04/11/2024

Fracasso é importante para o sucesso, diz pesquisadora de Harvard

Fracasso é importante para o sucesso, diz pesquisadora de Harvard

Amy C. Edmonson, autora do livro "O Jeito Certo de Errar". Foto -Evgenia Eliseeva - Divulgação

 

Em livro recém-lançado no Brasil, Amy C. Edmondson mostra como líderes e empreendedores podem fazer do erro uma ferramenta para impulsionar a inovação e o conhecimento.

Errar é inevitável, mas é possível transformar falhas em motor para o desenvolvimento individual e corporativo. Esse é mote de "O Jeito Certo de Errar", livro de Amy C. Edmondson, professora da Harvard Business School e uma das principais referências do mundo em gestão empresarial e liderança.

Vencedor do Prêmio Livro de Negócios do Ano de 2023 do jornal britânico Financial Times, o volume chegou traduzido ao Brasil neste mês pela editora Intrínseca. Na obra, a acadêmica usa seus mais de 25 anos de atuação como pesquisadora em psicologia social e comportamento organizacional para mostrar que erros são ferramentas poderosas quando os encaramos sem medo, discutimos suas causas e incorporamos esse conhecimento nos passos seguintes.

Os ensinamentos que Edmondson compartilha no livro apontam que "falhar bem" não significa ser descuidado —pelo contrário, um erro inteligente é fruto de um bom planejamento.

Na entrevista abaixo, a professora conta como empreendedores podem usar as falhas para gerar inovação e chegar ao sucesso.

Por que a segurança psicológica é importante para que possamos aprender com os erros?
Ela é crucial para que indivíduos —e, mais importante, equipes— aprendam com o fracasso, porque, sem ela, as pessoas relutam em reconhecer seus erros, o que dificulta o aprendizado a partir deles. Em ambientes onde os indivíduos têm medo de serem culpados ou ridicularizados, aprender com o fracasso torna-se quase impossível.

Para empreendedores, isso é especialmente perigoso, pois a inovação exige experimentação —e, com isso, vêm falhas inevitáveis para descobrir o que funciona. Se os membros da equipe podem expressar suas preocupações, compartilhar seus erros e aprender com eles abertamente, a organização está mais bem posicionada para inovar, se adaptar e crescer.

Como os líderes podem criar uma cultura em que os erros são vistos como oportunidades de crescimento?
Os líderes definem o tom. Se um líder responde à falha com culpa ou punição, isso bloqueia o aprendizado. Por outro lado, líderes que reconhecem seus erros e demonstram curiosidade em relação aos fracassos ajudam a criar um ambiente onde os outros se sentem confortáveis em fazer o mesmo.

Os líderes podem criar essa cultura ao normalizar a experimentação, discutir abertamente o que deu errado, sem apontar culpados. O objetivo é aprender, e celebrar as lições aprendidas ajuda a reforçar esse objetivo. Eles também devem encorajar perguntas, recompensar a curiosidade e apoiar uma cultura em que seja seguro desafiar o status quo.

Como as organizações podem medir a eficácia de seus esforços para aprender com as falhas?
Em um departamento de inovação, uma maneira é acompanhar medidas de processo, como quantas novas ideias estão sendo testadas e quantas estão sendo implementadas com sucesso. O engajamento dos funcionários é outra métrica importante. Os membros da equipe estão se manifestando, contribuindo com ideias e compartilhando preocupações sem medo?

Além disso, observe métricas como a velocidade de recuperação após um fracasso. É importante que equipes e organizações se ajustem rapidamente depois de um fracasso.

Empreendedores muitas vezes precisam tomar decisões rápidas com informações incompletas. Como minimizar erros graves sem perder a capacidade de inovar?
O equilíbrio entre velocidade e reflexão é fundamental. Recomendo práticas como o "protótipo rápido": testar versões de baixo risco da sua ideia para obter feedback rapidamente. Isso permite correções mais rápidas, ajudando a evitar falhas graves que poderiam ser prevenidas. Outra prática é criar equipes diversas, nas quais diferentes perspectivas possam revelar possíveis pontos cegos, ajudando a mitigar riscos. Por fim, cultive uma mentalidade em que as decisões são vistas como oportunidades de aprendizado e de integração de diferentes pontos de vista.

Quais práticas empresas menores podem adotar para criar um ambiente seguro para falhas controladas?
Falhas inteligentes são aquelas que resultam de riscos calculados. São o tipo de falhas que não colocam em risco a segurança humana, não prejudicam a reputação da empresa e não são excessivamente onerosas. Empresas menores devem gerenciar o risco dessa forma, pois não podem se dar ao luxo de ter grandes falhas.

A melhor abordagem é criar experimentos de baixo risco que permitam que as equipes testem ideias sem consequências catastróficas. Comece com hipóteses claras e metas mensuráveis para cada iniciativa para que, quando as falhas ocorrerem, elas sejam pequenas e você saiba o que deu errado e por quê.

Empresas menores geralmente têm maior segurança psicológica e podem reforçar isso garantindo que cada falha seja discutida abertamente, com ênfase no aprendizado em vez da culpa.

uais são os principais desafios na mudança de mentalidade em relação a erros?
Um dos maiores desafios é superar o medo profundamente enraizado do fracasso. Culturas empresariais tradicionais muitas vezes veem o fracasso como um sinal de incompetência, e mudar essa mentalidade requer transformações culturais profundas. Quando as pessoas hesitam em admitir erros porque temem repercussões em suas carreiras, suas equipes e organizações correm o risco de sofrer falhas evitáveis. Em contraste, quando as pessoas se manifestam, muitas falhas básicas e complexas podem ser evitadas.

Quais tendências prevê para o futuro da inovação e da liderança em um mundo onde as falhas são vistas de maneira diferente?
A falha deve ser entendida como uma parte esperada do processo de inovação. Isso não só leva a mais inovação, mas à adoção de métodos de trabalho mais ágeis, em que renovações rápidas são preferidas em relação a projetos rigidamente gerenciados e prescritos, que não deixam espaço para correções de curso. Os líderes precisam construir culturas de resiliência e adaptabilidade, nas quais o fracasso é visto como componente do sucesso.

Como criar uma cultura de falhas inteligentes

Veja dicas da pesquisadora Amy C. Edmondson no livro "O Jeito Certo de Errar"

  • Ambiente seguro

Permita que as pessoas admitam seus erros e reflitam sobre eles sem medo de retaliações.

  • Planejamento

Quando são resultados de tentativas bem planejadas, as falhas podem ensinar novos rumos para atingir o sucesso. Calcule os riscos envolvidos.

  • Experimentação

Fazer testes menores e privados pode ser uma estratégia para minimizar o custo das falhas. É como experimentar uma roupa no provador e só usá-la se o visual agradar.

  • Atenção às evidências

Se ficar claro que o empreendimento não funciona, encerre ou busque ajuste rápido para a recuperação.

  • Reflexão

Desenvolva a habilidade de pensar sobre os erros para encontrar soluções de maneira mais rápida.

“O Jeito Certo de Errar"

  • Preço R$ 69,90 (livro físico); R$ 46,90 (ebook)
  • Autoria Amy C. Edmondson
  • Editora Intrínseca
  • Tradução Paula Diniz
  • Páginas 352

Raio-X

Amy C. Edmondson
Professora da Harvard Business School, pesquisa segurança psicológica e trabalho em equipe há mais de 20 anos; é autora dos livros "A Organização Sem Medo" (2020) e "O Jeito Certo de Errar" (2024) (Folha, 2/11/24)