Geração de novas renováveis salta quase 10% no Brasil em 2025
ENERGIA SOLAR E EÓLICA FREEPIK
Capacidade instalada de solar e eólica vai crescer em 10 gigawatts, mas fontes afetam estabilidade da geração e podem levar ao oposto do desejável: mais uso de térmicas.
Mais 10 GW (gigawatts) de capacidade de geração de energia por fontes renováveis serão acrescentados à matriz do Brasil neste ano, segundo projeções contidas no relatório da Thymos, consultoria especializada em gestão de energia. O número representa uma alta de 9,8% sobre a capacidade instalada atual de energias renováveis exceto hidrelétricas.
Se por um lado é uma sinalização positiva de que o Brasil avança na transição energética, por outro indica que cresce o desafio para a gestão do sistema elétrico nacional e, paradoxalmente, a demanda por térmicas.
A hidrelétrica ainda é a principal fonte de energia do Brasil, respondendo por 45% da capacidade instalada, mostra o mesmo levantamento. Mas o avanço das renováveis é sustentado por fontes intermitentes, que oscilam ao longo do dia, explica a engenheira Mayra Guimarães, diretora de regulação e estudos de mercado da Thymos Energia.
No ano passado, o sistema nacional ganhou mais 5,5 GW de solar, 4,2 GW de eólicas e apenas 56 MW de novas hidrelétricas. "Biomassa e PCH [Pequenas Centrais Hidrelétricas], embora continuem expandindo, são valores bem pequenos no total", afirma ela.
O aumento de intermitência se tornou um problema. Eólicas dependem de vento. A energia solar reduz a oferta em dias nublados e não opera à noite. Assim, especialmente no segundo semestre, quando a estiagem reduz a água nas usinas hidrelétricas e a geração dessa fonte cai, o ONS (Operador Nacional do Sistema) passou a cortar as renováveis e a determinar a entrada de térmicas ao pôr do sol para manter a geração consistente e contínua.
A prática, conhecida no setor pelo termo em inglês "curtailment", avançou em 2024. Segundo a Thymos, foram cortados 12,7 mil GWh (gigawatts-hora) de renováveis, sendo 74% de eólicas. Ou seja, quanto maior a oferta de renováveis intermitentes, mais abundante será a energia limpa ao longo dia. Mas faltará geração no início da noite, o que obrigará o uso de alternativas.
Segundo Guimarães, a tendência é que montante similar seja cortado neste ano.
"Eu brinco que a operação do sistema é mágica, porque você precisa manter tudo muito estável, principalmente em termos de frequência e tensão, e isso só é possível com hidrelétrica e térmica", explica.
"Enquanto o painel fotovoltaico não funcionar com luz da Lua nem inventarem uma superbateria, quando faltar hidrelétrica, vamos ter de recorrer a térmica."
O relatório também mostra que usinas de geração distribuída fecharam o ano passado com mais de 35 GW de potência acumulada em operação —e o ONS não tem controle sobre esse tipo de geração. Nessa modalidade, o próprio consumidor residencial ou empresarial produz sua energia e pode vender o excedente para o sistema.
Para evitar que ocorram até apagões no período mais crítico do dia nos meses secos, já foi marcado um leilão de potência, especificamente para contratar térmicas a gás e de biomassa, e expansão da capacidade de hidrelétricas.
"Esse problema não é só nosso, e ocorre em todos os países que tem muita renovável, especialmente solar", afirma Guimarães
"O desafio é você conseguir complementar essa geração renovável da melhor forma possível, equilibrando custo e emissão, selecionando o tipo de térmica que você precisa —e a gente precisa de térmica que não polui muito, com novas tecnologias para uso de gás natural e que possa ligar e desligar rapidamente."
O balanço anual da Thymos mostra ainda que 2024 foi ano de pressão sobre o preço da energia.
O reajuste das tarifas, impactado especialmente por subsídios, ficou na casa de 5,9%. A nova gestão do sistema, com a exigência de térmicas para compensar a saída da energia solar, também ajudou a pressionar o PLD (Preço da Liquidação das Diferenças), que baliza o mercado à vista.
Apesar de ficar no piso boa parte do ano, o PLD subiu no último quadrimestre e encerrou 2024 com o valor médio de R$ 126 pelo MWh (megawatt-hora), o maior patamar em relação aos 2 anos anteriores