16/01/2025

Federações do Rio Grande do Sul contestam dados de arroz da Conab

Federações do Rio Grande do Sul contestam dados de arroz da Conab

LOGOS FEDEARROZ E FARSUL

Diferença entre várias entidades é de 400 mil toneladas no estado.

A Federarroz (Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul) e a Farsul (Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul) contestaram, em nota conjunta, os números da safra de arroz divulgados pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).

Segundo as entidades, os números da Conab trazem "nova rodada de desinformação quanto aos dados de área, produtividade e produção de arroz". As entidades lembram, ainda, a tentativa frustrada do governo de importar arroz no ano passado.

Para as entidades, o governo divulga dados equivocados, superestimando a produção, com o intuito claro de intervir nos preços do cereal. Para contestar o governo, a nota das duas entidades se baseiam em números da área semeada apurados pelo Irga (Instituto Rio Grandense do Arroz).

Também em nota, a Conab afirmou que "refuta qualquer ilação quanto à manipulação de dados com o objetivo de influenciar o comportamento do mercado agrícola". Em 2024, os preços do arroz mantiveram-se em alta, contribuindo para o aumento da área plantada, segundo o órgão do governo.

A entidade diz que volta a campo neste mês para aprimorar as informações do levantamento de safra.

Os números de área de plantio do Irga e da Conab indicam uma diferenças de 60 mil hectares nesta safra de 2024/25. Os dados mais recentes do Irga apontam que o Rio Grande do Sul semeou 928 mil hectares, 3% a mais do que em 2024. Esse número atingiu 98% da intenção inicial dos produtores, que era de 948 mil hectares. A Conab relata aumento de 9,7% na área do estado.

Só no final deste mês, o Irga consolidará os dados de área de plantio, produtividade e total de produção do estado, com base em informações colhidas em todos os municípios que cultivam arroz.

A Conab realmente tem a maior área estimada, prevendo 988 mil hectares. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia) prevê plantio de 954 mil e Evandro Oliveira, especialista em arroz e em feijão da Safras & Mercado, uma consultoria independente, estima a área em 944 mil hectares.

Além da área, o que vai determinar o volume a ser produzido será a produtividade. O IBGE estima que os produtores gaúchos conseguirão 8.318 kg por hectare, um volume inferior aos 8.356 da Conab. Já as projeções das federações e da Safras, embora ainda iniciais, ficam próximas a 4.000 kg por hectare.

Considerando área e produtividade, a produção do estado estará entre 7,8 milhões e 8,2 milhões de toneladas, sendo este último número o esperado pela Conab.

Oliveira, da Safras, afirma que as divergências nos estoques de arroz nas mãos de produtores, empresas e cooperativas são ainda mais nebulosas, uma vez que os números são bastante fechados. Safra e estoques remanescentes vão interferir no mercado (Folha, 16/1/25)



Exportação recorde de café faz setor questionar Conab sobre dado de safra

Prato do Futuro: café torrado no Sítio Berelu, em Cerqueira César (SP). Foto Stephanie Rodrigues - g1

País teria produzido 54 milhões de sacas do grão, mas enviado 50 milhões para o exterior.

Após o Brasil fechar 2024 com exportação recorde de 50,443 milhões de sacas de 60 kg de café — não muito distante dos números atuais da safra brasileira estimados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) —, representantes de exportadores avaliaram nesta quarta-feira que os dados oficiais de produção do país devem estar subestimados.

As estimativas governamentais para a safra de café do Brasil, maior produtor e exportador mundial, são historicamente mais baixas do que as apuradas pelo mercado, consultorias e órgãos como o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA).

Mas a exportação de café do país ficar tão próxima da produção brasileira estimada pela Conab, de 54,8 milhões de sacas, se tornou razão de debate para melhorar os números, disseram dirigentes do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), ao serem instados a falar sobre o tema em entrevista coletiva.

O Cecafé considera que o Brasil poderia ter exportado ainda mais em 2024, considerando 1,6 milhão de sacas que ficaram paradas nos portos por gargalos logísticos.

"Uma projeção de produção de 54 e exportação que poderia ter sido 52 (considerando o volume não embarcado), ou realmente vamos chegar à conclusão de que não estamos consumindo absolutamente nada (de café internamente) ou que o número da Conab está completamente errado", disse o diretor técnico do Cecafé, Eduardo Heron.

Ele lembrou que o Brasil é o segundo consumidor mundial de café, com demanda em torno de 20 milhões de sacas por ano.

"Acredito que em 2024 será a grande oportunidade de comparar 54 [sacas] e 52 [sacas]. Ou temos estoque de café escondido embaixo dos colchões dos produtores", acrescentou, em tom de brincadeira

O diretor-geral do Cecafé, Marcos Matos, lembrou que o problema é histórico e citou um caso.

"Fomos chamados pela Conab há alguns anos, eles mostraram uma tabela grande de 2000 a 2020, fazendo um exercício de quanto o Brasil produziu, segundo ela própria, quanto consumiu, segundo a Abic [Associação Brasileira da Indústria de Café], e exportou, segundo o Cecafé. Isso dava uma falta de 103 milhões de sacas. É um problema gravíssimo", disse Matos.

Segundo ele, os equívocos nos levantamentos de safra de café arábica existem, mas acontecem principalmente nos grãos canéforas, cuja produtividade cresceu nos últimos anos

Ele disse que o Cecafé está liderando um processo para um georreferênciamento do parque cafeeiro e admitiu que em algum momento no futuro poderá ajudar a Conab a melhorar seus números.

O presidente do Cecafé, Márcio Ferreira, disse que é preciso evitar fazer "críticas pejorativas" à Conab, mas destacou que "a metodologia (da estatal) pode estar bastante errada, e os números indicam que está".

Ferreira afirmou que tem conversado com integrantes do governo e lideranças do setor produtivo para aprimorar os levantamentos estatais.

"Não podemos admitir que uma Organização Internacional do Café (OIC) tenha como base um número para efeito de estatística, uma estimativa do USDA que conversa muito mais com uma realidade do que obviamente os números da Conab."

Procurada, a Conab afirmou apenas que a estimativa do fechamento da safra 2024 de café do Brasil será divulgada na próxima terça-feira. A estatal costuma fazer quatro levantamentos da colheita brasileira ao longo do ano, e atualiza os números conforme os dados apurados (G1, 15/1/25)