Genética eleva patamar do trigo no país
Plantação de trigo em Arapongas (PR) - Rodolfo Buhrer - 6.jul.22 Reuters
Safra deste ano deverá repetir o bom desempenho de 2022.
As condições atuais do desenvolvimento da cultura de trigo são boas, e o Brasil deverá voltar a obter uma safra próxima à do recorde de 2022.
Clima e preços neste ano não são tão atrativos como os de 2022, mas o país está atingindo um novo patamar. Profissionalismo, planejamento e gestão já fazem parte do perfil dos produtores, o que tem permitido um novo cenário a essa cultura.
A avaliação é de Alencar Rugeri, assistente técnico em culturas da Emarte/RS. O plantio de trigo no Rio Grande do Sul está praticamente finalizado, mas as condições deste ano poderão não ser tão excepcionais como as do ano passado.
Mesmo assim, com base em uma área estimada em 1,5 milhão de hectares, a produção do estado deverá ficar em 4,5 milhões de toneladas, abaixo dos 5,1 milhões de 2022. A estimativa de produção é feita com base na produtividade média dos últimos dez anos.
O Paraná semeou 1,4 milhão de hectares, com aumento de 13%, em relação a 2022. Com uma recuperação da produtividade, os paranaenses têm potencial para produzir 4,6 milhões de toneladas, conforme dados do Deral (Departamento de Economia Rural).
Tomando-se como base as estimativas da Emater e do Deral, os dois estados do Sul atingirão 9,1 milhões de toneladas, acima dos 8,6 milhões da safra anterior, quando o Paraná teve uma baixa produtividade por hectare.
PUBLICIDADE
A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) acredita que a produção dos dois estados ficará em 8,7 milhões de toneladas, enquanto a consultoria Stonex prevê 9,8 milhões. Os dois estados respondem por 85% da safra nacional de trigo.
A produção total do país sobe para 11,5 milhões de toneladas neste ano, nas contas da Stonex. Já a Conab prevê 10,4 milhões, um pouco abaixo do volume de 2022.
Os produtores, que praticamente tinham abandonado a cultura do trigo no início da década dos anos 1990, quando a área plantada foi reduzida a apenas 1 milhão de hectares, estão retomando o caminho da produção por meio da genética. A região Sul continua sendo o principal polo de produção, mas outras regiões do país também avançam em área destinada ao cereal.
Genética, adubação e manejo melhoram a cultura em áreas tradicionais de cultivo e abrem espaço em outras. Essa regionalização da cultura é importante porque facilita o mercado de trigo, afirma Manoel Bassoi, pesquisador e melhorista de trigo da Embrapa Soja.
A Embrapa, em parceria com outras empresas, apresenta novas cultivares de trigo e de triticale nesta sexta-feira (4), no Dia de Campo de Inverno. A BRS Tambaqui, uma cultivar de triticale, é a primeira do mercado com resistência à germinação na espiga.
Essa resistência reduz as perdas, aumenta a produtividade e amplia a rentabilidade dos produtores, afirma Bassoi.
Com ciclo precoce, uma das principais aplicações da cultivar é a mistura na farinha de trigo para fabricação de biscoitos, pães caseiros e pizzas. O triticale pode ser utilizado, ainda, na alimentação animal e na produção de etanol.
Segundo a Embrapa, a cultivar Tambaqui é indicada para os diferentes sistemas de produção de inverno no centro-sul, como São Paulo, Paraná e Santa Catarina.
O avanço da produção de trigo no país tem diminuído a dependência externa e permitido uma alta nas exportações do cereal.
No primeiro semestre, o Brasil importou 2,07 milhões de toneladas de trigo, o menor volume no período desde 1997. As exportações atingiram 2,05 milhões (Folha, 4/8/23)