimento.
Sobre a importância de métricas em ESG, Claudia Yoshinaga, da FGV, explica que os atuais rankings levam em conta dezenas de indicadores diferentes, o que pode ser bom para mostrar a abrangência do assunto, mas também pode desestimular a adoção de práticas do tipo por empresas pequenas e médias.
"Pensar em princípios sociais gerais, como segurança, saúde, políticas de inclusão e diversidade pode ser uma boa forma de incentivar as empresas a começarem essa jornada", diz.
Em setembro, o Centro de Liderança Paulista, organização que atua na formação de lideranças para administração pública, lançou um ranking de competitividade para os estados brasileiros baseado em investimentos em ESG e nos ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável), estabelecidos pela ONU.
Para investimentos em ESG, São Paulo ocupa a liderança, seguido de Santa Catarina e Distrito Federal, que aparecem em 2º e 3º lugares.
O seminário foi mediado pelo jornalista Thiago Bethônico e teve patrocínio da Coca-Cola e da Equinor (Folha de S.Paulo, 28/11/21)
Metas sustentáveis ajudam companhias a reduzir custos
Para especialistas, corporações estão mais avançadas em debate ambiental do que o governo.
A iniciativa privada tem muito a ganhar ao fazer investimentos e estabelecer metas para melhorar seu desempenho ambiental.
Na segunda edição do seminário ESG: Sustentabilidade e compromisso social, promovido pela Folha na última sexta (26), especialistas afirmaram que o uso de energia limpa e de tecnologias que permitam monitorar a produção e a eficiência energética pode gerar mais empregos e reduzir os custos de empresas.
ESG é uma sigla em inglês que significa melhores práticas ambientais, sociais e de governança. O evento sobre o tema teve patrocínio da Coca-Cola e da Equinor, companhia internacional de energia. O mediador foi Thiago Bethônico, repórter do jornal.
A primeira mudança necessária rumo às boas práticas ambientais deve começar com as lideranças das corporações e na forma como elas pensam, segundo Priscila Borin Oliveira Claro, líder do Núcleo de Sustentabilidade e Negócios do Insper.
Na opinião da professora, hoje existem companhias que estão mais avançadas nesse debate, com transparência e metas traçadas para os próximos anos. Ao mesmo tempo, há aquelas que "falam mais do que fazem" e as que estão perdidas nesse assunto —caso das pequenas e médias.
"Se trabalharmos sustentabilidade como estratégia, conseguiremos reduzir custos, diversificar negócios, melhorar a reputação e ter acesso a um capital mais barato."
Mesmo com iniciativas que ainda não se adequaram muito bem ao novo cenário, o mundo corporativo está mais avançado nessa discussão do que o governo, afirma a pesquisadora. Ela diz que, sem o apoio do Estado, o acesso a tecnologias que possam ajudar a tornar a indústria mais verde será reduzido.
A especialista ressalta que segmentos da indústria como o agronegócio, alvo frequente de reclamações e denúncias sobre desmatamento e poluição, são imprescindíveis para a garantia de um futuro mais sustentável para o país. Exemplos como a agricultura regenerativa, técnica para conservação e reabilitação de sistemas agrícolas, e o pagamento de serviços ambientais têm sido adotados fortemente pelo setor.
Muitas são as companhias que têm feito parcerias com startups para usar ferramentas de monitoramento do processo produtivo, a fim de torná-lo mais sustentável, destaca a professora. Isso porque alguns dos problemas podem estar além das fronteiras da companhia —na logística dos fornecedores, por exemplo.
Eficiência energética e fontes limpas podem ser benefícios grandes para a iniciativa privada, mas ajudam o país, afirma Kamyla Borges Cunha, coordenadora da iniciativa de eficiência energética no Instituto Clima e Sociedade. Entre os impactos mais relevantes, esse tipo de política de energia pode amenizar a crise hídrica, além de gerar mais empregos e reduzir o preço da conta de luz.
Para que haja mudança na matriz energética, entretanto, é preciso que seja realizada uma descentralização, com investimento em tecnologias como pequenas usinas e telhados solares, que abasteçam poucos lugares.
Além disso, a inteligência artificial, a internet das coisas e outras ferramentas ajudam a entender o processo produtivo e monitorá-lo melhor, de acordo com Cunha.
Embora o Brasil tenha potencial para essa transformação, os avanços dependem de reformas e políticas públicas que estão paradas na Câmara, afirma ela. "A discussão não é papel das corporações, mas papel do poder público em pensar estruturalmente essas políticas."
"Se existe um país no mundo que conta com condições de ter, pelo menos, a matriz elétrica 100% renovável até 2050 é o Brasil, dada sua imensa diversidade de fontes renováveis e suas condições para isso", diz Cunha.
O investimento em sustentabilidade também traz impacto social. "Os mais pobres são os que mais sofrem com os efeitos das mudanças climáticas", afirma Priscila Borin Oliveira Claro. Por isso, segundo ela, essas populações serão beneficiadas com a mudança de postura das empresas.
Esse é um desafio apontado por Ana Cupelo, líder de sustentabilidade da Equinor Brasil, que diz que as companhias devem encontrar uma forma de impactar positivamente as comunidades em que estão inseridas ao mesmo tempo que tentam reduzir os custos de operação.
Quando metas ambientais são traçadas, isso vira uma possibilidade. De acordo com ela, a multinacional do ramo energético da qual faz parte pretende destinar 50% dos investimentos para soluções de baixo carbono até 2030.
Os gastos também vão se destinar à energia limpa. A Equinor planeja implantar o primeiro parque eólico offshore (no mar), entre o Rio de Janeiro e o Espírito Santo.
Segundo Cupuelo, o projeto está em fase de licenciamento ambiental. "No Brasil, há a vantagem de termos muitas oportunidades de negócios associados à energia solar e eólica."
Para ela, o novo caminho proposto pelo ESG já é visto com bons olhos pela iniciativa privada e ganhou mais força pelos desafios econômicos trazidos pela pandemia.
"Ao se perceber que, com soluções sustentáveis e inovações no setor, as corporações teriam uma vantagem competitiva, houve uma mudança de jogo."
A cobertura completa e a transmissão do evento estão disponíveis no link www.folha.com/esg2 (Folha de S.Paulo, 28/11/21)