15/05/2023

Floresta em pé, um tesouro – Editorial O Estado de S.Paulo

Floresta em pé, um tesouro – Editorial O Estado de S.Paulo

ESTADÃO AZUL

A preservação da Amazônia é vantajosa inclusive do ponto de vista econômico.

 

Um estudo recém-divulgado pelo Banco Mundial mostra que a sustentabilidade é bem mais que uma boa causa. Afora todos os motivos para o País proteger o meio ambiente, o relatório apresenta estimativas quanto ao valor econômico da conservação da Amazônia Legal. Como noticiou o Estadão, as projeções indicam que a floresta em pé vale até sete vezes mais que os ganhos obtidos com sua exploração econômica, seja na agricultura, na indústria madeireira ou na mineração. Mais um incentivo para que o País reforce os cuidados com a preservação da natureza.

A Amazônia é uma riqueza por si só, e isso fica mais evidente a cada dia no mundo inteiro. Trincheira contra o aquecimento global e verdadeiro tesouro da biodiversidade, sua mera existência tem valor estimado em mais de US$ 317 bilhões por ano − o equivalente a R$ 1,5 trilhão −, segundo o relatório.

O cálculo, como tudo que envolve a Amazônia, considera variáveis de magnitude extrema. Entre elas, a contribuição do ecossistema amazônico para o regime de chuvas na América do Sul, essencial para o êxito da agricultura no subcontinente, e seu papel como sumidouro de carbono, função cada vez mais valiosa na luta para diminuir o ritmo das mudanças climáticas.

Eis a dimensão econômica do patrimônio natural ameaçado pelo desmatamento. O xis da questão, porém, extrapola o diagnóstico desse valor universal e incontestável da maior floresta tropical do planeta. Como bem lembra o estudo do Banco Mundial, a Amazônia Legal tem 28 milhões de habitantes, um território maior que o da União Europeia e níveis alarmantes de pobreza.

Faz-se necessário, então, fomentar o crescimento econômico, elevando o padrão de vida da população ao mesmo tempo que se reforçam os cuidados com o meio ambiente. Daí por que a agenda verde deve conciliar desenvolvimento e preservação. Em outras palavras, encarar o desafio da sustentabilidade, com fórmulas capazes de transformar o trilionário tesouro apontado pelo Banco Mundial em recursos que melhorem as condições de vida das populações locais.

Ao se debruçar sobre o tema, o relatório Equilíbrio delicado para a Amazônia Legal Brasileira − um memorando econômico sinaliza que tamanho esforço exige repensar o modelo de desenvolvimento da região. De um lado, é preciso reforçar a fiscalização e o controle do desmatamento ilegal. Mas corre-se o risco de enxugar gelo, se não forem tomadas medidas estruturais para criar oportunidades e incentivar atividades que não impliquem devastação ambiental.

Ao chamar a atenção para a grandeza econômica da Floresta Amazônica, o Banco Mundial amplia o debate e abre espaço para soluções que primem pela sustentabilidade. O fato de que a floresta em pé tem valor econômico descomunal há de contribuir para a sua preservação − e isso é uma boa notícia. Melhor ainda será o dia em que toda essa riqueza significar mais comida na mesa e melhores condições de vida para toda a população. Sem a derrubada de árvores (O Estado de S.Paulo, 14/5/23)