28/01/2025

Governo faz política de preço de alimentos olhando pelo retrovisor

Governo faz política de preço de alimentos olhando pelo retrovisor

Comida acumula 73% de alta desde 2019, mas já começa a cair.

 

O governo está olhando apenas pelo retrovisor na questão dos alimentos e começa a tumultuar o mercado com "intervenções", que se tornaram "medidas" e, agora, redução de tarifas de importação.

 

Os alimentos realmente estão caros para os consumidores, mas por um processo de alta acumulada nos últimos anos, devido a quebra de safras, questões geopolíticas e estoques mundiais baixos.

 

Nos últimos seis anos, a alimentação subiu 73%, enquanto a inflação geral ficou em 40%. No governo de Jair Bolsonaro (PL), foram 57% de aumento. Nos dois primeiros anos do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), 10%.

 

Os estoques mundiais de alimentos já se recompuseram, restando poucos produtos com oferta reduzida.

 

Neste início de ano, enquanto o governo discute medidas para combater a inflação dos alimentos, arroz, feijão, leite, açúcar, carne bovina, carne suína e derivados de carnes estão com deflação. É o que mostram os dados desta segunda-feira (27) da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).

 

Antes de tomar medidas esdrúxulas, como ocorreu com a tentativa de leilão internacional de arroz em 2024, é preciso avaliar corretamente o cenário. Um cuidado maior com as contas fiscais e uma redução da volúpia de deputados e senadores por emendas secretas talvez provoquem um efeito mais certeiro.

 

A presença brasileira é tão grande no mercado externo que seus produtos ajudam a formar os preços internacionais, mas esses também são refletidos no mercado interno.

 

E aí a cotação do dólar é importante nessa conta. Quando a depreciação do real é forte, torna o produto brasileiro mais competitivo no mercado externo e traz mais receitas para o produtor.

 

O peso do dólar elevado, no entanto, traz para dentro do país mais custos na produção e nas importações. Nesse jogo, perdem os pequenos produtores e a agricultura familiar, que têm os custos do dólar elevado nos insumos, mas não se beneficiam de exportações.

 

A taxa de juro, trazida pelo desarranjo fiscal, é mais um componente nos custos de produção e no aumento de preços. O Brasil está tão inserido no mercado externo que lidera as exportações mundiais de uma dezena de produtos do agronegócio.

 

Os vilões da inflação dos últimos seis anos já apontam taxas menores. O óleo de soja acumula elevação de 182% de 2019 até o final de 2024. O excesso de 41 milhões de toneladas de soja na produção mundial dos últimos três anos, em relação ao consumo, faz o óleo iniciar 2025 com alta de apenas 0,5%.

 

Segundo colocado nesse ranking, o café sobe menos, após acumular 148% desde 2019. A pressão, porém, vai continuar porque os estoques mundiais estão baixos.

 

A terceira maior alta do período foi a do acém, que ficou 127% mais caro. A produção mundial de carne bovina cai para 61 milhões de toneladas neste ano, abaixo dos 61,3 milhões de 2024, mas o consumo também será menor, segundo o Usda (Departamento de Agricultura dos EUA).

 

A produção mundial de arroz se mantém, mas supera em 12 milhões de toneladas a de 2020/21, melhorando os estoques mundiais. Com o dólar em alta, porém, o Brasil deverá gastar mais com trigo.

Se o governo realmente quer elevar a oferta de alimentos básicos, deveria ajustar a cadeia de produção e de distribuição de pequenos produtores, que, sem escala, pagam para produzir (Folha, 28/1/25)