Fatos batem mais forte que ficção das redes – Por Dora Kramer
Sidônio Palmeira Foto Marcelo Camargo – Agência Brasil
Governo tem mais poder que a oposição, mas não sabe o que fazer com ele e perde o debate público.
Posse de chefe da comunicação oficial com a presença do presidente da República e o ministério em peso não é algo habitual, muito menos trivial. Muitos ministros não tiveram a mesma deferência ao assumir seus cargos.
Claríssimo o recado de Lula na sinalização de que Sidônio Palmeira está autorizado a dar as cartas à equipe toda. Foi só um detalhe, mas não fugiu às imagens da cerimônia o semblante sisudo da normalmente sorridente Janja da Silva.
O tamanho da importância foi logo abalroado pela enormidade da derrota do governo na área, logo na largada com a trapalhada do Pix.
O cancelamento da normativa da Receita Federal sobre o monitoramento da ferramenta nas transações acima de R$ 5.000 piorou a coisa do ponto de vista político, mas não havia outro jeito a não ser estancar a sangria da qual o governo viu-se vítima de si próprio. Reconheceu a incapacidade de reagir.
No discurso de posse, Sidônio Palmeira apontou como o principal entrave à falta do devido reconhecimento das boas ações do governo por parte da população: as mentiras difundidas pela "extrema direita" nas redes sociais.
Segundo ele, esse pessoal manipula os fatos, cria uma "cortina de fumaça" que impede a correta e real percepção das eficientes ações governamentais.
Sidônio Palmeira se propõe a dissipar essa névoa e alerta que a tarefa deve ser compartilhada por toda a Esplanada no entendimento das novas demandas da sociedade.
Espera aí, mas a culpa não era dos radicais, não está tudo bem, bastando que se combata a desinformação para ficar melhor? Não parece que seja bem assim.
Nas entrelinhas, nas quais citou de raspão a necessidade de se aliar política e gestão eficientes, o novo ministro passou a mensagem de que há algo mais a ser vencido além da batalha da comunicação.
É verdade, como ele disse para exemplificar, que os pais "precisam saber que há vacina no posto para seus filhos". Ocorre, porém, que ficam sabendo também do aumento de 400% nos casos de dengue e da confusa atuação da Saúde na epidemia.
Pais e filhos tampouco percebem, porque não há, uma disposição de enfrentar o tema da segurança pública à altura da ameaça do crime organizado à soberania nacional.
Não foge, no entanto, à percepção das famílias a alta da inflação dos alimentos. O governo dá pouca atenção a isso ao não reconhecer sua participação na crise de confiança no equilíbrio das contas e põe peso maior em secas e enchentes.
Maquiagem da verdade é grave na oposição, mas não rende grandes danos. Quando parte de governos o bem solapado é a credibilidade que bate direto na popularidade.
É este o fator que desconcerta o Palácio do Planalto e o faz despertar com atraso de dois anos para o fato de estar perdendo no debate público. As pesquisas de opinião dizem isso.
Levantamentos de sete institutos —Datafolha, Poder Data, Ipec, Quaest, CNT/MDA, Paraná e Atlas/Intel— mostram contínua perda de aprovação e constante aumento de desaprovação do governo e do desempenho do presidente Lula, das primeiras às mais recentes consultas.
Da inversão dessa curva depende o sucesso do PT em 2026. E não se trata só da disputa pela Presidência, com reeleição ou não.
Há as eleições de governadores, senadores e deputados. Tarefa difícil à luz do desempenho da esquerda em 2024.
Já que atribui o panorama adverso às invencionices de internet, Lula poderia ter-se dado conta antes, pois não são exatamente uma novidade.
Além disso, o governo detém maior poder e mais instrumentos e visibilidade frente à oposição para emplacar a chamada narrativa que por ora não tem soado convincente (Folha, 17/1/25)