Ex-ministro da Fazenda critica anúncio de Lula de novo financiamento do BNDES
Henrique Meirelles— Foto Samuel Santos CBN Ribeirão Preto
Henrique Meirelles citou que Brasil tem problemas de infraestrutura que precisam ser solucionados antes de governo pensar em apoio a outras nações. Ele também se mostrou desfavorável à criação de moeda comum com a Argentina.
O ex-ministro da Fazenda durante o governo Michel Temer (MDB), Henrique Meirelles, criticou, nesta quinta-feira (26) durante evento em Ribeirão Preto (SP), o anúncio do presidente Lula (PT) sobre novo financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em projetos de desenvolvimento e engenharia em países vizinhos.
A declaração do chefe do Executivo foi dada durante pronunciamento em Buenos Aires, na Argentina, ao lado do presidente argentino, Alberto Fernandéz. O petista ainda afirmou que está interessado em concluir uma obra na rede de tubulação para transporte de gás natural no país vizinho.
Para Meirelles, o Brasil carece de obras de infraestrutura e por isso esse não seria o melhor momento para oferecer ajuda a outras nações.
“Eu acho questionável isso, porque nós temos muita necessidade de investimento em obra de engenharia no Brasil e os recursos do BNDES são limitados. Então, por mais que se acredite na solidariedade continental, ideológica, acho que não temos recursos disponibilizados suficiente, em abundância suficiente, que é mais do que nós precisamos investir em infraestrutura no Brasil que nós podemos, então, investir nos vizinhos. Eu acho que o Brasil tem suficiente dose de necessidade, carências enormes de infraestrutura no Brasil, o custo-Brasil é elevado, custo de transporte é elevado. Dia desses estava vendo filmes de caminhões de transportes na região do Mato Grosso parar, etc, por buraco na estrada, caminhão saindo da estrada, etc. Então, tem uma necessidade de investimento grande de infraestrutura. Acho que o BNDES deve investir no Brasil”, afirmou.
Críticas à moeda comum
Meirelles, que também foi presidente do Banco Central do Brasil durante o primeiro governo Lula, não se mostrou favorável ao projeto de criação de uma moeda comum entre Brasil e Argentina.
Lula e Fernandéz disseram, em carta conjunta, que pretendem avançar nas discussões sobre uma moeda sul-americana comum para ser usada para fluxos comerciais e financeiros.
“O governo não definiu muito o que seria essa moeda única. Nós sabemos o que a Argentina quer. A Argentina não tem acesso a dólar porque ela está com problemas graves lá. O que a Argentina gostaria é poder comprar à vontade do Brasil, pagando numa moeda comum, mas isso, a moeda comum como tal, como é o Euro, a Argentina já tentou isso em 2004 por aí. Explicamos a eles que não era possível. O que é importante agora é ver ou, de fato, estabelecer apenas uma questão entre os bancos centrais dos dois países visando facilitar o comércio, criando um meio de pagamento entre os dois países, mas mesmo isso tem limitação, porque vai depender não só de haver exportações brasileiras para a Argentina, como tem hoje, e muito, mas também importação da Argentina no Brasil. O Brasil exporta para a Argentina, mas tem que importar também para equilibrar, porque senão o Banco Central do Brasil vai ficar acumulando essa moeda e não vai ter como usar isso” (G1, 26/1/23)