01/11/2024

Energia terá escalada incontrolável de custo sem meta ambiental ambiciosa

Energia terá escalada incontrolável de custo sem meta ambiental ambiciosa

LOGO FRENTE NACIONAL DOS CONSUMIDORES DE ENERGIA

Entidade que representa consumidores defende que Brasil apresente alvos mais rígidos na COP 29

Em meio à discussão no governo Lula (PT) sobre as metas ambientais a serem apresentadas pelo Brasil no mês que vem à comunidade internacional, a Frente Nacional dos Consumidores de Energia enviou uma carta a sete ministros pedindo que os objetivos sejam significativamente mais ambiciosos do que os atuais, sob pena de uma escalada incontrolável de custos e insegurança no setor.

As metas para o cumprimento do Acordo de Paris, chamadas de NDCs (Contribuições Determinadas Nacionalmente, na sigla em inglês), devem passar por uma nova rodada de atualizações até 2025. Mas, no caso brasileiro, a intenção é que os novos objetivos sejam anunciados em novembro, durante a 29ª Cúpula das Nações Unidas sobre o Clima (COP 29) em Baku (Azerbaijão).

O presidente da frente dos consumidores, Luiz Eduardo Barata, diz que o sistema energético do país ficará em risco nos próximos dez anos se as emissões de gás carbônico não diminuírem significativamente. Para ele, o Brasil precisa dar o exemplo e se comprometer com alvos altos de redução.

"No setor elétrico, ficamos extremamente preocupados com a questão climática", afirma. "Ao querer se anunciar como líder e protagonista mundial na defesa ambiental, o Brasil precisa dar exemplo. É importantíssimo que a gente torne as nossas metas NDC mais rígidas do que hoje", diz.

De acordo com o texto entregue ao governo, uma das causas da preocupação é o comprometimento da geração hidrelétrica em meio a períodos mais prolongados de estiagem devido ao aumento da temperatura.

"Temos uma matriz muito renovável, [mas] dependente do clima. Então as mudanças climáticas afetam sobremaneira a nossa produção hidrelétrica. Nossos reservatórios são afetados barbaramente quando temos falta de chuva. Isso aconteceu entre 2012 e 2015, aconteceu em 2021, e aconteceu neste ano em menor grau", diz Barata.

Além disso, haveria um maior incentivo às térmicas, com mais custos e mais emissões de gases de efeito estufa. Também entra no cenário o risco de maiores interrupções de energia com eventos climáticos mais frequentes e mais intensos prejudicando as redes aéreas.

"Mudanças climáticas, trazendo chuvas torrenciais e ventos fortes, são extremamente danosas para a nossa rede de transmissão e distribuição", afirma.

"Existe uma briga interna, difícil e complexa —nem no campo do governo, mas no campo da sociedade— contra um rigor maior das metas das NDCs. Então achamos que era importante manifestar a posição do setor elétrico, por ser uma enorme vítima das mudanças climáticas", diz.

A carta foi entregue ao vice-presidente e ministro Geraldo Alckmin (Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços) e aos ministros Rui Costa (Casa Civil), Fernando Haddad (Fazenda), Marina Silva (Meio Ambiente), Alexandre Silveira (Minas e Energia), Carlos Fávaro (Agricultura) e Mauro Vieira (Relações Exteriores).

O texto afirma que a atual NDC do Brasil já está defasada em relação aos desafios climáticos atuais e que a revisão deve avançar não apenas em termos de ambição, mas na responsabilização de todos os setores e atores envolvidos. "Os segmentos mais emissores precisam ser instados a uma profunda revisão de processos", afirma o texto.

"Os consumidores de energia entendem que não estabelecer novas metas significativamente mais ambiciosas de redução de emissões pressupõe a assunção por parte do governo federal da responsabilidade direta por não agir em prol da mitigação dos riscos climáticos que ameaçam o Brasil. Não ajustar as metas climáticas a partir das evidências técnicas e científicas disponíveis significa participar ativamente de um legado negativo para o futuro próximo do país", diz a carta.

De acordo com a entidade, sem a necessária redução de emissões, o equilíbrio do sistema elétrico "será radicalmente abalado por uma escalada incontrolável de custos, escassez hídrica e insegurança energética nos grandes centros urbanos" (Folha, 1/11/24)