05/08/2022

Governador de MT sanciona lei que altera proteção do Pantanal

Governador de MT sanciona lei que altera proteção do Pantanal
Criação de gado no Pantanal (Foto ReproduçãoTVCA)

Novas normas permitem pecuária extensiva em áreas de preservação permanente e fragilizam bioma, segundo entidades socioambientais.

O governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (União Brasil), sancionou uma lei (11.861/2022) que flexibiliza a atividade agropecuária no Pantanal mato-grossense. As novas normas, agora em vigor, alteram a lei 8.830/2008 —conhecida como Lei do Pantanal— e vêm sendo contestadas por dezenas de entidades socioambientais, que afirmam que as mudanças fragilizam o bioma.

A sanção governamental, sem vetos ao texto que chegou da Assembleia Legislativa, foi publicada no Diário Oficial do estado nesta quinta-feira (4).

Entre as principais mudanças estão a permissão para pecuária extensiva em áreas de preservação permanente e a implantação de pastagens cultivadas em até 40% da área de propriedades na planície inundável.

Em nota publicada após a sanção governamental, Herman Oliveira, secretário-executivo do Formad (Fórum Mato-grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento), afirma que as alterações são um retrocesso e ampliam a "degradação socioambiental de um bioma já fragilizado".

Após a aprovação do projeto de lei na Assembleia, o Formad, que é formado por diversas entidades, já havia soltado uma nota de repúdio sobre a mudança na Lei do Pantanal.

Segundo o fórum, as alterações implementadas representam "a autorização legal da degradação do bioma": "[...] é uma afronta ao Código Florestal brasileiro, e trará prejuízos à qualidade da água, às espécies animais e vegetais, ao equilíbrio ecológico e aos povos tradicionais e indígena da maior planície alagável do mundo, o Pantanal, já ameaçado por uma crescente perda de sua superfície de água".

Dados do MapBiomas Água apontam que o Pantanal perdeu 74% de sua superfície de água desde 1985.

Antes da aprovação do projeto na Assembleia, também em nota, Edilene Fernandes do Amaral, consultora jurídica e de articulação do Observa-MT (Observatório Socioambiental de Mato Grosso, entidade que acompanha atividade legislativa), afirmava que as alterações poderiam "impactar significativamente o bioma, reduzindo áreas protegidas".

Nos últimos anos, o Pantanal também tem sofrido com as queimadas. Em 2020, ano em que todo o bioma sofreu com as chamas, mais de 40% do Pantanal mato-grossense queimou. Além das perdas de fauna, flora e de prejuízos para proprietários rurais, a fumaça dos incêndios ameaça a saúde da população.

As entidades socioambientais também vêm criticando como foi conduzido o processo legislativo para a alteração da Lei do Pantanal.

No mês passado, o Formad disse, em nota, ser "lamentável que a mesma pressa com que os deputados colocaram esta pauta para deliberação e votação, em pouco mais de um mês, não seja vista em outras demandas de interesse da sociedade".

Organizações, entre as quais a Formad e o Observa-MT, também afirmam que não foram consideradas recomendações técnicas feitas pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e não ter havido consultas públicas e a populações afetadas.

"[...] o processo do PL 561/2022 foi caracterizado por vícios de tramitação, ausência de debate social e de dados sobre a biodiversidade do bioma", diz carta assinada por entidades socioambientais (Folha de S.Paulo, 5/8/22)