09/07/2020

Governo deve pedir a empresários recursos para preservar Amazônia

Hamilton Mourão

Legenda: Floresta não está pegando fogo, disse Mourão. Foto: Dida Sampaio/Estadão

 

Pressionado, Executivo deve admitir que pode e quer melhorar suas ações, mas quer que as críticas virem dinheiro.

Pressionado por investidores internacionais e empresários brasileiros a apresentar ações efetiva contra o desmatamento, o governo Jair Bolsonaro tentará em reuniões hoje e amanhã, com empresários, rebater as cobranças, propondo que a iniciativa privada invista financeiramente na preservação ambiental. Em outras palavras, o governo vai admitir que pode e quer melhorar suas ações, mas vai sugerir que as críticas sejam trocadas por verba para cuidar de áreas protegidas. Os nomes dos empresários não foram divulgados.

No dia 23 de junho, um grupo formado por quase 30 fundos de investimento com US$ 3,7 trilhões exigiu que o Brasil freie o crescente desmatamento no País. Na terça-feira, dia 7, foi a vez de cerca de 40 empresários brasileiros enviaram carta ao vice-presidente Hamilton Mourão, que comanda o Conselho Nacional da Amazônia Legal, dizendo estar preocupado com a repercussão da imagem negativa do País no exterior.

Ao Estadão, o vice-presidente Hamilton Mourão disse que “a floresta não está pegando fogo” e que “os pontos de fogo que existem são de locais que foram desmatados, de desmatamento antigo”, principalmente nas áreas de cerrado. Perguntado sobre o decreto que vai “proibir” as queimadas na Amazônia por 120 dias, conforme antecipou o jornal Valor Econômico, Mourão disse apenas que “será nos mesmos moldes feitos no ano passado, com emprego das Forças Armadas", sem dar mais detalhes.

O vice-presidente, que lidera o Conselho da Amazônia, também afirmou que “não sabe” se os investidores estrangeiros vão querer dar dinheiro para financiar as ações da região. O Ministério do Meio Ambiente pretende expor opções para isso.

O projeto “Adote Um Parque”, que está sendo elaborado pelo MMA, propõe que cada empresa ou pessoa física possa ajudar a manter cada uma das 132 unidades de conservação federais na Amazônia. O valor de uma “adoção” foi fixado em 10 euros por hectare. Em troca, pelos termos ainda em discussão, o patrocinador usa a iniciativa como marketing, mas não pode explorar a área. Pelo projeto, o recurso seria aplicado em ações de fiscalização, brigada de incêndio, entre outros.

Encontro

O tema será proposto primeiro para investidores estrangeiros na manhã de hoje, a partir das 10 horas. E na sexta-feira, deverá ser apresentada por Mourão na reunião com empresários brasileiros. Previsto, o encontro ainda não foi confirmado oficialmente.

Em videoconferência com o grupo internacional, integrantes do governo vão se dividir para reforçar o discurso de que possuem o compromisso da preservação ambiental em diferentes esferas. Após apresentações feitas pelos Ministérios do Meio Ambiente e da Agricultura, os empresários poderão fazer perguntas. A lista de participantes não foi divulgada pelo governo, mas participa parte de representantes dos fundos de investimento que enviaram a cara.

De acordo com um integrante do governo, o vice-presidente Hamilton Mourão será responsável por falar do decreto assinado pelo presidente Jair Bolsonaro em maio deste ano que autorizou a presença das Forças Armadas na Garantia de Lei e da Ordem (GLO) no combate ao desmatamento ilegal e a focos de incêndio na Amazônia Legal (O Estado de S.Paulo, 9/7/20)


Governo chama empresários para tentar explicar ações contra desmatamento

Áreas desmatadas para formar pasto escondidas por uma franja de floresta, para não serem vistas da estrada, no assentamento do Juma, município de Apuí, sul do Amazonas.

Legenda: Áreas desmatadas para formar pasto escondidas por uma franja de floresta, para não serem vistas da estrada, no assentamento do Juma, município de Apuí, sul do Amazonas. Foto: Lourival Sant'Anna/Estadão

 

De acordo com um integrante do governo, Mourão falará do decreto que autorizou a presença das Forças Armadas no combate ao desmatamento ilegal e a focos de incêndio na Amazônia Legal.

Pressionado por empresários brasileiros e estrangeiros para que tome alguma atitude concreta e apresente resultados contra o desmatamento na Amazônia, o governo vai se reunir com investidores na manhã desta quinta-feira, 9, a partir das 10 horas, para tentar convencê-los de que tem atuado para reduzir a queda da floresta e que tem compromisso com a preservação ambiental.

 

Uma série de assuntos foi dividida entre ministros e o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, para que passem pelos principais temas ligados à preservação do meio ambiente. Após as exposições que serão feitas pelos ministérios do Meio Ambiente e da Agricultura, os investidores poderão fazer perguntas.

De acordo com um integrante do governo, o vice-presidente Hamilton Mourão, que comanda o Conselho da Amazônia, será responsável por falar do decreto assinado pelo presidente Jair Bolsonaro em maio deste ano que autorizou a presença das Forças Armadas na Garantia de Lei e da Ordem (GLO) no combate ao desmatamento ilegal e a focos de incêndio na Amazônia Legal. A ação está permeada de situações polêmicas, com dados inflados de ações anteriores, paralisação de operações em campo e engessamento de recursos, como revelou o Estadão.

Mourão também falará sobre as questões indígenas, outro tema envolto em decisões que têm sido profundamente questionadas no setor. Nesta quarta-feira, 8, Bolsonaro vetou a obrigações do Poder Público com esses povos durante a pandemia, como garantia do acesso universal a água potável, distribuição gratuitamente materiais de higiene, de limpeza e de desinfecção das aldeias, e disponibilidade de leitos hospitalares e de unidade de terapia intensiva (UTI) e máquinas de oxigenação sanguínea.

Na semana passada, o vice-presidente recebeu Dário Kopenawa Yanomami para falar sobre a violência de garimpeiros contra povos indígenas na Terra Yanomami. Após o encontro, no entanto, Dário afirmou que Mourão afirmou que vai resolver o problema, mas "não explicou direito como vai resolver".

No encontro da quinta com investidores, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, deve falar sobre a importância da regularização fundiária para a preservação do bioma Amazônia, após o governo ter sido derrotado no Congresso, ao ver a MP da regularização fundiária, também conhecida como a MP da Grilagem, caducar por causa de falta de consenso entre os parlamentares.

No último final de semana, em entrevista ao EstadãoTereza Cristina defendeu que o assunto é "prioridade no ministério". "Se você não souber quem é o dono, quem vai multar e fiscalizar? É preciso ter como responsabilizar. Hoje essa pessoa é excluída, está na informalidade total. O desmatamento é preocupante, mas também me preocupa muito a pobreza", afirmou a ministra.

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, vai falar sobre a relação da sua pasta com a economia, como o programa de pagamento por serviços ambientais na Amazônia e o programa chamado "Adote um Parque", que busca patrocinadores para conservação de áreas.

Salles está pressionado dentro do governo, não agrada a ala militar do Palácio do Planalto e enfrenta seu período de maior desgaste no MMA, após ter tomado decisões polêmicas, como as que paralisaram os repasses novos do Fundo Amazônia, programa de preservação mantido com recursos da Noruega e Alemanha.

Na manhã desta quarta-feira, um dos ministros da ala militar, Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), afirmou que a imprensa tem imputado a ele uma "sórdida campanha" contra o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. "Parte da imprensa fica maldosamente e de forma vil , imputando a mim uma sórdida campanha contra nosso Min Ricardo Salles !! Quero reafirmar meu total apoio e apreço ao competente e dedicado Min do Meio Ambiente, que corajosamente vem enfrentando os ideólogos esquerdistas !!!", escreveu, em sua conta no Twitter (O Estado de S.Paulo, 9/7/20)