19/01/2018

Ex-funcionários ocupam barracão em protesto contra dívidas trabalhistas

Fachada de uma das unidades da Smar em Sertãozinho, SP

 

 

Demitidos querem venda do espaço para quitação de valores atrasados. Após 3 anos de recuperação judicial, Justiça decretou falência de empresa, mas a manteve em funcionamento com ex-colaboradores como acionistas.

 

 

Ex-funcionários do grupo Smar, que chegou a ser a maior fabricante de equipamentos de automação industrial do Brasil, ocuparam um barracão da empresa nesta quinta-feira (18) em Sertãozinho (SP) em protesto contra o atraso no pagamento de acertos trabalhistas.

Os manifestantes pedem a venda do espaço avaliado em R$ 12,5 milhões para quitar parte das dívidas com os colaboradores que deixaram a fábrica, que teve a falência decretada pela Justiça em outubro do ano passado após três anos de recuperação judicial e uma dívida de R$ 32 milhões.

A mesma decisão garantiu que a empresa deveria continuar funcionando tendo ex-funcionários como acionistas.

“O que fizeram com a gente foi algo fora do comum. Acho que não se faz isso com um trabalhador depois de tantos anos prestados de serviço em uma empresa”, afirma Juliano Cesar, funcionário demitido após dez anos de empresa sem receber pelo menos três meses de salário.

EPTV, afiliada da TV Globo, procurou a Smar nesta quinta-feira, mas não conseguiu um posicionamento da empresa.

Barracão ocupado

Segundo os ex-funcionários, que se revezam no local, a ocupação no barracão será mantida por tempo indeterminado até que a venda do espaço seja concluída.

"Estou desempregado, vivendo de bico, não só eu como todos que estão aqui, e alguns que estão fazendo bico não puderam vir, porque estão fazendo um bico pra sobreviver. Fomos esquecidos pela empresa, pelos diretores e a Justiça também", afirma Reginaldo Soares de Melo.

Ele argumenta que os colaboradores demitidos esperam pela venda do barracão desde 2013, dado como garantia de que os direitos trabalhistas seriam quitados.

"As contas não param de chegar, tem gente que tem pai doente, acamado, tem filho pequeno, paga aluguel, e está vivendo agora de seguro-desemprego, que já está pra acabar."

Crise e falência

Fundada em 1974, a Smar chegou a ter clientes em 77 países. Entre os destaques produzidos pela indústria, por exemplo, está um sistema de injeção que movimenta os motores de alguns porta-aviões da marinha norte-americana.

A partir de 2009, a empresa passou a enfrentar uma grave crise financeira em consequência da baixa demanda de serviços – devido às dificuldades enfrentadas pelo setor sucroenergético – e de um suposto esquema bilionário de sonegação de impostos.

O pedido de recuperação judicial foi ajuizado em julho de 2013 e acatado no mês seguinte, mas o plano só foi acordado em setembro de 2014 com credores e ex-funcionários – cerca de 100 deles devem receber em torno de R$ 24 milhões.

Entre as medidas propostas estava o pagamento de 60% dos débitos trabalhistas com a venda de do barracão, agora ocupado pelos funcionários. Mas, tanto um leilão quanto uma tentativa de venda direta da unidade não tiveram interessados.

Diante da impossibilidade da continuação das atividades e do insucesso da recuperação judicial, o juiz Marcelo Augusto Gama decretou a falência com continuidade das operações, a partir da reestruturação do grupo em uma Unidade de Produção Isolada (UPI), com nome de “Nova Smar S/A” e capital social de R$ 28,1 milhões.

Segundo a decisão, os acionistas da Nova Smar seriam os atuais funcionários e aqueles que foram demitidos, mas ainda teriam direitos trabalhistas a receber. Nesse caso, as ações serão proporcionais aos créditos a que cada um tem direito (G1, 18/1/18)